terça-feira, 8 de janeiro de 2013

OS FOGUETES DA MORTE


1 E V2 - OS FOGUETES DA MORTE

“Eu tenho uma primeira impressão de meu pai me erguendo, para me proporcionar um vislumbre de um anjo negro rosnaste que cruzava como uma cauda de fogo o enluarado céu de Londres. Era uma V1- uma bomba voadora a jato sem piloto de longo alcance, o que hoje chamaríamos missel de cruzeiro. Era inicio do verão de 1944, quando os foguetes V1, conhecidos pelos londrinos com varas mágicas, caíram pela primeira vez sobre a capital, rasgando prédios e estilhaçando janelas por centenas de metros a sua volta. Emitia um ruído horrendo, mais ou menos como o potente e defeituoso motor de uma motocicleta com o cano de descarga quebrado e precisando de limpeza; quando o motor parava, as pessoas se preparavam para a explosão, que ocorria cerca de 12 segundos depois. Mais tarde vieram as V2, mísseis balísticos, mais perigosos, porque atravessavam em silencio a estratosfera, trazendo uma ogiva maior. Era possível ouvir o chiado e o trovão da sua supersônica entrada na atmosfera após a explosão no solo.”

John Cornwell


MISSEIS

Em termos de tecnologia avançada e puro esforço e empenho de recursos, o lance de Hitler para construir um arsenal de mísseis ofensivos constituiu a mais ousada tentativa de aplicar a grande ciência de alta tecnologia aos armamentos da segunda guerra mundial. A instalação para desenvolvimento de foguetes em Peenemunde (incluindo oficinas, laboratórios, plataformas de lançamento, escritórios de administração e fabricas) começou cedo em 1936, projetados e construídos por equipes de construção da Luftwaffe, num desempenho neoclássico, favorecido pelos nazistas. Numa arrogante competição entre os dois serviços, a luftwaffe e o exercito disputavam um com o outro para despejar fundos no empreendimento e em programas de pesquisas projetados. Hermam Goering tinha planos para um avião ajudado por foguetes; e havia outros esquemas, incluindo um avião sem piloto, mais tarde conhecido como V1, ou bomba voadora, assim como um missel superfície-ar. Os planos de exercito, por outro lado, eram de um grande missel supersônico A-4, que acabou sendo chamado V2.



O plano de Dornberger antes do inicio da guerra era desenvolver um missel que transportasse uma carga útil de 1 tonelada de explosivos a 250 quilômetros, duas vezes mais longe do que as granadas do enorme canhão Paris da primeira guerra mundial. Um missel desses precisaria viajar a quase cinco vezes a velocidade do som, e isso em uma época em que nenhum foguete do exercito quebrara ainda a barreira do som.

Werner von Braun, que só tinha vinte e um anos quando a guerra começou, despontara como um líder dinâmico dos engenheiros.



Sua tarefa principal e imediata era lançar o foguete A-3, um foguete que pesava 3000 quilos e tinha 6,5m de altura, os motores com um empuxo de 6.600 quilos. O A-3 fora testado a 4 de dezembro de 1937, na ilha de Greifswalder, a algumas milhas ao largo de Peenemunde, com cerca de 120 pessoas acompanhando e vários espectadores de alto escalão. O tempo estava atroz; e o teste foi um fracasso total.

O BOMBARDEIO AEREO DE PEENEMUNDE

No correr de 1943, a inteligência britânica viera reunir informação e fazendo fotos de grande altitude de Peenemunde e outras fabricas de armas secretas. O ataque a Peenemunde na noite de 17-18 de agosto não foi inteiramente inesperado. A uma hora da manhã, bombardeiros pesados da RAF atravessaram troando o céu noturno, e jogaram 1,5 milhão de quilos de explosivos nas instalações da fabrica.


Centro de lançamento de foguetes V2 destruido pela RAF

O ataque destruiu a maior parte da área residencial do sitio peenemunde leste para desenvolvimento do A-4, incluindo o núcleo residencial dos engenheiros, e barracões onde 3 mil trabalhadores estrangeiros viviam por trás de arame farpado. Walther Thiel, o projetista chefe de motores foi morto junto com sua faminha em um abrigo antiaéreo. Cerca de 12 mil trabalhadores residiam em Peenemunde no momento. Mais de 700 foram mortos, 500 deles estrangeiros. Os prédios da fabrica onde se montava os foguetes ficaram intactos.

Historiadores do bombardeio alemães e britânicos, afirmam que o ataque atrasou o esforço de foguetes cerca de 2 meses, o que significa que uns 750 foguetes não foram lançados. A morte de Thiel, contudo, foi um importante reves, e o missel antiaéreo Wasserfall perdeu impulso, assim como o desenvolvimento de um foguete de dois estágios que poderia penetrar fundo nas ilhas britânicas.

Himmler mexeu-se rápido para envolver se no futuro do programa de foguetes, agora que sua mudança e dispersão tinham se tornado inevitáveis. Uma semana após o ataque ele havia chegado a toca do lobo e convenceu o Fuhrer a dar a SS uma parte na administração da produção do A4, a missão de transferir a fabrica para o subsolo e convocar prisioneiros dos campos de concentração. Os testes seriam transferidos para um local na Polônia. O Reichsfulhrer-SS aparentemente convenceu Hitler de que o ataque fora resultado de espionagem: esconder a fabrica debaixo do chão garantiria maior segurança, alem de proteção contra outro bombardeiro.

A construção das novas instalações ficariam nas mãos do SS-Brigadefuhrer (general de brigada) Hans Krammler, individuo de extraordinária brutalidade.



A 26 de agosto, apenas uma semana depois das conversas de Himmler com Hitler, já se escolhera o local da fabrica subterrânea: Uma serie de túneis usados como deposito de petróleo e armas químicas na montanha de Kohnstein, perto da cidade de Nordhausen, nas montanha Harz: Seria conhecido como Mittelwerke (fabrica central).



Na época da decisão, havia dois túneis, com quase um quilometro e meio de comprimento, cada um com largura suficiente para dois conjuntos de trilhos paralelos, um dos quais percorria toda a extensão da montanha. A 28 de agosto prisioneiros dos campos de concentração foram levados as presas para o local, para começar a trabalhar na penetração do segundo túnel por toda a extensão da montanha.

Enquanto isso, locais de pesquisa e desenvolvimentos eram dispersadas em torno do distrito de Peenemunde, e por toda a Alemanha. Apesar dos problemas de comunicação entre as entidades separadas, o desenvolvimento do A4 recomeçou dentro de dois meses. Quatro mil trabalhadores do sexo masculino foram recrutados para os túneis de Mittelwerke dentro de um mês e meio, sobretudo russos, poloneses e franceses, mas não judeus neste estagio (seriam recrutados no verão de 1944).

Em Dezembro de 1943, Albert Speer inspecionou a Mittelwerke e depois escreveu a Krammler elogiando-o por uma façanha “que excede em muito qualquer coisa já feita na Europa, e não superada nem mesmo pelos americanos.

Um líder da resistência francesa, Jean Michel, escreveu uma historia da Mittelwerke como vista por ele em meados de outubro de 1943:

“Os kapos e SS nos tocam a uma velocidade infernal, gritando e despejando golpes contra nos, ameaçando nos de execução; os demônios! O barulho vara o cérebro e rasga os nervos. O ritmo demente dura quinze horas.”

Speer visivelmente teve responsabilidade pelos horrores da Mittelwerke, que dividiu com Himmler e Krammler. A indícios que Dornbergerr e von braun também defenderam o uso de mão de obra escrava para como parte de um calculo de produtividade.

ARMAS DE VINGANÇA – V1 E V2

O derradeiro uso da avançada tecnologia de mísseis em Peenemunde e dos túneis de trabalho escravo em Mittelwerke foi numa irracional e contraproducente estratégia de vingança, ou retaliação. Na Alemanha, eram chamadas de Vergelungswaffen (armas de vingança). Era mais popularmente conhecida pelos ingleses como “barata tonta”, “bomba besouro” ou “bomba voadora”. Eram em essências um monoplano sem piloto feito de fino aço prensado e de madeira compensada. Lançado de uma rampa por pistão a vapor, ou disparado de um avião, o missel logo alcançava uma velocidade de cruzeiro de mais de 480 km/h em altitudes típicas de 1.200 metros no Maximo e ao nível da copa das arvores no mínimo.



Abastecia o motor a jato um tanque de 680 litros de gasolina com ar comprimido como oxidante. O sistema de orientação era operado automaticamente por um giroscópio e uma bússola direcional pré configurada. Um silometro aéreo movido por uma hélice no bico parava de girar quando se completava a distancia, instruindo assim os elevadores a afundar e lançar o aparelho e sua carga útil explosiva ao chão.

As primeiras V1 caíram em Londres a 13 de junho de 1944, no fim do mês, 2.452 haviam sido lançadas. Um terço foi destruído ou caiu antes de alcançar a costa inglesa, outro terço caiu ao acaso em campo aberto, mas o resto, cerca de 800, caiu na área de Londres ou na vizinhança de Southampton. O pior incidente ocorreu no domingo, 18 de junho, quando uma bomba voadora explodiu na capela de Wellington barracks, no centro de Londres, matando 121 pessoas, sessenta e três delas soldados que participavam do culto.

No outono de 1944, as V1 foram lançadas também em grande numero sobre a Antuérpia, para perturbar fornecimentos destinados aos exércitos aliados invasores. Ao todo, lançaram-se cerca de 10 mil bombas V1 contra a Grã-bretanha. Cerca de 2.500 caíram em Londres; mais de 6 mil pessoas foram mortas e 18 mil feridas.

Como vimos, a V2 entrou em produção em maio de 1944 na fabrica subterrânea de Mittelwerke nas montanhas Harz, sustentada por trabalho escravo.



O missel, que era supersônico e contra o qual não havia defesa, ficou pronto para lançamento em setembro de 1944, durante um intervalo dos ataques com bombas voadoras. As primeiras duas, lançadas de um local perto de Haia, Holanda, caíram quase que simultaneamente, sem aviso, na noite de 8 de setembro, em Chiswick, no oeste de Londres, e em Parndon Wood, perto de Epping, no leste de Londres. Cada missel transportava uma carga útil de uma tonelada de explosivos. Três pessoas foram mortas e desseseis feridas no local da explosão em Chiswick. Entre essa data e 27 de março de 1945, caíram 1.054 foguetes (cerca de 5 por dia), matando 2.700 Londrinos. Mais de 900 fora disparadas no ultimo quarto de 1944 contra Antuérpia.

Se Hitler pretendia por a Grã-bretanha de joelhos com este artefato de terror, era,claro, uma esperança vã. Do ponto de vista alemão, os vastos esforços e a engenhosidade aplicada as V2 em particular foram irracionais na motivação.

A campanha, que drenou recursos da produção de aviões com muito pouco resultado, provavelmente fez mais pelo moral de Hitler nos meses finais da guerra do que pelo seu povo.

Fonte: Os cientistas de Hitler: ciencia, guerra e o pacto com o demonio
Autor: John Cornwell
Editora: Imago

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