sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Paraquedistas na Normandia

Paraquedistas na Normandia

Por James Maurice Gavin

Para preceder a maior força de invasão anfíbia da História, objetivando a conquista de importantes objetivos na Normandia, mais especificamente na Península de Contentin, realizou-se uma das maiores operações de assalto aerotransportado da História.
 Dividir-se-a o artigo em duas partes, para fazer justiça tantos aos feitos dos pára-quedistas americanos e britânicos. Começamos com o assalto americano. Durante o planejamento do Dia D, constatou-se que a frente logo após a praia Utah era péssima para a logística e um ataque, pois havia um bosque cerrado, inundações e poucas vias de saída são obstáculos que deveriam estar contornados quando da chegada do ataque anfíbio. Assim, surge uma grande operação de transporte – 2 divisões, 13.200 pára-quedistas, 822 aviões e 900 planadores – cujo objetivo é contornar essa grande dificuldade.

A 101ª Divisão Aerotransportada (101st Airborne), comandada pelo General Maxwell Taylor, tem a missão de conquistar e controlar as saídas de Utah Beach, de modo que a 4ª Divisão de Infantaria não ficasse bloqueada em lugares aonde um pelotão e algumas armas são suficientes para bloquear uma divisão. A 82ª Divisão Aerotransportada (82nd Airborne), mais experiente, recebe tarefa mais complexa: dominar o planalto de Sainte-Mère-Église e além disso, conquistar cabeças-de-ponte no Douve e no Merderet.
 As zonas de pouso são dois ovais de 1600 metros de comprimento por 460 metros de largura. Para garantir que as divisões saltem no lugar certo, “Pathfinders” (Precursores), esquadrões de pára-quedistas são enviados antes. Agora, tentarei fazer um relato do que ocorreu com as divisões hora por hora, ou, ao menos, nas primeiras seis horas de ação. Por volta de meia-noite, 0h10 saltam os Precursores da 82ª Aerotransportada, sendo logo seguidos pelos Precursores da 101ª Aerotransportada que saltam às 0h15.
O céu está meio nublado, a terra coberta de bruma. A 0h50 min, a leste de Monteburg, o tenente-coronel Hoffmann, comandante de um regimento da 709ª Divisão de Infantaria Alemã, vê, por meio de um raio de luar, corolas chegando ao solo. Seus soldados atiram, sendo respondidos pelo fogo de uma submetralhadora americana.

Por volta de 1h45, temos a primeira notificação alemã do salto americano: em um comunicado da 709ª Infantaria Alemã – “Pára-quedistas inimigos ao sul do Saint-German-du-Varreville e perto de Sainte Marie-du-Mont. Segundo grupo a oeste da grande estrada Carentan-Valognes, dos dois lados do Merderet.” Nesse momento, os alemães conseguem capturar alguns pára-quedistas.
 Capturam homens do 501º e o 506º Regimentos de Infantaria Pára-quedista (501st, 506th Parachute Infantry Regiments), da 101ª Aerotransportada, e homens do 505th Regimento de Infantaria Pára-quedista (505th Parachute Infantry Regiment), da 82ª Aerotransportada.
 O fato de tantos pára-quedistas caírem prisioneiros ou serem mortos é nada mais que um resultado dos erros na operação de transporte. Muitos dos pilotos eram novatos, e rapidamente se assustaram com os céus enovados e a densa barragem de fogo antiaéreo, de modo que a formação de aviões se dispersou, fazendo muitos pára-quedistas saltarem na zona errada de salto, jogando vários pára-quedistas nos pântanos do Merderet, aonde vários morreram, devido ao grande peso que carregavam. Ainda houveram os pára-quedistas que acabaram sendo lançados no Canal da Mancha, infelizmente.

Muitos pára-quedistas americanos sofreram, pois saltaram com um peso entre 70 e 130 quilos, sendo que boa parte desse peso perdeu-se na hora dos saltos, já que os pilotos aceleravam os aviões e subiam para escapar do fogo antiaéreo. O Brigadeiro-General James Gavin, subcomandante da 82ª Aerotransportada, registra em seu livro “On To Berlin” (“Até Berlim”, tradução da Bibliex, 1978) que todos os pára-quedistas que ele reuniu perderam boa parte de seu equipamento devido a velocidade que os aviões estavam na hora do salto.
Ele próprio relata a perda de quase toda a sua bagagem e diz que a velocidade do avião era tanta que teve seu relógio arrancado do pulso. Desta forma, a dispersão produzida foi tal que apenas 2.500 dos 13.200 homens que saltaram conseguem se reagrupar antes da aurora, e conseguir desempenhar as missões. Mas eles estavam determinados, e a dispersão e lançamento de bonecos imitando pára-quedistas teve um efeito positivo – os alemães pensavam estar enfrentando uma força muito maior de pára-quedistas do que realmente enfrentavam.

De qualquer modo, o 3º Batalhão do 505º Pára-quedista conseguiu tomar Sainte-Mère-Église, em uma rápida batalha, fazendo uso apenas de granadas e facas, tomou a cidade rapidamente, supreendendo os alemães, que lançaram diversos contra-ataques com tanques e volumoso efetivo ao longo do dia, sendo repelidos pelo 2º e 3º Batalhões do 505º Pára-quedista, com pouco efetivo e armas, mas com um moral altíssimo.
 Ainda devemos destacar que os homens da 82ª, ao tomar um pequeno castelo em Picauville, acabar por encontrar com o comandante de umas das principais divisões alemães no Cotentin, General Wilhelm Falley da 91ª Divisão Fallschirmjäger, que defende o centro do Cotentin, acaba sendo morto em uma escaramuça com os pára-quedistas, sendo assim que a 91ª Fallschirmjäger perde sua cabeça no início do combate.
 A tomada de Sainte-Mère-Église faz com que o alerta atinja todo o alto comando alemão, até que Jodl desperta Hitler, que diz que as descidas de pára-quedistas são apenas uma distração, e que o verdadeiro desembarque não se desenvolveu ali, e voltar a dormir.

 No setor da 101ª Aerotransportada, o 502º Regimento de Infantaria Pára-quedista consegue dominar as saídas de Utah Beach, mas o resto da divisão não consegue fazer muita coisa, pois perdem mais de 60% de seu material pesado e equipamentos, além de que a dispersão do efetivo é ainda mais cruel do que mostrado na 82ª Aerotransportada, de modo que o 501º e o 506º Regimentos sofrem para poder cumprir suas missões, de modo que elementos do 506ª atacavam posições alemãs em Saint-Côme-du-Mont e Le Port, nas proximidades de Carentan, enquanto o 1º e 2º Batalhões do 506º junto com o 3º Batalhão do 501º dominavam posições em Sainte Marie-du-Monte, Vierville e Hiesville, aonde estava o comando e o comandante da divisão, o Major-General Maxwell Taylor. Por um lado, a dispersão dos soldados dos 101ª Aerotransportada, acaba por desorganizar toda a defesa costeira alemã naquela área, que julga estar com cinco divisões aerotransportadas na sua retaguarda!
 Para a rápida reunião, todos os pára-quedistas americanos receberam matracas, que emitem sons parecidos com o canto das cigarras, gerando um estranho concerto na noite normanda. Mas seus gritos são abafados pela espessura dos bosques e sebes. Já a 6ª Divisão Aerotransportada Britânica (6th British Airborne Division) tem mais sorte.
Ela é a primeira divisão aerotransportada a chegar a Normandia, sendo que o 2º Oxfordshire and Buckinghamshire Light Infantry aterram planadores e dominam a ponte de Bénouville e a ponte de Ranville, e em menos de 15 minutos, as pontes estão nas mãos dos pára-quedistas britânicos.

Por volta da uma hora da manhã, começa a descer a divisão inteira, numa vaga de lançamentos que irá durar até quase as 4 horas da manhã. A 1h11 min, o quartel-general do 84º Corpo alemão, em Saint-Lô, que também receberia notificações sobre os assaltos americanos, recebe informações sobre a chegada dos britânicos, feitas pela 716ª Divisão de Infantaria Alemã: “Pára-quedistas a leste das embocaduras do Orne, região Ranville-Bénouville e orla norte da floresta de Bavent.” 
 Ponte Pégasus em poder dos aliados Várias missões são concluídas pela 6ª Aerotransportada Britânica. A cabeça-de-ponte de Ranville é consolidada, as pontes de Dives e Troarn são destruídas, esta sendo destruída quase que unicamente pelo Major Roseveare, na retaguarda de sua tropa. A bateria de Merville é tomada pelo 9º Batalhão de Pára-quedistas (9th Airborne Infantry Battalion) às 3h45 min, quando o Tenente-Coronel Ottway solta o pombo-correio avisando que a bateria havia sido tomada. 
A surpresa é que a bateria não possui os temidos 150mm que os pára-quedistas esperavam destruir, apenas canhões 75mm. O comandante da divisão, o Major-General Howard Gale chega por volta de 3h30 min da manhã, junto com o material pesado da divisão. Sua divisão toma o Orne, gerando confusão entre este e o Vire, capturando soldados da 716ª Infantaria Alemã e da 21ª Divisão Panzer. 

São poucas as baixas, mas o problema é também a dispersão, não tão pesada quanto a sofrida pelas divisões aerotransportadas americanas. A situação é grave para os alemães, que dependem das pontes tomadas para fazerem seus contra-ataques, e atacam duramente os pára-quedistas britânicos, de modo que estes impõem uma fanática e desesperada defesa, conseguindo suplantar todos os ataques alemães na tentativa de recapturar as pontes, gerando uma épica batalha na ponte do Canal de Caen, em Ranville, aonde a companhia D do 2º Oxfordshire and Buckinghamshire Light Infantry resiste heroicamente a todos os ataques alemães com apenas um punhado de homens, e são reforçados no fim da manhã pela chegada das forças da 1ª Brigada de Commandos, comandada pelo General Simon Fraser, Lorde Lovat. 
 No final do Dia D, a 6ª Aerotransportada tinha conseguido cumprir seus objetivos e reagrupar os efetivos dispersos. No geral, os pára-quedistas aliados foram prejudicados pela grande dispersão de seus efetivos, que impediu que parte dos objetivos fossem realizados, embora isso tenha feito os alemães julgarem erroneamente o efetivo de pára-quedistas que saltaram na madrugada de 6 de junho de 1944. 
As três divisões aerotransportadas citadas neste artigo ainda ficariam por mais de um mês em ação na Normandia, conseguido importantes vitórias e feitos, contribuindo para a causa aliada, na nova marcha que se iniciava – a marcha rumo à Berlim.
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