quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Avanço na Rússia - As memórias de Otto Skorzeny sobre a Barbarossa


Avanço na Rússia - As memórias de Otto Skorzeny sobre a Barbarossa

As memórias de Otto Skorzeny sobre a Barbarossa, quando ainda era um oficial de artilharia vinculado à Divisão Grossdeutschland :

Em meados de junho de 1941, nossa Divisão foi transferida para a Polônia. Desta vez viajamos de trem até Lodz. A novidade deste meio de transporte foi por nós recebida com grande alegria, pois tivemos certeza que as viaturas e peças de artilharia chegariam ao destino sem sofrer dano. Quando verificamos que tudo estava carregado, sentamos e respiramos aliviados.

As conversas giravam em torno do nosso novo destino. Todos ignorávamos que estávamos a ponto de iniciar uma campanha contra a Rússia. Até os mais pessimistas estavam convencidos de que a meta final de nossa viagem seriam os poços petrolíferos do Golfo Pérsico. Estávamos certos de que a Rússia abriria suas portas ao Exército alemão e que, por tal motivo, poderíamos atravessar sem dificuldade alguma o Cáucaso, podendo chegar, dessa forma, às fronteiras do Irã. Discutimos sobre a possibilidade de as populações árabes ficarem do nosso lado, o que era de vital importância para nós, pois poderiam proporcionar-nos o combustível que necessitávamos urgente e nos facilitar a oportunidade de ocupar seus riquíssimos territórios. Outros opinavam que iríamos para a Turquia e depois para o Egito a fim de atacarmos o Exército inglês. Confesso que estava identificado com esta última opinião e, por isso, levava comigo o livro de Lawrence "As sete colunas da sabedoria". O misterioso e longínquo Oriente nos proporcionou um sem-fim de assuntos durante as longas horas de viagem em que o comboio traçou um grande círculo, beirando o protetorado da Boêmia e Moravia, até chegar à Silésia Superior para entrar na Polônia.

Deixamos o trem em Lodz e continuamos a viagem pelas empoeiradas estradas. Numa só noite percorremos toda a distância que nos separava da frente Leste. Ficamos concentrados a uns cinqüenta quilômetros do fronteiriço rio Bug, num povoado ao sul da cidade russa de Brest-Litowsk. A pobreza da localidade e das casas obrigou-nos a armar as barracas em pleno bosque.

Sentia-me satisfeito por ter a oportunidade de conhecer um país que não tinha visitado anteriormente. Nunca imaginara que os homens e os animais pudessem conviver em semelhante promiscuidade! Algumas vivendas tinham o estábulo ao lado da moradia comum, que servia para todos os místeres; muitas tinham os cômodos separados apenas por uma cortina. As crianças criavam-se entre os animais e havia casos de não se fazer diferença entre uns e outros. A água era tão escassa, que só era utilizada para cozinhar e dar de beber aos animais. Foi então, só então, que eu compreendi o sentido das palavras "economia polaca!"

Não tardamos muito em comprovar que as suposições que fizéramos acerca do nosso destino estavam erradas, já que o ambiente nos fazia compreender que não tardaríamos muito a entrar em combate. Aquilo nos deixou surpreendidos; não sabíamos o que pensar. Nunca pudemos imaginar que chegaríamos a combater contra a União Soviética! Sabíamos e percebíamos que o Pacto de Não-Agressão, firmado entre a Rússia e a Alemanha, acabaria por romper-se mais dia menos dia. Mas nunca pudemos supor que tal coisa chegasse a acontecer em plena guerra. Aquilo nos levou a perguntar-nos se seríamos obrigados a manter uma guerra em duas frentes ou poderia repetir-se o caso de uma nova Blitzkrieg? Não pudemos deixar de pensar nas imensas e inacabáveis estepes russas; no país que foi o causador do princípio da derrota de Napoleão, o homem que se acreditou invencível. Não nos restou outra coisa a não ser conformarmo-nos com a sorte, e esperar o desenrolar dos acontecimentos, a fim de prepararmo-nos para cumprir as ordens recebidas. Procuramos nos consolar dizendo que o Alto Comando sabia o que estava fazendo. Estávamos convencidos de que nos encontrávamos à mesma altura do colossal adversário e que, talvez, o destino tivesse escolhido os homens da nossa geração para derrotarem a invencível Rússia.

Entramos em posição com as baterias perto do Bug, procurando nos camuflar na vegetação. Aproveitei os momentos de folga para passear pelas margens do rio em companhia de alguns camaradas. Vimos os postos avançados russos na outra margem do rio e nos pareceram semelhantes aos nossos. Foi a primeira vez que vimos, alinhados ao longo de toda a fronteira russa, vários mangrulhos. Nossas sentinelas ocultavam-se nos galhos das árvores; passei muitas horas compartilhando com elas de suas inquietudes e desvelos. Pudemos comprovar que os russos, tal como nós, tinham concentrado grande número de tropas na fronteira polaca; suas posições, meio mascaradas, aproveitando as dobras do terreno, eram perfeitamente visíveis.

SdKfz. 251/1 na Latvia, Junho de 1941

Chegou o dia em que o Alto Comando tomou a suprema decisão. Importantíssima decisão, saída dos cérebros de muitos poucos homens! As ordens foram dadas e se fixou o dia "D" para o desencadeamento do ataque: 22 de junho de 1941. Às 5 horas deveria ter início a ofensiva cujo objetivo era o longínquo Leste. Na véspera, o general comandante pronunciou um discurso diante de todos os comandantes de unidades, dizendo entre outras palavras:

- Firmaremos um novo Tratado de Paz em Moscou dentro de algumas semanas.

Perguntei a mim mesmo se ele acreditava, realmente, no que dizia ou se limitava apenas a nos animar. Contudo, suas palavras de otimismo contagiaram a tropa e lhe deram ânimo para enfrentar o que se avizinhava.

Um grande número de soldados alemães encontrou-se, em algum momento de suas vidas, na mesma situação que nos encontrávamos naquela ocasião. Seus corações, certamente, pulsavam mais forte quando pensavam que se viam obrigados a conquistar um território enorme, quase ilimitado...

Agora, depois das experiências vividas, posso afirmar que não é fácil conhecer a alma - a verdadeira alma - dos russos! É profunda, variável e espantosa. Exatamente igual às suas imensas estepes, aos seus gigantescos rios, às inclemências do seu clima e à angustiante visão da solidão de suas paisagens! Estou convencido de que muitos oficiais do Estado-Maior terão que trabalhar durante anos inteiros, antes de poderem julgar de forma objetiva todas as vicissitudes e pormenores daquela extraordinária campanha. Por isso acredito que devo limitar-me a relatar alguns dos acontecimentos dos quais fui testemunha com meus homens.

À zero hora de 22 de junho de 1941, todas as baterias e as outras posições estavam prontas para o início da ofensiva. Todos estávamos agitadíssimos, coisa muito natural, porquanto ignorávamos a excepcional magnitude da empresa. Devo dizer que notei algo estranho; alguma coisa diferente das outras ocasiões pairava no ar. Dois soldados cochichavam na escuridão e outro dormia de boca aberta agarrado ao fuzil; alguns não podiam conciliar o sono, enquanto outros eram despertados pelos que, ao dormir, lançavam sonoros roncos! Cada homem reagia segundo seu estado de ânimo, conforme seu próprio temperamento. Mas, "às cinco da madrugada" à hora "H" todos estavam acordados, agarrados aos seus fuzis, cada um no cumprimento de sua missão.

Alguns momentos após começaram a sibilar por cima de nossas cabeças as granadas que iam estalar nas posições inimigas. Um barulho ensurdecedor nos envolveu; era comparável ao produzido pelo retumbar dos trovões nas montanhas, que se prolongam devido ao eco. Terminada a preparação da artilharia, a infantaria subiu nas embarcações e começou a atravessar o rio. Os infantes foram acompanhados pelos observadores avançados da artilharia, cuja missão era encontrar novos alvos e dirigir o tiro. Trepado num velho carvalho, via a margem oposta e presenciei os acontecimentos nela desenrolados. Mas somente pelo barulho podíamos orientar-nos com referência ao desenrolar dos combates. Nossas tropas conseguiram avançar quatro, cinco e até seis quilômetros, mas tiveram que enfrentar uma obstinada resistência.

A artilharia começou a atirar de forma intermitente, fazendo fogo de bateria para conseguir preparar as novas posições na outra margem do rio. O fogo inimigo começou a diminuir, inclusive chegou a emudecer; só de vez em quando ouviam-se alguns tiros isolados. Não se podia dizer que o barulho fosse o clássico de um combate. Quando nossos elementos avançados regressaram para informar sobre a situação, disseram-nos que tínhamos conseguido atingir os objetivos e que os russos não puderam fazer face ao nosso primeiro ataque, vendo-se obrigados a retirar-se para os bosques próximos e a cobrir-se como podiam, chegando até a esconder-se nas zonas pantanosas.

O fogo de nossas baterias voltou a apoiar o avanço da infantaria, que começava a atingir os pequenos caminhos que se dirigiam a todas as direções. A vários quilômetros das posições onde nos encontrávamos, ao lado de Koden, já dispúnhamos de uma ponte que acabava de ser construída pelos engenheiros. Na manhã seguinte, nós, os artilheiros, avançamos lentamente, seguindo a margem direita do Bug até chegarmos a Brest-Litowsk. A cidade já estava em mãos alemãs. Durante o tempo que durou um engarrafamento, que nos obrigou a parar, pude examinar com atenção as fortificações que via diante de mim. Também pude observar que se continuava lutando em alguns pontos da cidade onde os russos instalaram-se, ocupando algumas casas. Apesar de já estarem em nosso poder as partes inferiores dos fortins, os russos continuavam atirando das torres, contra nós.

Avançamos lentamente, com precaução, pois não ignorávamos que nossos movimentos eram observados pelo inimigo. Ao menor descuido caía sobre nós uma verdadeira chuva de balas. Vi morrer, diante de meus olhos, vários soldados que foram atingidos pelos projéteis do inimigo.

Todas as nossas tentativas para vencer a desesperada resistência dos russos eram vãs. Fizemos várias tentativas para nos apoderar dos torreões dos fortins, e todas falharam; os mortos que se amontoavam diante deles eram a prova disto. Vários dias transcorreram antes que pudéssemos reduzir totalmente os focos de resistência. Os russos lutaram até o último cartucho, até o último de seus homens.

Na estação ferroviária aconteceu o mesmo. Um grupo de soldados soviéticos instalou-se nas passagens subterrâneas anulando todas as tentativas do nosso avanço. Mais tarde inteirei-me de que foi necessário inundar aquelas passagens, para quebrar sua obstinada resistência.
Esquecemos logo as terríveis imagens daquela luta, para recordá-las quando novamente combatíamos. Não tardamos a ter à nossa disposição o que chamamos de "estrada" partindo de Brest-Litowsk em direção ao Leste. Era uma estrada bastante larga, mas o leito não era asfaltado. Nossas tropas travaram combates de um lado e do outro da mesma, conseguindo avançar com relativa facilidade. Vimos os primeiros carros de combate russos nas valas, meio incendiados.

Cinco dias depois chegamos às imediações de Gorodez. As tropas russas empregavam no combate uma tática muito singular: começavam apresentando uma resistência obstinada, mas, quando encontravam uma ocasião propícia, dispersavam-se ou retraíam. Durante os primeiros dias tivemos a impressão de que ainda não tínhamos enfrentado o verdadeiro Exército russo. As forças inimigas só aproveitavam algumas ocasiões para contra-atacar.

Em Gorodez visitei uma pequena estação elétrica, que estava abandonada. Nunca tinha visto, até aquele momento, um trabalho de desmontagem tão perfeito! Não ficara nada, absolutamente nada, ainda que encontrássemos material disseminado pelas imediações da estação! A ordem de evacuação e de desmontagem fora cumprida e executada ao pé da letra num tempo rapidíssimo.

Passamos pela zona pantanosa de Pripet, que nos pareceu absolutamente intransitável. Contudo, os russos consideravam-na um terreno apropriado para o movimento de suas tropas. Ao norte da estrada principal havia uma contínua fileira de colinas, e as planícies eram terras cultivadas que pertenciam aos diversos kolchoses disseminados por toda a região na qual abundavam os bosques. Todas as aparências demonstravam que, destes, os russos não cuidavam; várias clareiras foram abertas para a obtenção de lenha; o restante das árvores estavam descuidadas, ninguém se preocupara em cortá-las corretamente.

As estradas principais eram razoáveis, mas as vicinais eram simples caminhos onde se observavam rastros de viaturas numa só direção. Esses caminhos tinham uma largura de dez a quinze metros. Os rastros das viaturas facilitaram nosso avanço. O tempo estava muito seco e, por isso, enfrentamos verdadeiras nuvens de poeira. As localidades pelas quais passávamos estavam completamente vazias; a população fugira para o Leste com as tropas russas.

Não se pode dizer que naquelas dias houvesse uma verdadeira frente. As divisões alemãs limitavam-se a avançar para o Leste com muita dificuldade. Toda vez que uma viatura sofria uma avaria ficávamos em apuros. Sempre que fazíamos um alto éramos atacados por grupos isolados de tropas russas que se apressavam em retrair depois de nos terem hostilizado.

Soldados alemães da divisão Großdeutschland marcham no front leste, Julho de 1941

Em nosso avanço chegamos a um pequeno rio, em cujas margens se estabeleceu um forte combate. O Capitão Rumohr insistiu que se fizesse um minucioso reconhecimento do terreno numa fileira de colina. Formou-se uma patrulha integrada pelo Capitão Rumohr, seu auxiliar, Tenente Wurach, o oficial de comunicações, cinco sargentos e eu. Dirigimo-nos a uma das colinas com o propósito de alcançar seu cume e ver dali o que se passava na margem oposta do rio. Tivemos que atravessar um terreno acidentado onde havia algumas árvores. Uma chuva de balas caiu sobre nós. Apesar de termos visto que oferecíamos um bom alvo, continuamos avançando com toda a sorte de precauções. As metralhadoras inimigas não paravam de atirar e algumas granadas explodiram perto de nós. Realmente nos encontrávamos em precária situação. Tudo o que pudemos fazer foi nos atirarmos ao solo, aproveitando os declives do terreno para nos abrigar.

Não era agradável sentir-se como um coelho quando o caçam. Toda a vez que levantava a cabeça, via a sola das botas do companheiro que estava deitado diante de mim; em seguida voltava a afundar a cabeça no terreno, porque vinha uma nova saraivada de balas.


Russo de um tanque leve T-26 se rende, Augosto de 1941

Tentamos avançar devagar, cautelosamente, arrastando-nos pelo chão. Isto nos custou um grande esforço, pois o fogo inimigo acompanhava todos os nossos movimentos. De repente, ouvi um grito às minhas costas. Voltei a cabeça e vi que um dos sargentos, que rastejava atrás de mim, tinha sido ferido no ombro. O homem que ia a seguir agarrou-o pelos quadris e levou-o a um lugar abrigado. Uma chuva de granadas, lançada pelos nossos passou por cima de nós e foi explodir em pontos-chave do inimigo. Tivemos sorte, pois o terreno não era difícil para a progressão; caso contrário, o avanço teria sido dificílimo. Um dos nossos homens, que avançava na frente, lançou um gemido. Logo, voltou a cabeça e gritou:

- Está morto! Já não podemos fazer nada por ele...

O fogo tornou-se tão intenso que nos impediu qualquer movimento. Os minutos nos parecem séculos! De repente, lembrei, com estranheza, que tinha um tablete de chocolate num dos bolsos da calça. Fiquei em dúvida se o comia ou não. Decidi que seria melhor não fazê-lo.

Que pensamentos mais esquisitos se apoderam de nossa mente em tais momentos!

Estava deitado no chão, com as pernas e braços estendidos. Ao fim de algum tempo, que me pareceu uma eternidade, o capitão, que se encontrava ao meu lado, disse:

- Devemos prosseguir, Otto; se não o fizermos seremos apanhados.

Em conseqüência, continuamos o avanço, rastejando. O homem que estava à minha frente foi ferido; voltou a cabeça e me olhou. Fiz um grande esforço para chegar junto a ele. Consegui meu propósito e pudemos colocá-lo a salvo, ao abrigo de uma árvore. Vi que sua camisa estava encharcada de sangue, e que uma bala tinha perfurado o seu peito. Pus uma atadura sobre o ferimento e aquilo foi tudo; não podia fazer mais nada.

Ouvimos um forte tiroteio vindo da nossa margem do rio; isto foi a causa para não continuarem atirando contra nós com tanta fúria. Naturalmente nos apressamos em aproveitar tal situação. Eu e mais três companheiros apanhamos o ferido e corremos colina acima, e como não podíamos levá-lo com cuidado, gritava de dor. Chegamos a uma casa e nos abrigamos nela, colocando o ferido sobre o solo e ao amparo de suas paredes. Agradeceu-nos com um sorriso; um dos nossos ficou junto a ele para atendê-lo.

Fizemos um buraco no teto de palha da casa e nele instalamos um telêmetro. Pudemos verificar que acertamos em cheio, pois dali podíamos observar as posições inimigas. Fizemos uns croquis do terreno e assinalamos as linhas inimigas. Enviamos os dados necessários ao tiro das baterias, que não demoraram em abrir fogo. A frente russa tinha sido desarticulada e apenas alguns focos isolados ofereciam resistência.

Nossa vanguarda conseguira aproximar-se de Beresina; um pequeno rio, apenas, nos separava do próximo objetivo. Foi então que nos encontramos em uma situação difícil. Um batalhão de infantaria, apoiado por uma bateria, teve que enfrentar uma forte resistência inimiga. Alguns quilômetros atrás, num cruzamento de estradas, estava o estado-maior da Divisão. O pequeno reboque que servia de alojamento ao comandante da Divisão, papai Hausser, como o chamávamos, estava na orla do bosque onde se encontrava o estado-maior do Regimento de artilharia. Dirigi-me para lá, junto com o Coronel Hansen, que não fazia outra coisa a não ser dizer:

- Já são treze horas e estou com o estômago vazio; creio que já é hora de comer alguma coisa quente.

Lembro ter respondido:

- Vou curar seu mal!

Tropas alemãs marcham. Ao fundo, uma vila russa em chamas.

Em seguida, peguei, na minha viatura, dois ovos e um pedaço de toicinho; acendi um pequeno fogo e não tardou muito, saboreamos um pequeno lanche. Quando terminamos de comer, Hansen levantou-se e dirigiu-se para o reboque. Precisamente naquele momento explodiram várias granadas perto do lugar onde estávamos.

Senti o sangue gelado e temi pela vida do coronel, que me confessou mais tarde ter levado um grande susto. O General Hausser pediu ao Coronel Hansen que se reunisse com ele para uma breve conferência. Disse então, que avançáramos demais e que não tínhamos segurança suficiente para prosseguir, já que ignorávamos se a zona onde nos encontrávamos estava ainda em poder do inimigo. Nossas baterias não podiam atingir a distância de 120 quilômetros. Por isso era necessário que aguardássemos o avanço do grosso da artilharia.

Ofereci-me como voluntário para retornar ao lugar onde estava instalada a nossa artilharia; deram-me uma viatura e cinco homens. Uma metralhadora e cinco submetralhadoras constituíam nosso armamento.

Tinha marcado sobre a carta o itinerário que tínhamos percorrido. Por isso, sabia onde encontrar a unidade. Contudo, descobri que a carta não estava correta; conseqüentemente fui obrigado a orientar-me pela intuição.

Não é agradável viajar, com apenas alguns homens, por um território ocupado pelo inimigo. Na condição de oficial, não devia deixar transparecer a insegurança que sentia. Nosso itinerário passava por vários bosques. Mais de uma vez nossa viatura ficou atolada. Ouvimos muitos barulhos suspeitos e, em mais de uma ocasião, meus soldados atiraram por simples precaução, enquanto o motorista aumentava a velocidade. Quando chegamos a uma aldeia, situada na metade do caminho, lembrei que ao avançar tínhamos passado exatamente ali.

Um estranho pressentimento fez com que eu não continuasse pelo mesmo caminho. Por esta razão, dobrei à esquerda e apressei a marcha, embora não conseguíssemos avançar mais de vinte quilômetros numa hora. Um obstáculo imprevisto - um montão de areia - deteve a nossa marcha. Isto nos obrigou a fazer um alto de um quarto de hora. Mas como já éramos veteranos em tão difíceis situações, construímos um pequeno caminho suplementar com galhos e alguns troncos, e assim pudemos contornar o obstáculo facilmente. Não paramos para comer. Não ignorávamos que nossa missão era importante e que era perigoso determo-nos naquelas paragens.

Encontramos nossa Unidade depois de sete horas de marcha, quando já tinha escurecido. Rapidamente transmiti ao Capitão Rumohr a ordem para avançar. O Tenente Wurach colocou-me a par da situação.

Disse-me que a estrada principal voltara a ser ocupada pelos russos. Com esta notícia, fiquei satisfeito por ter passado pela outra, no caminho de regresso. Tivéramos uma grande sorte em não passar à direita do povoado que deixáramos atrás.

O avanço da unidade foi muito lento. Como era noite, não foi fácil orientarmo-nos. Eu ia à testa da coluna e não deixava de pensar: a estrada certa era a direita ou da esquerda? Só fizemos pequenos altos para reabastecer as viaturas. Fomos, inclusive, obrigados a combater em determinados pontos para podermos prosseguir. Algumas viaturas ficaram atoladas e tivemos que fazer com que avançassem à força. Chegamos a nosso destino ao meio-dia seguinte e ali nos inteiramos de que não nos esperavam tão cedo. Fomos recebidos com grande alegria. O Coronel Hansen elogiou-me e disse que faria a proposta para que eu fosse condecorado com a Cruz de Ferro.

Atravessamos o Beresina ao sul de Bosnick. Esta operação durou três dias, porque o inimigo nos deu muito o que fazer. Os russos conseguiram reunir forças e se defendiam como leões.

Decorridos quinze dias do início desta ofensiva, aprendêramos a nos abrigar utilizando o terreno. Em poucas ocasiões podíamos instalar nossos postos de comando normalmente, já que éramos obrigados a fazer grandes buracos para instalá-los. Assim podíamos dormir mais sossegados. Nossa situação era incômoda, porque a artilharia russa demonstrava ter boa pontaria.

Nossas posições, na margem direita, tinham cotas mais elevadas do que as do inimigo. Nosso comandante, Jochen Rumohr, mandou fazer uma trincheira de um metro e meio de profundidade ao longo da colina. Não era fácil, da retaguarda, chegar a ela; as comunicações estavam batidas pelo fogo inimigo. Os encarregados de reparar os danos causados pelo fogo dos russos levavam uma vida infernal, pois não tinham outra coisa a fazer a não ser abrigar-se constantemente para evitar que fossem atingidos pelo fogo; quando os cabos que reparavam não tinham sido danificados pelas granadas da artilharia soviética, eram por alguma de nossas viaturas. Dentre esses soldados houve muitos mortos e feridos.


Tropas da Wehrmacht marcham por uma estrada russa no verão de 1941.


Trincheiras mais profundas camuflavam os telêmetros e os equipamentos de rádio, assim como os telefones de campanha. O coronel viu claramente, através de um telêmetro, o prolongado zigue-zague das trincheiras inimigas na outra margem. Víamos apenas um ou outro soldado russo, uma vez que estavam perfeitamente cobertos e quase não se moviam, o que não quer dizer que não existisse um grande número deles em cada bosque e em cada colina. Tomamos a decisão de atirar com todas as peças ao mesmo instante em que notássemos um movimento de tropas nas trincheiras inimigas.

Aproveitamos uma pausa para acender um cigarro e beber um trago de nossos cantis. Tomamos também um pouco de muckefuck, o desagradável café que já conhecíamos de nosso tempo de aquartelamento; mas, naquele momento, achamo-lo delicioso.

Rumohr estava tão cansado que mal podia segurar o cigarro. Por isso decidiu dormir algumas horas; Wurach fez o mesmo. Pediram-me que os despertasse em caso de alguma novidade. Dormiram ao fechar os olhos, apesar da postura incômoda que foram obrigados a tomar.

Não parei de observar, através do telêmetro, que estava muito bem camuflado com folhagens. Podia ver uma parte de nossas posições e constatei que estavam tranqüilas. De vez em quando o inimigo atirava algumas granadas contra as nossas linhas; mas, em termos gerais, a situação era relativamente tranqüila.

Instintivamente observei algo que se movia nos bosques à nossa frente. Dois caminhões apareceram e desapareceram ante aos meus olhos, e muitos outros o seguiram envoltos em nuvens de poeira. Cheguei a contar quinze, vinte, quarenta deles, que foram seguidos por muitos mais. Ordenei que pusessem em contato, pelo rádio, com nossas três baterias. Feito o contato disse: "Preparar para fazer fogo sobre o ponto 'W', 18 graus!". Responderam-me: "Estamos prontos". Despertei o comandante e informei-o da novidade. Lembro perfeitamente a sua resposta:

- Seis tiros, Otto. Dê a ordem.
Em seguida voltou a fechar os olhos. Apressei-me em emitir a ordem e logo ouvi um sibilo, assim como as explosões na outra margem do rio.
Nosso tiro foi perfeito e não necessitou de qualquer correção. Tudo passou no intervalo de poucos minutos. Vimos vários soldados russos que se precipitaram em sair do bosque. Vimos, também, que vários pontos das posições inimigas estavam envoltos em chamas; escutamos as explosões de grande número de paióis.
Seguimos avançando pelas margens do Dnieper; uma inesperada chuva, que durou várias horas, deu idéia do que nos esperava. Tivemos que nos defrontar com verdadeiras montanhas de barro e lodo, que foram nossos maiores obstáculos. Os primeiros veículos fizeram valas tão profundas no terreno, que se atolavam nelas os que se seguiam. Neste aspecto, todas as precauções foram inúteis. Cortamos vários troncos de árvores e cobrimos o terreno com eles. Apesar de tudo só conseguíamos avançar lentamente. Tivemos um sem-fim de avarias e panes; os caminhões tiveram várias molas quebradas. Tínhamos esgotado todas as peças de reposição e não sabíamos onde encontrar novas. Abandonamos muitas viaturas nas margens da estrada. Desmontamos tudo aquilo que considerávamos de utilidade e deixamos o restante. Milhares de carcaças de viaturas puderam ser vistas nas estradas russas.

Soldados russos mortos na traseira de um tanque T-26 nos primeiros meses da guerra na Rússia.


Mantivemos um breve combate ao sul de Sckow; quando conseguimos passar o Dnieper, percebemos que a estrada principal estava completamente intransitável. Por esta razão, o grosso da Divisão atravessou o rio um pouco mais ao norte sobre uma ponte construída às pressas. Foi naquele momento que recebemos a terrível notícia de que a companhia de pontoneiros, que tinha ficado ao sul após construir a referida ponte, fora atacada em plena noite por tropas russas; só puderam salvar-se dois soldados que escaparam da tremenda carnificina, e foram eles, precisamente, que nos informaram o acontecido. O aspecto que oferecia o local da batalha era dantesco. Chegamos à conclusão que seríamos obrigados a lutar encarniçadamente na frente Leste.
Passamos por Suchari e chegamos a Tschernikow sem enfrentar muita resistência por parte do inimigo. Era a primeira cidade russa depois de Brest-Litowsk. Disse cidade, apesar de mal podermos considerá-la como tal; contava apenas com alguns prédios de alvenaria no centro; o resto eram construções de madeira, as típicas construções que podiam ser vistas em toda a Rússia.
A maior parte das ruas estava calçada com grandes paralelepípedos, que nos faziam recordar as ruas de nossas cidades medievais. Causou-me espécie ver numerosos microfones colocados a cada duzentos metros. Os alto-falantes, muito antigos certamente, estavam dentro das casas e tinham conexão com os dos edifícios públicos da cidade. Até que chegássemos nas proximidades de Moscou, não encontrei um só aparelho de rádio particular em toda a Rússia.

Fonte: Bibliex - Audaciosas ações de Otto Skorzeny - Autobiografia - Bibliex
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