segunda-feira, 15 de outubro de 2012

O GRAF SPEE EM AÇAO

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

O Graf von Spee em ação

Luta no Mar

O Graf Von Spee
Corsários Alemães

A tripulação do Almirante Graf von Spee estava rigidamente formada na coberta do encouraçado de bolso. Defronte deles, um homem de estatura mediana, olhos claros, penetrantes, observava-os. O mais denso silêncio envolvia a nave. De repente, o homem falou, pausadamente, com voz firme.
- Nossa Marinha de Guerra é invencível. O olhar de centenas de homens estava cravado nele. - Nosso Fuhrer foi marcado pelo destino! As fileiras estremeceram. - O destino da pátria está em suas mãos. Um silêncio carregado de emoção recebeu aquelas palavras. - A Alemanha espera que todos saibam cumprir o seu dever. Ouviu-se um grito, único. Era uma exclamação que ecoou com estranhas ressonâncias. - Heil Hitler!

Os marinheiros do Graf von Spee acabavam de conhecer o homem que os conduziria ao combate. Era deu chefe máximo, o comandante Hans Langsdorff. A partir daquele momento, o destino do barco e seus homens dependia inteiramente dele. Pouco faltava para a grande decisão.

3 de setembro de 1939

O Almirante Graf von Spee sulcava as águas do oceano a toda máquina, impulsionado por seus motores Diesel e se dirigia para a posição estabelecida. A bordo, tudo era animação.

De repente, um marinheiro surgiu de uma das escotilhas e aproximou-se correndo, de um grupo de jovens tripulantes que estavam ali perto. A excitação era visível em sua fisionomia. - Acabou de estourar a guerra! Aquelas palavras caíram em meio a um silêncio cheio de presságios. Após o primeiro momento de surpresa, os marinheiros crivaram seu camarada de perguntas. A resposta não se fez esperar. - Um radiotelegrafista captou uma mensagem de terra com a notícia. Avisamos imediatamente ao comandante Langsdorff e a guarda está sendo reforçada. Os homens calaram-se. Todos pensavam naquelas palavras que acabavam de escutar. “Acabou de estourar a guerra”.

Horas mais tarde, diante da tripulação reunida, o comandante Langsdorff confirmou a notícia e falou a seus homens. “A Alemanha espera que todos cumpram o seu dever”.


Primeira presa

No dia 30 de setembro de 1939, o Almirante Graf von Spee navegada a toda máquina nas águas do Atlântico Sul. A tripulação dedicava-se às tarefas de rotina quando os apitos deram a impressão de um combate iminente. Correndo, os homens ocuparam seus postos e se prepararam. Os olhares se cravaram na ponte de comando. Dali, vários oficiais examinavam a linha do horizonte. Pouco depois, por entre a pesada bruma que ocultava o horizonte, surgiu uma longínqua silhueta. Aquela visão fez os tripulantes estremecerem. Era um navio inimigo, sem dúvida. Agora só faltava saber se era de guerra ou mercante. Mas, pouco tempo durou a incógnita.

O telegrafista do Graf von Spee transmitiu imediatamente a intimação. “Detenham a marcha e parem seu transmissor” ... “detenham a marcha e parem seu transmissor...” Ao mesmo tempo, um tiro do encouraçado cobriu de ecos a imensidão do oceano. O projétil, disparado com precisão, levantou uma coluna de água a poucas dezenas de metros da proa do navio mercante. O barco deteve imediatamente sua marcha. Pouco depois, já próximos do navio mercante, distinguiram claramente seu nome: “Clement”. Era um cargueiro inglês de 5.000 tons., que procedia do Brasil. Encontrava-se, na ocasião, na altura de Pernambuco.

Foi a primeira nave capturada e destruída pelo: Almirante Graf von Spee. As conseqüências dessa ação não se fizeram esperar.

Caçada ao corsário

No Almirantado britânico, a notícia do afundamento do Clement confirmou suspeitas existentes. Sem dúvida, uma nave inimiga operava na zona do Atlântico Sul. O Alto Comando inglês determinou a formação de vários grupos de caça, destinados a patrulhar a zona e, eventualmente, encontrar o agressor desconhecido.

Os grupos formados eram nove, no total. Eram integrados por 23 navios de guerra. Os grupos e seus navios eram os seguintes: Grupo F, com os cruzadores Bernwick e York; Grupo G, com os cruzadores Cumberland, Exeter, Ajax e Aquiles; Grupo H, com os cruzadores Sussex e Shropshire; Grupo I, com os cruzadores Cornwall e Dorsetshire e porta-aviões Eagle; Grupo J, com o navio de linha Malaia e o porta-aviões Glorious; Grupo K, com o navio de linha Renown e o porta-aviões Ark Royal; Grupo L, com o navio de linha Repulse e o porta-aviões Furious; Grupo X, com dois cruzadores franceses e o porta-aviões Hermes e o Grupo Y, com o navio de linha Strassbourg, o cruzador Neptune e um cruzador francês.

A importância que o Almirantado dava à operação ficou comprovada pelo fato de destinar-lhe um grupo tão numeroso de naves. De fato, muitas delas procediam de diversas guarnições localizadas em pontos de vital importância. Essas guarnições ficavam, assim, com o seu poder ofensivo diminuído.

Novas vítimas

No dia 5 de outubro de 1939, verificou-se um novo acontecimento que pôs em estado de alarme toda a frota inglesa. Nesse dia, no Cabo da Boa Esperança, foram afundados três novos navios mercantes. As três naves desapareceram sem deixar rastro algum. Nenhuma mensagem foi transmitida. Nenhum pedido de socorro cruzou os ares. Os três barcos haviam sido afundados de forma rápida e inesperada, impedindo-lhes qualquer reação.

Imediatamente os grupos de caça entraram em ação. Pela metade de outubro, a caçada se concentrou ao redor do Graf von Spee. A operação, habilmente planejada, ficou a cargo do Grupo K, integrado pelo Renown e Ark Royal. Reuniram-se a ele os grupos X, que contava com dois cruzadores franceses e o porta-aviões inglês Hermes e G, sob o comando do Comodoro Harwood e composto pelos cruzadores Cumberland, Exeter, Ajax e Aquiles, este último neozelandês. O grupo G, de fato, tinha a seu cargo, desde o início, a operação de patrulha da zona correspondente à costa oriental da América do Sul.

E assim chegou o dia 15 de novembro de 1939. Nesse dia, o Graf von Spee fez mais uma presa. Um barco inglês foi afundado no canal de Moçambique, entre Madagascar e a costa da África. Com aquele ataque, o Graf von Spee tentava atrair para as águas do Oceano Índico a frota inglesa. Por isto, após o afundamento, emproou para o Atlântico. Mas, sua manobra foi prevista e os navios de guerra britânicos não descuidaram sua vigilância.

No dia 2 de dezembro de 1939, o Graf von Spee afundou dois outros barcos inimigos nas águas do Cabo da Boa Esperança. No dia 7 do mesmo mês, juntou uma nova vítima à sua longa lista.

Harwood

Porém, na zona do Rio da Prata, o Comodoro Harwood, no comando do grupo de caça G, estudou detidamente a campanha de seu poderoso adversário. Deduziu, de seus aparentes movimentos, que o navio inimigo seguiria rumo à zona do Rio da Prata e que ali chegaria aproximadamente em 13 de dezembro. Harwood, portanto, alertou seu grupo e preparou-se para a batalha. Sua força de operação era composta, originariamente, por quatro cruzadores. Nessas condições, seu poder de fogo era tal que permitia-lhe enfrentar com êxito um combate com o Graf von Spee. Mas, naquela emergência, o grupo achava-se diminuído em seu poderio pela ausência do cruzador Cumberland, que naquela ocasião estava na base das Ilhas Malvinas, para abastecimento e reparos. Ficaram, portanto, três cruzadores para enfrentar o poderoso navio de batalha alemão. A força era, portanto, insuficiente. No entanto, Harwood se apressou em direção à batalha.

Pressa para o combate

No Graf von Spee, enquanto isso, a navegação continuava, em obediência aos planos previstos. Era o dia 13 de dezembro de 1939, dia em que o Comodoro Harwood havia calculado avistar o navio alemão.

A bordo do poderoso encouraçado, o grosso da tripulação descansava em suas macas. Somente o pessoal da guarda e da vigilância ocupava seus postos. A noite havia começado a desaparecer e as primeiras luzes da madrugada acendiam-se no horizonte. De repente, o alarme soou em todo o barco. Centenas de marinheiros saltaram de seus leitos e correram para ocupar seus postos de combate. Na coberta já se encontrava o comandante Langsdorff, examinando com seu binóculo o horizonte. De cima, os vigias faziam a mesma coisa. Logo os rumores começaram a correr por todo o barco.
- É um navio mercante... - É um navio mercante e um de guerra... - É um cruzador e dois navios mercantes... Ao longe, muito ao longe ainda, uma pequena frota ia ao encontro do Graf von Spee. Eram os três cruzadores do Comodoro Harwood.

O comandante Langsdorff, sem vacilar, ordenou que se avançasse a toda máquina, rumo ao inimigo.

Fogo a vontade

A ação começou quase simultaneamente por ambos os lados. Após diminuir as distâncias, um dos cruzadores pediu ao Graf von Spee a correspondente identificação. O encouraçado alemão respondeu içando a bandeira de combate. Imediatamente, os canhões abriram fogo. A resposta foi instantânea. Os canhões do Exeter vomitaram fogo e o combate acendeu-se.

Os cruzadores ingleses, aproveitando a vantagem que lhes dava o número, bifurcaram sua rota. O Exeter tomou um rumo, enquanto os outros dois cruzadores menores se dirigiam em direções opostas, separando-se. Após os primeiros tiros, as avarias já eram vistas, tanto no Graf von Spee, como no Exeter.

No cruzador inglês, voou parte da chaminé, enquanto alguns projetis de seus canhões atiravam contra o encouraçado alemão. Os cruzadores menores, por sua vez, dispararam seus torpedos contra o navio alemão, um dos quais atingiu o alvo. Após alguns minutos de combate, um tiro de artilharia alemã atingiu o Exeter, destruindo-lhe uma torre e fazendo voar a ponte de comando. As conseqüências foram graves para o barco inglês que, devido as suas avarias, ficou fora de controle. Enquanto isso, disparado com precisão, um torpedo inglês atingiu em cheio o casco do Graf von Spee, abrindo-lhe um grande buraco. Ante tal emergência, o encouraçado alemão fez uma volta e afastou-se de seus atacantes, oculto atrás de uma cortina de fumaça. Enquanto isso, no barco alemão, examinavam os danos causados pelo torpedo.

Nos barcos ingleses, entretanto, a situação era menos grave. O Exeter navegava com dificuldade e era visível um incêndio na parte média do barco. Suas baterias, praticamente, achavam-se fora de ação. O Ajax e o Aquiles, por sua vez, continuavam a perseguição, navegando aos lados do Graf von Spee e descarregando artilharia contra o encouraçado. Foi naquele instante que um dos projeteis que o encouraçado alemão disparou sobre o Aquiles, matou, na ponte da nave, o comandante do cruzador.

Eram 7:25 da manhã, quando o Comodoro Harwood, do Ajax, determinou interromper a ação. Imediatamente sua nave abandonou o cenário da luta, protegida por uma cortina de fumaça. O Graf von Spee não o seguiu.

Rumo à armadilha

A batalha havia terminado após uma hora e 20 minutos de combate. Às 8:00, no dia 13 de dezembro, uma distância de 15 milhas separava as forças inimigas. O Graf von Spee havia tomado o rumo de Montevidéu. De cima, o avião do cruzador Ajax vigiava os movimentos do encouraçado alemão. Às 9:00, a tripulação teve conhecimento de seu rumo, já perto da costa. Teve, então, noção da situação de inferioridade em que a nave se encontrava, com as reservas de munição quase esgotadas, escassa água, avarias, e, além disso, com a ameaça de um novo encontro com poderosas forças inglesas que se presumia estariam se dirigindo para o local da luta.

Durante toda tarde, o navio alemão navegou à procura do porto de Montevidéu. Perto, seguindo seu rumo, os dois cruzadores menores ingleses, Ajax e Aquiles, não abandonavam o rastro do inimigo. Enquanto isso, a toda máquina, aproximava-se o Cumberland, enviado apressadamente da base das Malvinas. Dirigiu-se para o lugar dos acontecimentos, também a força K, composta pelos barcos Renown e Ark Royal. Essas duas unidades se encontravam ainda a 600 milhas de Pernambuco. Sua intervenção na ação era muito pouco provável. O Almirantado em conseqüência, procedeu astutamente e fez emitirem mensagens dizendo que tal força já se encontrava ao sul do Rio de Janeiro e avançava à velocidade de 30 nós.

Assim, chegou a noite e o encouraçado alemão alcançou seu objetivo. Antes da meia noite entrou no porto de Montevidéu. O comandante alemão Langsdorff, de Montevidéu, irradiou no dia 16 uma mensagem destinada ao Alto Comando da Marinha de guerra alemã. Seu texto dizia: “Posição das forças, em Montevidéu. Além de cruzadores e destróieres, o Ark Royal e o Renown”. Bloqueio estreito durante a noite. Fuga a mar aberto e escapada as águas alemães impossível. Solicito decisão a respeito de se o barco deve ser afundado apesar da pouca profundidade do Rio da Prata ou se é preferível internação”. A resposta não se fez esperar. “Tente estender permanência águas neutras. Abra caminho lutando para Buenos Aires se for possível. Não se interne no Uruguai. Tente destruição efetiva se decidir afundar o navio”.

Enquanto isso, o navio era objeto de contínuos e intensos trabalhos de recondicionamento por parte da tripulação. Os buracos feitos pelas granadas inimigas foram cobertos por grossas pranchas de aço e os restos das estruturas derrubadas, desarmadas e afastadas para não dificultar a tarefa. A tripulação se dedicou ativamente à tarefa de limpar e ainda lustrar os bronzes do navio, como se efetivamente a partida fosse iminente. Outras tarefas, dramáticas, já haviam sido cumpridas. A primeira foi a descida para terra dos feridos, para maior cuidado. Muitas ambulâncias os conduziram sem demora para hospitais e sanatórios. Vários furgões cumpriram a tarefa também dolorosa de transportar os tripulantes mortos.

O comandante Langsdorff, porém, cumpria diversas diligências destinadas a obter uma ampliação do prazo de 72 horas a que tinha direito o navio antes de abandonar o porto. Junto ao pessoal diplomático e da respectiva embaixada, o marinheiro alemão esgotou seus recursos. Mas, tudo foi em vão.

A grande decisão

Foi com grande surpresa que a tripulação recebeu ordens de abandonar o navio e transportar-se para uma navio alemão, o Tacoma., que se achava no porto de Montevidéu. Porém, conhecendo a gravidade do momento, obedeceu e abandonou o encouraçado. Um total de 700 homens foram transportados, ficando a bordo somente o mínimo de tripulantes necessários para por em marcha e dirigir o navio naquela que seria sua última viagem. Por fim, às 18:15, do dia 17 de dezembro, o Graf von Spee levantou âncoras e abandonou o porto. Duas horas e meia depois, às 20:54, o avião do cruzador Ajax que seguia a manobra do alto e ao longe, enviou a seguinte mensagem: “O Graf Spee está em brasas”.

No dia seguinte, 18 de dezembro, a tripulação do encouraçado alemão chegou ao porto de Buenos Aires a bordo de três rebocadores. Com eles vinha o seu comandante, Hans Langsdorff e a oficialidade do navio. Um dia depois, 19 de dezembro, o comandante Langsdorff visitou seus homens, rodeado por seus oficiais. Foi sua última revista. E sua última arenga. Após exortá-los ao cumprimento do dever e a lealdade à pátria distante, Langsdorff se afastou de sua antiga tripulação.

Pouco depois o comandante alemão escreveu: “Agora posso provar, por meio da minha morte, que as forças do Terceiro Reich estão prontas para morrer em honra de sua bandeira. Sou o único responsável pelo afundamento do encouraçado de bolso Almirante Graf von Spee. Sinto-me feliz de oferecer minha vida em troca de qualquer dúvida que possa surgir acerca da honra de minha bandeira”.

No dia 19, à noite, o comandante Langsdorff se suicidou disparando uma bala na cabeça. No dia 20, pela manhã, seus homens acharam seu corpo sem vida. Hans Langsdorff havia cumprido a tradição de não sobreviver a sua nave.

Os sucessores do Graf Spee

A campanha do Admiral Graf Spee, curta mais frutífera, confirmou a eficiência dos planos traçados pelo Almirante Raeder, chefe da Kriegsmarine. Esses planos concebidos para hostilizar os barcos mercantes aliados e conseguir a dispersão das unidades pertencentes à frota de guerra britânica haviam-se cumprido plenamente. Com efeito, grande quantidade de navios de guerra britânicos tiveram que ser deslocados para o Atlântico Sul e para o Índico, onde se supunha operava o navio alemão. Prosseguindo com o plano estabelecido, o Alto-Comando naval alemão enviou ao Atlântico, entre os meses de abril e junho de 1940, cinco barcos mercantes corsários, poderosamente armados. Outro navio desse tipo alcançou o Pacífico depois de uma longa e arriscada travessia através dos mares gelados do norte da Rússia.

A flotilha de corsários realizou uma série de audazes ataques aos barcos mercantes aliados e espalhou o caos nas rotas de navegação. Em fins de setembro de 1940, os corsários que operavam no Atlântico e no Índico tinham conseguido afundar 36 navios aliados. O êxito dessas operações levou a marinha alemã a arriscar novamente suas grandes unidades de guerra. Efetivamente, em fins de outubro de 1940, no dia 27, o navio gêmeo do Graf Spee, o Admiral Scheer, comandado pelo Capitão Krancke, internou-se no Atlântico a fim de atacar os comboios que abasteciam a Inglaterra. Um mês depois, o cruzador Hipper fez-se ao mar com os mesmos fins. O Scheer estendeu suas operações ao Atlântico Sul e ao Índico e conseguiu em uma campanha de quase cinco meses de duração, afundar 16 navios aliados. As vitórias obtidas pelas unidades citadas fizeram que Raeder empenhasse nas operações seus grandes navios de guerra, o Gneisenau e o Scharnhorst que, depois de serem submetidos aos necessários reparos, após sua campanha da Noruega, achavam-se estacionados no porto francês de Brest.

Em 3 de fevereiro de 1941, os dois navios sob o comando do Almirante Lutjens, internaram-se no Atlântico, amparados pela neblina. Simultaneamente, o Hipper, que havia retornado a Brest após sua primeira incursão, zarpou também rumo ao Atlântico Sul. Os dois cruzadores alemães, avistaram, 5 dias depois, um comboio britânico. O Almirante Lutjens decidiu não atacá-lo, ao comprovar que estava escoltado pelo encouraçado inglês Ramillies. Mas este primeiro contratempo viu-se rapidamente compensado pela aparição de novas presas. Em um só dia, o Gneisenau e o Scharnhorst, com seus poderosos canhões, afundaram cinco navios mercantes britânicos. Após esta vitória, Lutjens afastou-se rapidamente para o sul para iludir o possível contragolpe da frota de guerra inglesa. Os barcos alemães conseguiram seu maior êxito entre os dias 15 e 16 de março, quando destruíram ou capturaram 16 navios mercantes aliados. Lutjens julgou então prudente dar por terminada a campanha. Sem ser interceptado, conseguiu entrar, no dia 22 de março, no porto de Brest. Enquanto isso, o Hipper realizou um ataque devastador contra um comboio britânico integrado por 19 navios. Disparando incessantemente seus canhões, conseguiu afundar 9 dos navios. Em seguida afastou-se a toda máquina, e conseguiu chegar a Brest.

Assim, com esses audazes golpes, os navios alemães conseguiram forçar a frota britânica a retirar seus efetivos da ação direta e empregá-los na caça aos corsários. A essa difícil tarefa some-se também a ação contra os submarinos.

Hitler põe fim à ação dos corsários

No dia 21 de maio de 1941 a Marinha britânica teve de enfrentar uma nova e terrível ameaça. Nesse dia foi avistado o poderoso encouraçado alemão Bismarck acompanhado pelo cruzador Prinz Eugen, no fiorde de Bergen, Noruega. Rapidamente a frota britânica mobilizou seus principais efetivos e após uma árdua perseguição, conseguiu afundar o Bismarck. Em Brest, ficaram, ainda o Gneisenau e o Scharnhorst, que em qualquer momento podiam voltar a repetir suas façanhas. Para impedir isso a RAF realizou então cerca de 300 reides contra este porto. Atingidos pelo fogo antiaéreo, os aviões ingleses sofreram terríveis perdas. Os navios alemães, ao contrário, saíram imunes dos múltiplos ataques. Só leve avarias.

Com a entrada dos Estados Unidos no conflito, em dezembro de 1941, apresentou-se uma extraordinária possibilidade aos corsários alemães. Com efeito, o campo de ação dos mesmos, ampliara-se consideravelmente. Ficaram expostos aos seus ataques as águas do Atlântico ocidental e as do mar do Caribe.

A frota submarina alemã aproveitou essa situação com extraordinários resultados. Os corsários, no entanto, não puderam fazer o mesmo, pois Hitler, acreditando erradamente que os aliados pretendiam invadir a Noruega, ordenou que todas as grandes unidades de superfície se dirigissem para aquele país. O Tirpitz chegou a Trondheim em janeiro de 1942 e uniram-se a ele logo depois o Scheer e o Hipper. O Gneisenau, o Scharnhorst e o Prinz Eugen conseguiram por sua vez, em uma audaz manobra realizada sob a proteção da Luftwaffe, abandonar Brest e atravessar o Canal da Mancha. Posteriormente, após sofrer avarias ocasionadas pelas minas, alcançaram o porto de Kiel. Ali o Gneisenau foi seriamente danificado pelos bombardeiros da RAF e não interveio mais nas operações. As outras duas unidades dirigiram-se para a Noruega onde atuaram, junto com o Tirpitz, em algumas incursões contra os comboios aliados que se dirigiam para a Rússia.

ANEXO

Abordagem
A silhueta do navio se recortou à distância. Uma chaminé fumegava sem parar, deixando um traço que escurecia o céu. Nos costados, os marinheiros do Graf Spee contemplam o navio silenciosos. Um apito soou, estridente. Os homens se mobilizaram imediatamente. Ocuparam seus lugares de combate e se prepararam para a ação. O Graf Spee cortou as águas mudando sua rota. Lenta mas firmemente, aproximou-se do barco inimigo. Os esforços deste último para fugir do encouraçado foram inúteis. Por fim, quando apenas algumas centenas de metros separavam as duas embarcações, partiram do Graf Spee os sinais de rotina. “Detenham a marcha... Silenciem o rádio... Detenham a marcha... Silenciem o rádio...” O barco inimigo, um navio mercante inglês, desobedecendo a advertência, tentou valentemente forçar a situação. Virou rapidamente e afastou-se a toda máquina. Ouviu-se uma ordem no Graf Spee. Seguiu-se um fogacho e uma surda detonação. Uma massa de água se levantou a poucas dezenas de metros da proa do navio mercante inglês. Era o primeiro aviso. Já não se podia mais esperar. Era possível, quase certo, que o transmissor inimigo estivesse irradiando continuamente o pedido de auxílio e a posição das duas naves. Não se podia mais correr riscos. Ouviu-se uma nova ordem. Atrás dela, nova detonação. Desta vez, o alvo estava enquadrado. A chaminé do navio inglês saltou aos pedaços. Instantes depois, o barco detinha sua marcha. Então o Graf Spee parou seus motores. Uma lancha, conduzindo vários oficiais e um grupo de marinheiros armados foi posta na água. Em seguida, rumou para o barco inimigo. Uma nova presa havia sido feita.


Abastecimento em alto mar
A proa cortava rapidamente as ondas. Em ambos os costados, uma chuva de espuma voava, decompondo a luz do sol em mil cores. Da ponte, vários oficiais perscrutavam o horizonte. O capitão Langsdorff juntou-se a eles. A oficialidade assumiu posição de sentido. A um gesto do chefe, os homens voltaram à sua atitude anterior. De repente, um deles lançou uma exclamação: - Ali está! Todos olharam para a direção assinalada. De fato, ali estava. Era um navio mercante. Recortava-se no horizonte. À primeira vista. Era uma embarcação comum. Mas para os oficiais do Graf Spee, era algo mais. Era um auxiliar indispensável: o Altmark. Vários botes do Graf Spee foram baixados para as águas. Alguns oficiais tomaram lugar neles e se dirigiram para o navio que avançada em sua direção. Pouco depois, já próximos os dois navios, detiveram a marcha. Durante várias horas os homens do Graf Spee e do Altmark cruzaram-se uma e muitas vezes. Barris, bolsas, canhões, remédios e outros objetos foram rapidamente conduzidos do Altmark para o Graf Spee. Através dos cabos telefônicos, estendidos entre os dois navios, a oficialidade deu informações e pediu dados. Enquanto isso, os botes continuavam a sua tarefa. Horas mais tarde, depois de retirarem os cabos e as cordas, a tarefa estava concluída. Os botes foram içados e as naves de prepararam para se afastar. No Altmark, as bandeiras começaram sua dança de palavras-chave. A resposta não se fez esperar. Pouco depois, os motores do Graf Spee começaram a roncar. Rapidamente pôs-se em movimento e acelerou a marcha. Os homens, acomodados nas bordas da poderosa nave, cravaram os olhos no navio mercante que se tornava pequeno à distância. Um pedaço da pátria ficava ali.


Transformação
Os homens se alinharam na coberta. Vários oficiais, dividindo-os em grupos, explicaram-lhes sua missão. Pouco depois, munindo-se de grandes pedaços de madeira, cordas, pregos, martelos e baldes de tinta, os marinheiros se espalharam pelo navio. Uma estranha atividade começou então. Grandes tábuas foram pregadas, cobrindo as torres de tiro. Extensas lonas foram esticadas, envolvendo-as. Depois, a pintura foi feita rapidamente, por dezenas de marinheiros que assim, dissimularam aquelas estruturas. A transformação estava concluída. O Graf Spee perdera seu aspecto característico. Vista à distância, a formidável nave de guerra, cuja silhueta o inimigo conhecia de cor, havia desaparecido. Em seu lugar aparecia a desconhecida silhueta de outro navio qualquer. Qual? Ninguém poderia dizê-lo. Porque aquele navio não existia. Havia sido criado em horas. Era um milagre da camuflagem.


Encouraçado Admiral Graf von Spee
Pelo Tratado de Versalhes, a Alemanha viu-se impedida de construir navios de guerra de mais de 10.000 tons. A limitação tinha por objetivo tornar, de certa forma, inofensiva a frota de guerra alemã. Mas, a ciência naval germânica achou a fórmula para burlar a disposição aludida. Exemplo disso foram os encouraçados de bolso.
Deslocamento: 10.000 toneladas
Motores: 54.000 HP
Velocidade (em nós): 26
Autonomia (em milhas): 10.000
Armamento: 6 canhões de 280 mm; 8 de 150 mm; 6 de 105 mm; 8 de 37 mm e 8 tubos lança-torpedos.


Presa cobiçada
O encouraçado Graf Spee navegava a toda força. Sua missão era a de afundar a maior quantidade possível de navios inimigos. A oportunidade de fazê-lo se apresentava novamente. Os observadores do Graf Spee deram a voz de alarme. A tripulação se preparou imediatamente para a ação. Longe ainda, a silhueta de um navio mercante se perfilava contra o horizonte. Pouco depois, a distância se havia encurtado consideravelmente. Foi nesse instante que os sinaleiros do encouraçado alemão indicaram ao navio desconhecido que detivesse a marcha. Este, sem acatar a ordem, forçou as máquinas, tentando escapar. Mas os canhões do Graf Spee troaram imediatamente. Uma tromba d’água se levantou na proa do mercante. A pontaria era excelente. O aviso deu resultado. As máquinas do barco desconhecido detiveram a sua marcha instantes depois. A tripulação de abordagem chegou minutos depois, fortemente armada. Após minuciosa vistoria nas despensas, comprovou-se que o navio transportava um rico carregamento. Sem perda de tempo, o capitão Langsdorff e seus oficiais estudaram a situação. Restavam dois caminhos: afundá-lo com seu carregamento ou arriscar tudo, rebocando o navio até a proximidade do Altmark. Decidiu-se pela última solução. Pouco depois, preso ao Graf Spee por fortes cabos de aço, o navio mercante pôs novamente em marcha as sua máquinas e retomou o avanço... Dias depois, a apareceu subitamente o Altmark, chamado por mensagem cifrada. Procedeu-se, então, o transporte do rico carregamento. Depois, os prisioneiros. Por último, após afundar o navio mercante e reabastecer-se de petróleo, o Graf Spee recomeçou a marcha. A aventura havia tido êxito.


Sacrifício
Todo o povo de Montevidéu já se havia postado no cais. Das sacadas dos prédios mais altos, milhares de pessoas seguem a marcha de um barco. Muitos utilizam binóculos, outros cobrem os olhos com as mãos transformadas em quebra-luz. Todos estão ansiosos, amigos e inimigos. O espetáculo que contemplam é único nessa terra de paz. Um navio marchando para o combate jamais partiu daquele porto. Menos ainda um encouraçado. Um grande silêncio se estende sobre a cidade. Longe, a centenas, a milhares de km, em outras cidades de outros países, as comunicações de rádio obrigam a guardar o mesmo silêncio. As notícias são dramáticas. “O navio já zarpou... Dirige-se para a saída do porto... Ao longe, podem-se ver os navios ingleses...” Uma competição que leva a um só resultado: morte. De repente, a nave se detém. Ainda pode ser vista do porto de Montevidéu. O enigma é explicado 10 segundos depois. Pequenos pontos negros se elevam de suas bordas. São alguns botes salva-vidas, carregados com os últimos homens que permaneciam a bordo. Subitamente, a terra estremece. O velho rio parece sacudir-se em seu leito. Uma estrondosa explosão provoca mil ecos que ressoam muitas vezes. Outra explosão, e outra mais, e ainda muitas outras. Línguas de fogo se elevam sobre a superfície do rio. Altas colunas de fumo se levantam, dando à nave o aspecto de uma pira funerária. O navio começa lentamente a desmoronar-se. Pontes, torres, estruturas que se despregam, somando surdos ecos à sucessão de explosões que não param. No interior do barco, com o caminho aberto pelos projéteis que se lançam em todas as direções, a água invade tudo. Um momento depois tudo termina.


O “Spee” em Buenos Aires
Chegava as primeiras horas da tarde. Sobre o rio da Prata, aproximando-se lentamente de Buenos Aires, vários rebocadores apresentavam um estranho aspecto. Suas pequenas cobertas, os botes salva-vidas e as bordas, permaneciam ocultas por uma multidão de homens jovens, que vestiam uniformes da marinha de guerra alemã. Eram os homens do Graf Spee. Seu rumo: Buenos Aires. Doca norte. Uma longa fila de marinheiros aguarda pacientemente. Permanecem silenciosos, inibidos. São muitos os que se aproxima deles e os saúdam cordialmente. Respondem com gestos e sorrisos e as mãos se agitam. Ainda estão aturdidos por tudo o que aconteceu e mal podem crer que a guerra terminou par eles. Um momento depois, o exame médico dos marinheiros termina. Começa então o trabalho de identificação. Depois de terminado, os homens são conduzidos ao Hotel dos Imigrantes. O pesadelo está terminado.


Um homem e seu barco
19 d dezembro de 1939. Buenos Aires. Os marinheiros do Spee comentam risonhamente a aproximação do Natal. Para muitos, talvez para todos, aquele é o primeiro fim de ano que passam fora de casa, longe dos parentes. Muitos receberam presentes, simples ou modestos, que testemunham o carinho de um povo que não quer fazer diferença entre amigos e inimigos, de um povo que não conhece a dor da guerra, mas pode percebê-la através das experiências de muitos homens afastados de seu lares. Dezenas de marinheiros enchem suas horas com uma única ocupação: escrever para a terra distante. Cartas aos pais, aos amigos, às noivas. Nessa manhã, inesperadamente, surge uma visita. É o Capitão Langsdorff. Aparece como nas grandes revistas de bordo, rodeado por seu Estado-Maior. Vem em uniforme de gala e as condecorações cobrem seu peito. Os homens se perfilam. Langsdorff passa revista lentamente e depois se detém na frente deles. Fala-lhes com emoção: - A honra da Alemanha está acima de tudo. Confio em vós, em vosso sentimento de dever, em vosso sentido de disciplina. Quando se retira, minutos depois, um grande silêncio cai sobre os marinheiros que ainda permanecem em posição de sentido. Compreendem que continuam sendo combatentes, que seus uniformes ainda representam a Alemanha. Compreendem que o capitão confia neles e pede-lhes que não esqueçam sua condição. Muitos fazem a mesma pergunta: qual o motivo daquelas palavras emocionadas? Por que aquela arenga que mais parece uma despedida? Na manhã seguinte, 20 de dezembro, cinco dias antes do Natal, tem a resposta. Langsdorff deixara de existir. Durante a noite, vestido com seu uniforme de gala e com o peito cheio de medalhas, só em seu quarto, o capitão se suicidara.


O sacrifício do Jervis Bay
5 de novembro 1941, O encouraçado alemão de bolso Admiral Scheer navegava em águas do Atlântico. Seu avião de reconhecimento foi lançado ao ar, patrulhando a zona, em busca de navios inimigos. São 16:50. O piloto do avião comunica que avistou um comboio inimigo integrado por 37 navios e escoltado por um barco mercante armado. Imediatamente o Scheer lança-se na direção indicada e avista os navios. A presa é fácil e o resultado da luta pode ser previsto. No entanto, os homens do Scheer não calcularam uma possibilidade sempre latente: o heroísmo e o espírito de sacrifício. E as duas qualidades estão ali, representadas pelos homens do mercante armado. O pequeno e quase inofensivo barco escolta é o Jervis Bay. Navega sob o comando do Capitão Fegen e sua tripulação é de apenas 200 homens. O Jervis Bay, à vista do Scheer, muda sua direção e dirige-se a toda máquina contra o encouraçado. O Capitão Fegen sabe que seu navio nada pode fazer, mas sabe também que seu pequeno barco pode distrair o encouraçado enquanto os navios do comboio se dispersam ou fogem. E seus canhões, pequenas peças de pouco alcance, abrem fogo contra o encouraçado alemão. O Scheer imediatamente responde com todas suas peças. O combate desproporcional, irreal, prolonga-se até as primeiras horas da noite. Às 20:00 o Jervis Bay, destroçado pelos impactos do encouraçado alemão, começa a afundar. A bordo, sem abandonar o navio, afundam com ele 200 oficiais e marinheiros. Na ponte de comando, sem desfalecer, permanece até o último momento o Capitão Fergen. O sacrifício foi consumado. Mas teve um objetivo: salvar os navios do comboio.

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