Santos na II Guerra Mundial (1)
O Brasil oscilou entre os Aliados e o Eixo. Quando Getúlio Vargas se decidiu, os santistas participaram com seus pracinhas
A Segunda Guerra Mundial foi traumática para os santistas, que temiam ataques por submarinos alemães ao porto e pela aviação nazista à Usina Henry Borden ou à própria cidade. Japoneses, italianos e alemães tiveram de deixar a região às pressas, pelo receio que colaborassem com seus países de origem, então inimigos do Brasil. E a cidade também compareceu com sua cota de sacrifício humano e material para o esforço de guerra brasileiro, enviando seus pracinhas para o combate nos campos de batalha da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Itália.
O Brasil oscilou entre os Aliados e o Eixo. Quando Getúlio Vargas se decidiu, os santistas participaram com seus pracinhas
A Segunda Guerra Mundial foi traumática para os santistas, que temiam ataques por submarinos alemães ao porto e pela aviação nazista à Usina Henry Borden ou à própria cidade. Japoneses, italianos e alemães tiveram de deixar a região às pressas, pelo receio que colaborassem com seus países de origem, então inimigos do Brasil. E a cidade também compareceu com sua cota de sacrifício humano e material para o esforço de guerra brasileiro, enviando seus pracinhas para o combate nos campos de batalha da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Itália.
Essas histórias foram citadas pelo pesquisador Fernando Martins Lichti, em suaPoliantéia Santista (editada junto com a História de Santos, de Francisco Martins dos Santos), terceiro volume (Gráfica Prodesan, Santos, 1996):
Navio brasileiro que seria afundado por submarinos alemães Foto: Gedoc/BM - CD-ROM II Guerra Mundial (Agência Estado/jornal Estado de Minas, edição Revista Neo Interativa, S.Paulo/SP, 1995) Quando Hitler invadiu a Polônia em 3 de abril de 1939, começa um dos capítulos mais importantes da história deste século (N.E.: século XX) - a 2ª Grande Guerra Mundial. A invasão da Polônia foi consumada a 1º de setembro desse ano. Dois dias depois, a Grã-Bretanha e a França declararam guerra à Alemanha. O Brasil declarou a sua neutralidade no dia 5 de setembro de 1939, confirmando a sua posição na Conferência do Panamá, realizada a 23 de setembro, onde as nações americanas declararam a neutralidade do continente. Por três anos, no espaço de tempo entre o início da guerra e a entrada do Brasil no conflito - de 1939 a 22 de agosto de 1942, quando o Brasil declarou a guerra às nações do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) -, a neutralidade foi mantida, mas tornou-se impossível depois que cinco navios foram torpedeados em nossas costas, por submarinos alemães. Navio brasileiro Alcântara, afundado na Baía de Guanabara pelos alemães Foto: Gedoc/BM - CD-ROM II Guerra Mundial (Agência Estado/jornal Estado de Minas, edição Revista Neo Interativa, S.Paulo/SP, 1995) Até pouco tempo atrás, desconheciam-se os detalhes da ordem de ataque aos nossos navios, agora revelados pelo ex-ministro da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Nelson Freire Lavanere Wanderley. A ofensiva dos submarinos foi decidida numa conferência entre Hitler e o comandante-em-chefe da Esquadra alemã, a 15 de junho de 1942. Dez submarinos - 8 de 500 toneladas e 2 de 700 toneladas - saíram dos portos da França, na época ocupada, para realizar a sua missão nas costas do Brasil. Partida do primeiro contingente de pracinhas brasileiros para a guerra na Europa Foto: Gedoc/BM - CD-ROM II Guerra Mundial (Agência Estado/jornal Estado de Minas, edição Revista Neo Interativa, S.Paulo/SP, 1995) Reagindo à afronta e à revolta da opinião pública, o Brasil declarou guerra à Alemanha, à Itália e ao Japão, a 22 de agosto de 1942, sete dias após o primeiro afundamento. Pouco depois, o submarino U-199 foi atacado pela FAB - Força Aérea Brasileira -, indo a pique, e, no local, 12 sobreviventes foram recolhidos, comprovando a atuação dos alemães, nos afundamentos dos navios do Brasil. A declaração de guerra não pegou a Marinha desprevenida, que passou a garantir o tráfego marítimo no Atlântico e o abastecimento aos aliados, mantendo patrulhamento constante da área e guardando os comboios de navios que abasteciam as tropas na Europa, principalmente. Vargas visita a bordo pracinhas que partem para a guerra Foto: Gedoc/BM - CD-ROM II Guerra Mundial (Agência Estado/jornal Estado de Minas, edição Revista Neo Interativa, S.Paulo/SP, 1995) As primeiras normas para a organização da FEB - Força Expedicionária Brasileira - foram traçadas no dia 9 de agosto de 1943, sendo criada, efetivamente, a 23 de novembro do mesmo ano. No dia 28 de dezembro, foi nomeado comandante-em-chefe da FEB o marechal João Batista Mascarenhas de Moraes. Depois do período de treinamento (este treinamento era dado no Rio de Janeiro), teve início o embarque do 1º Escalão, no dia 28 de junho de 1944, partindo rumo à Itália no navio General Mann, no dia 1º de julho do mesmo ano, chegando a Nápoles no dia 16, dirigindo-se ao estacionamento em Bagnuoli. Partida de pracinhas brasileiros para a luta contra o Eixo, da Baía da Guanabara Foto: Gedoc/BM - CD-ROM II Guerra Mundial (Agência Estado/jornal Estado de Minas, edição Revista Neo Interativa, S.Paulo/SP, 1995) A 6 de setembro, a 1ª Companhia de Engenharia passa à disposição do IV Corpo, sendo, assim, a primeira tropa brasileira a entrar em ação. A 11 do mês, é organizado o "Destacamento FEB", sob o comando do general Zenóbio da Costa (6º Regimento de Infantaria, II/1º, R.O. Au. R. 1ª Cia. do 9º B.E., Cia. de Evacuação do 1º B.S.). Nos dias 15, 16, 17 e 18, acontece a entrada em linha do "Destacamento FEB", começando a ofensiva e conquista de Massarosa, Monte Comunale, Il Monte, Guilardona, Il Vecoli, C.S. Lucia, Stiava e Camaiore. Desembarque do 1º Escalão da FEB no porto de Nápoles, em 16 de julho de 1944: seus 5.075 homens eram comandados pelo general Zenóbio da Costa Foto: História do Século 20, volume 5 (1942/1956), Ed. Abril Cultural, São Paulo/SP, 1975 No dia 25 de setembro, a FEB conquista Monte Valimono; Monte Acuto, no dia 26; Monte Prano, a 27, seguindo o destacamento para o vale do Serchio, atingindo, no dia 29, Stazzema-Formoli onde capturam Pescaglia e Borgo a Mozzano. As atividades para a FEB, no mês de outubro, tiveram começo no dia 5, com a captura de Chivizzano e Bologna e, no dia seguinte, conquista de Corelagia Antelminelli e Fornacci. No dia 7, a ocupação de Gallicano, Fabricche e Cardoso. No dia 11, conquista de Barga. A 24 e 25, ocupação de Somacolonia, Trassilico e Verni. No dia 28, captura de Monte Facto; no dia seguinte, ocupação de Calomini; no dia 30, conquista de Lama di Sotto, Lama di Sopra, Pradoscello, Plan de los Rios, Collo e San Quirico e, no dia 31, dava-se o início da marcha para o Vale do Reno. No mês de novembro, no dia 10, dá-se o início da defensiva do Vale do Reno. No dia 16, conquista Boscacio, Il Sasso e Monte Cavaloro. Pracinhas brasileiros na Itália Foto: Gedoc/BM - CD-ROM II Guerra Mundial (Agência Estado/jornal Estado de Minas, edição Revista Neo Interativa, S.Paulo/SP, 1995)
Roteiro da FEB na Itália
Nos dias 24 e 25 de novembro, Monte Castelo é atacado pela Task Force 45 (N.E.: Força-Tarefa 45)a que estava adido o III 6º Regimento de Infantaria, sem resultado. No dia 29, dá-se o terceiro ataque ao mesmo Monte Castelo (o primeiro sob comando brasileiro), com resultado negativo e, a 12 de dezembro, novamente é tentada, pelo comando brasileiro, a tomada do citado Monte, mas sem resultado. Com esta ação, encerra-se o ano de 1944.Imagem: Gedoc/BM - CD-ROM II Guerra Mundial (Agência Estado/jornal Estado de Minas, edição Revista Neo Interativa, S.Paulo/SP, 1995) No ano de 1945, a 8 de fevereiro, parte do Rio de Janeiro o 5º Escalão, chegando a Nápoles a 22 do mesmo mês. No dia 21, é realizado, pela FEB, o quinto ataque (terceiro brasileiro) ao Monte Castelo, sendo, desta vez, conquistado, constituindo-se em uma das mais brilhantes ações da força brasileira, nos campos de batalha da Itália. Nos dias 23 e 24, é realizado o ataque e conquista de La Serra, Cota 958 e Bela Vista. No mês de março, nos dias 3 e 4, é realizada a limpeza do Vale do Marano e, no dia 5, é efetuado o ataque e conquista de Soprassasso e Castelnuovo. O mês de abril começa com o ataque e conquista (nos dias 14 e 15) de Montese, Secreto e Pravento. Nos dias 22 e 23, é realizada a ocupação de Zocca, Vignola, Rio Secchia, Esgastolo, Pormigine, Castelara e Sassuolo. A 26, 27 e 28, a conquista de Colecchio e Fornovo e nos dia 29 e 30, ocupação de Piacencia, Castelvetro e Alessandria; execução da rendição da 148ª Divisão de Infantaria alemã, da 90ª Divisão Blindada e da Divisão "Itália". No mês de maio (dias 1º e 2), é levada a efeito a ocupação das regiões de Casale, Solero, Salvatore e Casteleto; ocupação de Turin e a ligação com a 27ª Divisão do Exército Francês em Suza - neste mesmo dia (2 de maio), leva-se a efeito a Rendição Incondicional das tropas inimigas que combatiam na Itália e, no dia seguinte, dá-se o início do período de ocupação, que terminou no dia 20 de junho de 1945, embora a guerra houvesse sido declarada oficialmente terminada, pelo referido termo de rendição, assinado a 8 de maio de 1945. Tropas brasileiras recebem instruções militares Imagem: Gedoc/BM - CD-ROM II Guerra Mundial (Agência Estado/jornal Estado de Minas, edição Revista Neo Interativa, S.Paulo/SP, 1995) No dia 3 de junho, são iniciados os preparativos para o deslocamento das tropas brasileiras, para Francolise. Os efetivos da FEB, na Segunda Guerra Mundial, somaram 25.394 homens. As perdas foram de 21 oficiais e 444 praças mortos em combate; 2.723 feridos; 35 prisioneiros e 16 extraviados. Entrou em ação contra: Alemanha - 42ª Divisão Ligeira, 90ª Divisão Motorizada e as Divisões de Infantaria 114ª, 148ª, 232ª. 305ª e 334ª; Itália - Divisão Itália, Divisão Monte Rosa e Divisão San Marco. A FEB aprisionou: 2 generais, 892 oficiais e 19.689 soldados, num total de 20.583 prisioneiros. As vitórias brasileiras mais expressivas na Itália foram: Camaiore, Monte Prano, Monte Castelo - onde foi realizada uma das maiores façanhas da Campanha da Itália, pelos soldados brasileiros -, Castelnuovo, Montese, Zocca, Colecchio e Fornovo. Soldados brasileiros treinam com fuzil Springfield Foto: Gedoc/BM - CD-ROM II Guerra Mundial (Agência Estado/jornal Estado de Minas, edição Revista Neo Interativa, S.Paulo/SP, 1995) O major-aviador Nero Moura era o comandante do 1º Grupo de Aviação de Caça, na Itália, que tanto participou na Campanha da FEB na Itália. O Grupo de Caça Brasileiro executou 445 missões, realizando 2.546 saídas, completando 5.465 horas de vôo em operações de combate. Nestas operações, foram lançadas 4.442 bombas, num total aproximado de 1.010 toneladas, participando em inúmeros combates. Os componentes do 1º Grupo de Caça Brasileiro são citados pelos relevantes serviços prestados, em ação contra o inimigo, no campo de operações do Mediterrâneo. Brasileiros em cidade italiana Foto: Gedoc/BM - CD-ROM II Guerra Mundial (Agência Estado/jornal Estado de Minas, edição Revista Neo Interativa, S.Paulo/SP, 1995) A Marinha Mercante, durante a 2ª Guerra Mundial, teve a seu cargo, fundamentalmente, o transporte de materiais necessários à guerra na Europa. Nestas e outras missões, sofreu o ataque a 31 dos seus navios, dos quais oComandante Lira foi o único navio torpedeado que não afundou. Morreram, nestes ataques, 971 pessoas (entre tripulantes e passageiros), e foram salvas 1.521 pessoas. As perdas, em tonelagem, foram em um total aproximado de 126.535 toneladas. Em julho de 1945, membros da FEB retornam ao Brasil Foto: Gedoc/BM - CD-ROM II Guerra Mundial (Agência Estado/jornal Estado de Minas, edição Revista Neo Interativa, S.Paulo/SP, 1995) Desde os primeiros momentos, após a Declaração de Guerra do Brasil aos países beligerantes do Eixo, a população da Baixada Santista manifestou o seu apoio à histórica e corajosa decisão adotada pelo presidente Vargas. Santos disse presente, pelos seus cidadãos, de todas as idades, àquele momento em que a nação clamava pela participação do povo brasileiro em todos os movimentos de suporte cívico e material à participação do Brasil nos campos de batalha da 2ª Grande Guerra Mundial. Jovens, estudantes, operários, comerciários, donas-de-casa, comerciantes, homens do alto comércio, servidores públicos, portuários, todos, unívocos, se mobilizaram em Santos, para que a cidade participasse decisivamente em prol dessa luta pela liberdade dos povos, tal como já participara da Independência. As pirâmides de metais surgiram em todos os bairros da cidade. Senhoras e moças voluntárias se arregimentaram na Cruz Vermelha Brasileira (na Praça dos Andradas), para a confecção de roupas, fardamentos e cursos de enfermagem. A Pirâmide do Monte Serrate, como foi chamada, instalou-se na Praça Mauá, a 10 de setembro de 1942, e veio a ser o maior ponto de recepção de doações de toda a natureza para o "esforço de guerra" brasileiro. Houve doações em dinheiro, em espécie, em trabalho e até mesmo de "um dia de salário" em prol da Legião Brasileira de Assistência, que fora fundada pela primeira-dama do País, sra. Darcy Vargas. O movimento santista em prol da democracia veio a coroar-se com a participação de sua gente nos campos de batalha, na Itália. Não apenas soldados, cabos, sargentos e oficiais radicados nas unidades militares da Baixada Santista foram recrutados, mas também jovens reservistas - inclusive alguns voluntários - que, depois de passados por rigorosa triagem e treinamento, inicialmente aqui mesmo e depois no Rio de Janeiro, foram selecionados para integrar a FEB - Força Expedicionária Brasileira. Daqui partiram cerca de 200 homens, que foram preparados na antiga Capital brasileira, e dos quais 90 santistas integraram os cinco escalões da FEB que estiveram em plena guerra. Em 19 de julho de 1945, a recepção triunfal aos pracinhas, no Rio de Janeiro Imagem: reprodução da primeira página do jornal santista A Tribuna, em 20/7/1945 Empenhamo-nos em publicar, nesta obra, os nomes de todos que daqui partiram, dos muitos que voltaram feridos, de alguns que voltaram mutilados, de outros que retornaram com neuroses de guerra e daqueles que não voltaram, cujos corpos permaneceram por muitos anos no Cemitério Brasileiro de Pistóia (na Itália). Lamentavelmente não conseguimos, reafirmamos. Não nos restou outra alternativa senão recorrer a alguns ex-combatentes e, por lembranças esparsas, relacionamos alguns santistas que integraram a Força Expedicionária Brasileira, valorosos heróis que deveriam ser mais respeitados e homenageados pela comunidade, pelos Poderes Públicos, pelas instituições, e por todos reverenciados, porque eles defenderam a Pátria, lutaram pela democracia e perderam sangue pela liberdade dos povos. Santos da Independência, da Libertação dos Escravos, da República, da Revolução Paulista de 1932, também participou dessa gloriosa página. Aos pracinhas aqui relacionados e a todos os que omitimos, involuntariamente, o nosso preito de admiração e respeito: Ataíde Fernandes, Ary Esteves Fernandes, Aurélio de Barros Mello, Antônio Rodrigues, Aldo Ripassati, Alcides Antônio Campos, Alberto Sanches Bittencourt, Américo Duarte, Dirceu Cícero de Miranda, Oscar Azevedo Marques, Galileu Ramos, João dos Santos, João Farias Freitas, Paulo Dias, Pedro de Oliveira, Romualdo Santos Filho, Waldemar Presas Rodrigues, Waldemar Neves Guerra, Wilson Porto de Oliveira, João Antônio Sevilhano, Manoel da Luz, Antônio Lopes Cardoso Filho, Alberto Camargo de Paula Novais, João de Almeida, Ocrídio Farbo, Paulo Nunes dos Passos, Eduardo de Araújo Falcão, Jordão Correia Filho, Urias Gouveia, Antônio Soeiro de Farias e José do Nascimento. (Contamos para a elaboração deste trabalho com a colaboração do sr. Ataíde Fernandes, ex-combatente da FEB). |