segunda-feira, 15 de outubro de 2012

A LUTA NA NORMANDIA

Luta na Normandia

Bradley rompe as linhas alemães

Rompimento da frente alemã na Normandia, em Saint Lo
Plano Cobra


Enquanto Montgomery fracassava em seu intento de quebrar a frente alemã em Caen, as forças americanas se aprontavam para levar avante o seu propósito de romper no leste. Essa manobra seria decisiva para colocar um ponto final na resistência às operações na França. Depois do resultado adverso da primeira investida das tropas do General Bradley, este procurou re-estudar a situação, para, como ele mesmo salientou, "encontrar um trampolim por onde pudéssemos saltar para o ataque de rompimento".

Durante dois dias, Bradley permaneceu estudando os mapas, tratando de encontrar o ponto mais favorável para levar avante o ataque. Nasceu assim o plano Cobra, cujos resultados seriam conhecidos militarmente como "o rompimento do Normandia". Essa operação foi decisiva, pois colocou um fim à resistência alemã organizada, na França.

Antes de ser posta em marcha a operação Cobra, Montgomery, como já se descreveu, levou a cabo o ataque, sem êxito, na zona de Caen.

Por conseguinte, todas as esperanças ficaram depositadas no plano Cobra.


Conquista de Saint Lo

O plano do General Bradley considerava o rompimento sobre uma estrada que corria paralela à frente, da cidade de Saint Lo até Perier. Portanto, a captura da cidade de Saint Lo, no extremo da linha, era vital para assegurar o desenrolar do avanço posterior.

Os alemães haviam localizado suas posições nos colinas situadas ao norte e ao noroeste de Saint Lo, num terreno extremamente vantajoso para a defesa. No mês de julho, antes que os americanos levassem a cabo o ataque contra a cidade, numa escaramuça, os alemães conseguiram capturar uma ordem de campanha no qual Soint Lo era citada como um dos principais objetivos dos americanos.

O Alto-Comando decidiu, então, reter, a qualquer preço, essa posição. As forças com que a Wehrmacht contava na zona de Saint Lo se resumiam no 2o Corpo de Pára-Quedistas.

Este era formado pela 3a Divisão de Pára-Quedistas e uma brigada de assalto de três grupos de combate. Embora as tropas não pudessem cobrir suficientemente a frente, era de esperar uma resistência tenaz, pois se tratava de unidades veteranas, extremamente aguerridas.

O chefe alemão, General Meindel, embora achasse o número de tropas insuficiente para cobrir a ampla frente, confiava que as excelentes posições defensivas que elas ocupavam, lhes permitiria rechaçar o ataque americano em Saint Lo. Ao se iniciar a ofensiva, empreendida pelo 19o Corpo de Exército americano, do General Corlett, o centro das operações foi a colina 192, que dominava um dos acessos. Cooperou também, nesse ataque, o 5o Corpo americano, do General Gerow. Uma de suas divisões de infantaria se lançou ao assalto da colina. A unidade era veterana, porém Gerow não confiava no êxito final da operação. Num assalto anterior, tentado no mês de junho, a divisão sofrera umas 1.200 baixas, sem alcançar seu objetivo.

A artilharia começou a varrer a elevação com um violento fogo, enquanto as tropas abriam buracos nas sebes para que, por eles, avançassem os tanques, sem demora.

Um informe da aviação assinalava que a colina 192 fôra de tal forma martelada pelo fogo da artilharia, que ficara convertida numa massa de terra triturada. Contudo, continuava a ser uma posição forte. Entrincheirados num intrincado sistema de fortificações subterrâneas, os soldados de um batalhão da 3a Divisão de Pára-Quedistas esperavam o assalto.

A missão do ataque foi confiada ao 38° Regimento de Infantaria, apoiado por três companhias de tanques e duas de morteiros pesados. A operação foi iniciada na manhã de 11 de julho.

Uma bruma espessa cobria o campo de ação, o que obrigou o cancelamento do planejado bombardeio aéreo de apoio. Durante vinte minutos, os canhões de campanha da 2° Divisão martelaram a colina, para abrir caminho aos regimentos de assalto.

O 38° Regimento, que marcharia na vanguarda, se retirara na noite anterior, a várias centenas de metros para a retaguarda, a fim de proteger-se de possíveis erros do bombardeio aéreo de apoio. Assim, quando a ordem de ataque foi dada na manhã de 11 de julho, os soldados do regimento tiveram que avançar novamente, recuperando o terreno perdido.

Os alemães, entrementes, haviam observado o retrocesso das tropas americanas. Acertadamente, deduziram que o movimento era sinal de um ataque iminente. Por conseguinte, os pára-quedistas saíram dos seus refúgios e avançaram sobre as posições ocupadas anteriormente pelos americanos.

Dessa forma, quando os infantes americanos se lançaram novamente ao assalto, foram recebidos por uma descarga cerrada dos combatentes alemães. Em menos de uma hora de combate, estes, com seus Panzerfaust, destruíram todos os tanques que marchavam na vanguarda.

A artilharia americana redobrou seu fogo e descarregou mais de 20.000 projéteis sobre as linhas alemãs. Novos tanques e destacamentos armados de bazucas se somaram ao ataque.

Assim começaram a forçar os pára-quedistas a retroceder. A luta, no entanto, continuou sem definição. Aqui e ali os americanos ganhavam algumas centenas de jardas. Finalmente, ao meio-dia, os americanos puseram o pé na colina 192 e formaram ali um perímetro defensivo.

Nessa tarde, o General Hausser, comandante do 7o Exército, ordenou ao seu subordinado, o General Meindel, chefe do 2o Corpo de Pára-Quedistas, que retivesse a colina a qualquer custo. Essa posição era vital para impedir o avanço americano sobre Saint Lo. Contudo, já era demasiado tarde. A colina estava nas mãos do 38° Regimento e não poderia ser reconquistado.

A 12 de julho, as forças americanas tentaram prosseguir o rompimento, mas foram contidas pela inquebrantável resistência alemã. A unidade, porém, conseguira o seu objetivo: conquistar o melhor ponto de observação sobre o campo de luta de Saint Lo.

Enquanto isso, o 19o Corpo de Exército se lançou ao assalto com duas divisões: a 35a e a 29a de Infantaria. Esta última unidade teve a seu cargo o avanço direto sobre a cidade, apoiada pelo fogo de quatro batalhões de canhões de 155 mm e obuses de 4,5 e 8 polegadas. As sebes da Normandia constituíram, uma vez mais, um formidável obstáculo para o avanço, facilitando a ação defensiva dos alemães. A luta, entretanto, não poderia se prolongar indefinidamente, dada a superioridade das forças dos EUA. A 18 de julho os batalhões de assalto do 29o Regimento entraram na cidade, convertida numa imensa massa de ruínas. As tropas alemães haviam abandonado no último momento a posição. O General Hausser enviou um desesperado pedido ao Alto-Comando, assinalando a absoluta inutilidade de continuar a luta. O Alto-Comando do Grupo de Exércitos "B", a cujo cargo estava o defesa da frente do Normandia, enviou, como resposta a Hausser, a seguinte mensagem: "Tome as medidas que considere necessários; se tem que retirar-se, proceda como deve...". Essa ordem estava em contradição com as diretivas de Hitler de continuar a resistência até o último homem. No entanto, a realidade dos fatos não podia ser ignorada pelos homens que tinham a responsabilidade do comando direto das forças.

Ao ter notícia da retirada, o Marechal von Kluge, chefe supremo na França, tentou impedir que o recuo se efetuasse totalmente, e, mesmo tendo comunicado ao General Hausser que era imprescindível continuar a se manter em Saint Lo, não pôde encontrar reservas para reforçar esse chefe e permitir que ele cumprisse essa missão.

No dia seguinte da conquista de Saint Lo, cessaram as operações ofensivas do 1o Exército, de Bradley. Os esforços realizados pareceram acarretar resultados desprovidos de qualquer valor militar. Com uma massa de doze divisões, o 1o Exército somente havia conseguido, após dezessete dias de luta, avançar perto de sete milhas a oeste do rio Vire e um pouco mais da metade dessa distância, a leste do rio. As baixas do 1o Exército, até aquele momento chegavam a 40.000. Noventa por cento delas pertenciam às unidades de infantaria. O seguinte fato fornece uma idéia aproximada da violência da luta e da difícil situação das unidades americanas, com referência aos quadros superiores: de todos os oficiais de um regimento de infantaria americano, que havia desembarcado na Normandia pouco depois do dia D, na terceira semana do mês de julho apenas restavam quatro subtenentes; todos eles estavam, forçados pelas circunstâncias, comandando companhias de atiradores. A maioria das baixas consistia em soldados, suboficiais e oficiais feridos por estilhaços de granadas. Outros, em grande número, sofriam fadiga de combate. Normalmente, os homens atacados desse mal retornavam à frente depois de um período de descanso que se prolongava entre vinte e quatro a setenta e duas horas.

Outros, que não reagiam favoravelmente depois desse repouso, eram evacuados para um dos dois centros de assistência que o 1o Exército possuía. Neles, as 250 camas disponíveis no começo da campanha foram aumentadas, primeiro para 750, e mais tarde, para 1.000.

Uma frase de uma carta de um combatente define claramente a luta e as baixas: "Ganhamos a batalha da Normandia, porém, considerando o elevado preço pago em vidas, perdemos essa batalha..." Essa impressão pode ser definida com a palavra empregada por um historiador militar americano para qualificar a situação: frustração. A frustração resultante de obter alguma coisa por um preço excessivo...

O general Eisenhower, por sua vez, declarou, referindo-se à dureza da luta no norte da França e às grandes baixas sofridas pelas tropas sob seu comando: “Três foram os fatores principais: primeiro, e sempre, as condições de combatividade do soldado alemão; segundo, a natureza do terreno; terceiro, o tempo”. Mesmo as tropas de origem russa e polonesa, integradas por ex-prisioneiros de guerra, incorporados às colunas da Wehrmacht, lutaram tenazmente. Em todos os casos, combateram até o último projétil, defendendo as posições que lhes tinham sido confiadas, e somente, então, se renderam.

A Wehrmacht era uma formação muito boa, embora "não invencível". A SS e os pára-quedistas merecem um parágrafo a parte. Suas unidades eram integradas por combatentes selecionados, física e mentalmente. Eram, em sua maioria, jovens e estavam fisicamente preparados para enfrentar longas campanhas. Além disso, suas convicções políticas os levavam a acreditar cegamente no triunfo final do regime nazista.

Isso os tornava extremamente duros no combate e, em conseqüência, sumamente difíceis de vencer.

Cobra se põe em marcha

O início do plano Cobra havia sido determinado para o dia 21 de julho. No dia anterior, porém, o tempo piorou consideravelmente, dando aos chefes aliados a clara sensação de que o operação deveria ser suspensa. Por volta da meia-noite, recebeu-se na França uma mensagem da Força Aérea Expedicionária Aliada, com base na Inglaterra, informando da necessidade de adiar a operação até que as condições do tempo melhorassem sensivelmente.

Paralelamente, os serviços de informações aliados notificaram aos comandos sobre o alarmante aumento de tropas alemãs que se estava verificando nas cercanias do ponto escolhido para o rompimento. Informara-se, de fato, que duas divisões blindadas haviam abandonado as posições que mantinham na zona de Caen, diante das tropas de Montgomery, e haviam tomado posições novas na frente das tropas dos EUA. Portanto, o número de divisões alemãs que se deslocavam agora subia a nove. Contudo, tal número tinha um significado bastante relativo, visto que as divisões alemães estavam sendo integradas com restos de unidades dispersas, e reforçadas com tropas pertencentes aos diferentes serviços e recrutas, quase sem treinamento, alem de contar em suas fileiras com ex-prisioneiros de guerra russos e poloneses. Por conseguinte, a cifra de nove divisões não significava exatamente nove divisões, mas muito menos, operativamente.

No setor correspondente à frente inglesa, os alemães mantinham distribuídas cinco divisões. Nas mãos de Montgomery ficava a missão de obrigar essas tropas a não abandonar suas posições, conservando-as bem alertas, de armas prontas. Evitaria assim que fossem transferidas para o setor onde se ia produzir o rompimento.

Era necessário aos Aliados, também, manter um ataque constante sobre as unidades de infantaria alemães. A razão residia no fato de que os alemães, gradualmente, procuravam retirar seus tanques da frente, com a intenção de formar uma reserva na retaguarda, à medida que novas unidades de infantaria substituíam os grupos Panzer. Essa reserva seria um novo obstáculo a ser vencido pelas unidades aliadas em futuro próximo. Era preciso, portanto, destruir os tanques quando ainda estavam dispersos em destacamentos débeis, e antes que fossem organizados em fortes divisões blindadas.

A força aérea aliada foi incumbida de entorpecer e procurar evitar, a qualquer custo, o reforço das unidades alemães. Contudo, "a assombrosa capacidade de recuperação" dos alemães, segundo as palavras do General Bradley, lhes permitiu elevar o número de suas divisões.

Apesar disso, a situação dos alemães piorava dia a dia, E as perspectivas não eram nada alentadoras. Os alemães enfrentavam a crescente maré de tropas aliadas com os escassos e esgotados efetivos do 7o Exército, lenta e precariamente abastecidos e reforçados. Entretanto, muito perto dali, a 160 km, 19 divisões alemãs, pertencentes ao 15o Exército, esperavam uma invasão que não chegaria a produzir-se.
Como disse posteriormente o General Bradley: "Fizeram completamente o nosso jogo na ação mais importante da guerra". O Comando alemão e, principalmente, o Führer continuavam esperando a invasão na zona do Passo de Colais, por meio de uma força que seria comandada pelo General Patton.

Os críticos mais autorizados concordaram, mais tarde, em que não foi somente o potencial bélico dos Aliados que derrotou os alemães na batalha da França; foi, sem dúvida, o erro cometido por Hitler, mantendo imobilizada uma tal quantidade de efetivos, muito próximo do campo de luta. Os mesmos, se tivessem intervido, teriam propiciado uma considerável reviravolta no combate e, muito provavelmente, teriam mudado o curso da guerra. O 15o Exército, de fato, lançado à luta no momento oportuno, estaria em condições até de expulsar os efetivos aliados, materializando o "lançamento ao mar-" exigido por Hitler.

O bombardeio

A manhã do dia 23 de julho amanheceu cinzenta e brumosa. Durante todo o dia. os meteorologistas trabalharam com seus instrumentos e enviaram boletim após boletim ao comando aliado. Ao anoitecer de 23, por fim, os informes começaram a ser alentadores: existiam probabilidades de que o céu se apresentasse limpo no dia seguinte. Em conseqüência, as divisões do General Collins foram imediatamente alertadas. A manhã de 24, contudo, amanheceu úmida e nublada. Bradley, no comando, acompanhava, minuto a minuto, a evolução das mudanças climáticas. Às 11 h 30m os alvos continuavam cobertos por uma espessa camada de nuvens. Às 11 h 40m, vinte minutos antes da hora fixada para o bombardeio, foi emitida uma comunicação radiofônica, suspendendo a operação e determinando o regresso dos bombardeiros às suas bases na Inglaterra. O ataque, de acordo com o comunicado, seria suspenso por mais 24 horas. Bradley, por sua vez, regressou imediatamente ao comando do 1o Exército, onde tomou conhecimento de uma notícia extremamente desanimadora: os aviões pesados haviam dado cumprimento à primeira ordem de bombardeio e lançado suas bombas, através da camada de nuvens. A conseqüência fôra um desastre. Os impactos atingiram as próprias unidades da 30a Divisão, a mais de um quilômetro da zona de ataque.

O segundo ataque aéreo

Na manhã de 25 de julho, o ar estremeceu com o rugido de 1.500 aviões de bombardeio aliados. Os aparelhos, carregando milhares e milhares de toneladas de bombas, decolaram rumo ao alvo. Minutos mais tarde, quando o som dos motores já se havia apagado na distância, os telefones do comando começaram a soar estrepitosamente. E os primeiros informes chegaram. As mensagens, nervosamente transmitidas e copiadas, revelavam que, uma vez mais, os aviões aliados haviam confundido o alvo. Novamente as unidades aliadas haviam sofrido as conseqüências do bombardeio. As divisões 9a e 30a haviam recebido um duro golpe e as baixas eram numerosas. O número de vítimas era tal que ambas as divisões tiveram que socorrer-se de suas reservas, a fim de manter o poder operativo, gravemente atingido.

Como disse o General Bradley, posteriormente, referindo-se a este episódio: "Quando Eisenhower partiu esta noite para a Inglaterra, o destino da operação Cobra ainda estava em dúvida. Centenas e centenas de soldados dos Estados Unidos haviam sido mortos ou feridos pelo bombardeio aéreo. Isto havia adiado o movimento de Collins e existiam poucos razões para supor que nos encontrávamos à beira de um rompimento. Ao contrário, parecia que o ataque fracassara. Dois dias mais tarde, Brereton, numa entrevista à imprensa, declarou que a operação Cobra devia seu demorado início ao pesado movimento das tropas terrestres.

"Esqueceu-se de acrescentar que o retardamento havia sido causado pelo extermínio dos americanos mortos e feridos que a aviação semeara no nosso caminho".

Na tarde de 25 de julho, os efetivos do General Collins avançaram através de um terreno crivado de crateras de bombas. Atrás deles seguia um exército americano integrado por 21 divisões.

Já em princípios do mês de julho, Eisenhower autorizara o General Bradley a dividir suas forças, formando assim dois exércitos com as tropas dos Estados Unidos na França. Contudo, as reduzidas dimensões da cabeça de praia não aconselhavam a divisão das forças americanas. Essa separação, sem dúvida, agravaria a tarefa dos homens dos diversos serviços e complicaria inutilmente os trabalhos de reabastecimentos.

Entrementes, na retaguarda do 8o Corpo de Middleton instalara-se o comando do 3o Exército, sob as ordens do General Patton. Esse deslocamento havia sido efetuado, secretamente, da Inglaterra. Junto a Patton se encontravam três comandantes de Corpo, que aguardavam a designação das tropas que lhes seriam subordinadas, fazendo parte do 3o Exército.

Patton, pessoalmente, manifestara em várias oportunidades seu desejo de intervir na operação Cobra. Bradley, contudo, estava decidido a que a luta fosse levada a cabo sob o controle direto e único do 1o Exército, pelo menos até que as divisões que constituiriam a ponta de lança tivessem adquirido certa liberdade de movimentos, depois do rompimento.

Em linhos gerais, o esboço da operação era o seguinte: enquanto o General Collins perfurava as linhas alemães com uma coluna que se dirigiria rumo à costa oeste de Cotentin, com a intenção de bloquear o inimigo que ocupava a base da península e cercá-lo ali, Middleton avançaria rapidamente rumo ao Sul, pela estrada de Coutances, unindo-se com as unidades de Collins na interseção de estradas daquela localidade. Após efetuar a manobra mencionado, Middleton deveria avançar rapidamente em direção a Avranches, girando rumo à Bretanha ao chegar ao ângulo dessa península. Porém, no ponto para onde convergiriam o 7o e o 8o Corpos se produziria, inevitavelmente, um grande congestionamento de tropas. Bradley achava que seria mais simples que um comandante de exército se ocupasse de tal mister e não que fossem dois a terem que discutir os detalhes. Posteriormente, uma vez superado o momento, "então sim, poríamos parte das tropas do 1o Exército sob as ordens de Patton", foram as palavras de Bradley.

Patton na França

A chegada do impetuoso general americano ao território continental europeu ocorreu no dia 6 de julho, em companhia de uma vanguarda do comando do 3o Exército. A viagem foi realizada dentro do maior segredo, visto que seu conhecimento por parte do comando alemão os teria alertado acerca da falsidade da existência de tropas aliadas dispostas a invadir o continente, sob as ordens de Patton, através do Passo de Calais.

Assim que o General Collins reorganizou suas linhas, nos setores onde os próprios bombardeiros aliados as haviam golpeado, sua marcha começou a adquirir velocidade.

Ao chegar o meio-dia de 26 de julho, a 24 horas do início do ataque, a crise havia passado e os combatentes aliados se preparavam para explorar ao máximo o rompimento.

Na tarde de 27 de julho, Middleton chegou com a 1a Divisão até aos subúrbios de Coutances, buscando passagem entre os extensos campos de minas que os alemães haviam semeado nesse setor da frente. Cobra, o rompimento, estava em marcha.

Entrementes, no setor alemão, as unidades alemães sofriam um assédio incessante da aviação aliada. Nenhum comboio alemão de tropas, ou abastecimentos, podia se lançar nas estradas antes da chegada protetora das sombras da noite. Em muitos setores, os grupos encarregados da defesa eram formados por homens de diferentes serviços, reunidos às pressas, armados e colocados numa posição, com ordem de defendê-la a todo custo.

Os bombardeios, também, haviam sofrido variações em sua técnica. Os chefes aliados compreenderam, afinal, que nem sempre se obtinham resultados favoráveis destruindo cidades por meio de bombardeio maciço. Isso, indiscutivelmente, não significava a destruição paralela dos exércitos inimigos. Ao contrário, retardava-se o próprio avanço aliado, ao semear a rota de montões informes de escombros e crateras de bombas.

A nova técnica a ser empregada, conseqüentemente, seria a do "bombardeio de franjas". O sistema consistiria em arrojar as cargas de bombas de ambos os lados da estrada que os tanques deveriam percorrer na sua marcha para a frente. Assim seriam eliminadas as defesas antitanque do inimigo. Posteriormente, bombardeiros leves arrojariam bombas de menor poder explosivo sobre a rota a ser seguida pelos blindados, causando baixas nas formações alemães, porém sem causar grandes crateras nas estradas. Além disso, o avanço dos tanques seria precedido por uma cortina de fogo de artilharia, que se adiantaria com igual velocidade que os blindados: uns dez quilômetros por hora. Dessa maneira, os tanques avançariam rodeados por uma verdadeira cortina de fogo, aéreo e artilheiro.

Posto em prática, contudo, o plano não deu resultados favoráveis. Os artilheiros alemães que serviam as peças antitanque, abandonavam suas posições assim que começava o bombardeio dos aviões, e retornavam de imediato, com o cessar do fogo e à aproximação dos tanques aliados. Então, abriam fogo com todas as suas peças, com resultados desalentadores para os comandos aliados. Foi assim que, em poucas horas, duzentos tanques ingleses foram destruídos. Por outro lado, os alemães acampavam fora dos povoados, tornando totalmente inútil a destruição deles pelos Lancaster aliados. Contudo o fracasso de algumas novas técnicas e da assombrosa quantidade de perdas materiais sofridas pelas unidades aliadas, os exércitos mantiveram sua capacidade de ataque, baseando-se no que um autor inglês chamou "capacidade de fogo esmagadora". Entrementes, na frente alemã, os informes e relatórios referentes à campanha eram francamente desalentadores. No dia 5 de julho, o Alto-Comando do 7o Exército informou que todos os seus ataques eram "sufocados" pela aviação aliada. A mensagem acrescentava: "Nossa:; tropas de terra sofrerão simplesmente uma hecatombe se isto continua''.

Um escritor inglês, Alan Moorehead, testemunha dos acontecimentos narrados, assim descreve os fatos: "... A linha alemã era esmagada sob um peso intolerável e, no entanto, voltava a levantar-se e a unir-se. Os prisioneiros que apanhávamos, chegavam com os rostos desfigurados e macilentos, e se mostravam mais impressionados com o fogo contínuo do que com seus ferimentos. Seus Diários particulares contavam a história da gradual desmoralização da sua vontade de combater sob o persistente canhoneio. A faixa de destruição se estendia e alastrava diariamente, até que toda a zona do perímetro da cabeça de praia começou a tomar o aspeto desolado dos campos de batalha franceses da guerra anterior. Grandes áreas de bosques ficaram pulverizadas. Aldeias, povoados, um após outro, eram arrasados... Em qualquer direção que se fosse, mal se distanciasse uma hora de jipe, das praias, e já se mergulhava em plena batalha, em meio a um incessante e ensurdecedor fogo de artilharia. Começava a assombrar-nos a resistência alemã. Era incrível que sua linha não se desmoronasse em algum ponto".

Os alemães, de fato, nem cogitavam em retirada. O Marechal von Kluge, sucessor de Rommel, em Saint Germain, nas proximidades de Paris, se comunicava todas as noites com o QG de Hitler. Os informes que enviava recebiam sempre a mesma resposta: resistir; não retroceder; contra-atacar. Os relatórios dos comandantes de unidades não eram levados em conta pelo Führer. As impossibilidades argumentadas, não apenas para contra-atacar, mas simplesmente, para resistir, eram rebatidas com uma só ordem, seca, terminante: resistir e contra-atacar. E assim foi uma, outra, muitas vezes. Enquanto Middleton, à frente do 8o Corpo de Exército, avançava no ângulo de Avranches, em direção aos portos da Bretanha, Patton recebeu de Bradley a ordem de localizar um forte grupamento no centro da base da península da Bretanha. Daquele ponto poderia conter qualquer ameaça que se apresentasse pelo leste, enquanto as colunas de Middleton se deslocavam velozmente rumo a Saint Malo, primeira fortaleza da costa norte da Bretanha. Ao mesmo tempo, enquanto a frente aliada efetuava o movimento de conversão em direção ao Sena, os efetivos do 1o Exército deveriam manter aberto o passo de Avranches, enfrentando os blindados alemães que convergiam sobre aquele setor. Entrementes, o 8o Corpo fizera passar pelo ângulo de Avranches duas divisões de infantaria e duas divisões blindadas. Apresentou-se então uma possibilidade de rompimento alemão nesse setor, o que deixaria isolados uns 80.000 homens das forças aliadas.

A importância estratégica da Bretanha advinha do fato de que, antes de poder chegar ao território alemão propriamente dito, os Aliados eram obrigados a reorganizar-se diante do Sena, com o fim de poder romper uma forte posição alemã. Além disso, então, Cherburgo seria entregue aos ingleses, enquanto os americanos se abasteceriam diretamente através dos portos da Bretanha. Previra-se como inevitável a destruição do porto de Brest, por parte dos alemães, e, portanto, foi planejado o preparo da baía de Quiberon, entre os portos de Lorient e Saint Nazaire, como base logística aos exércitos dos Estados Unidos. Também se pensava utilizar o porto de Saint Malo, ao norte. Grande quantidade de tropas alemãs de guarnições da Bretanha haviam sido transferidas para reforçar as defesas da Normandia. Apesar disso, cerca de 50.000 soldados se mantinham de armas em punho, ali, na linha costeira. A primeira medida dos combatentes subordinados a Patton consistia em obrigar os alemães a retroceder e enfiar-se em seus refúgios costeiros, com o fim de não lhes dar tempo de destruir as vias férreas e as estradas...

Os alemães, impossibilitados de enfrentar maciçamente as forças aliadas, recorriam a uma verdadeira guerra de guerrilhas. Comenta, a respeito, o escritor inglês Alan Moorehead: "Por enquanto, os alemães usavam o terreno melhor que nós. Seus homens, ocultos entre as ramagens ou rastejando, avançavam, sem demonstrar sua presença. Pelotões inteiros de atiradores especiais se emboscavam entre os galhos e esperavam horas, e até dias, pela oportunidade de fazer fogo. Primeiro escolhiam nossos oficiais; depois, os suboficiais. Não havia cominho seguro. Inclusive, bem na retaguarda da frente, era usual topar com uma saraivada de balas sobre o jipe. Em pleno dia, era freqüente termos que nos proteger nas valetas. Por mim, aquilo me parecia deprimente. Não havia proteção possível. E os alemães eram peritos nessa tática. Parecia uma guerra de peles-vermelhas, sem uma frente definida. Um dia, por exemplo, cheguei a um deserto desvio ferroviário e encontrei o chefe da estaçãozinha... Quando estávamos falando, uma metralhadora começou a disparar sobre nós. Estávamos a vários milhas da linha de fogo, porém os alemães se haviam infiltrado através do mato, durante o noite".

Assim, desesperadamente, os alemães tentavam atrasar o avanço aliado. Sabiam que tudo era inútil, mas não se davam por vencidos.


Anexo

Simulação
A campanha de simulação levada a cabo com o propósito de alimentar nos alemães a suposição de uma possível nova frente na Europa, exigiu dos Aliados o planejamento de uma verdadeira operação. Vejamos o que diz o General Bradley, a respeito:
"A corrida do reforço durante as duas primeiras semanas era questão de vida ou morte. Para ganhá-la, havíamos contado com dois fatores principais que nos permitiriam superar as vantagens inimigas: primeiro, a aviação tinha que mantê-lo imobilizado no Passo de Calais, enquanto nós derrotávamos, por partes, as tropas que defendiam a Normandia. O plano de despistamento envolvia um monumental planejamento de simulação. Este havia sido urdido em torno dos agentes inimigos conhecidos, redes de comunicação por rádio e falsas frotas de invasão. Seu objetivo era conduzir o inimigo à crença de que possuíamos um verdadeiro grupo de exército na costa leste da Inglaterra, destinado ao ataque principal através do Passo de Calais. O Comando simulado desse ataque fictício seria o 1o Grupo de Exércitos dos Estados Unidos. A chegada de George Patton foi amplamente anunciada na Inglaterra e ele atuava como se fôra o comandante do exército de assalto do mencionado grupo de exércitos.
"Por um lado, o Serviço de Informações inglês alimentava os agentes conhecidos do inimigo, na Inglaterra, com o que desejava que acreditassem em relação ao assalto simulado e, por outro lado, nós estabelecemos uma rede de comunicações pelo rádio que denunciava o trânsito de um grupo de exércitos fazendo preparativos para a travessia do Canal. No estuário do Tâmisa e ao longo da costa leste da Inglaterra, os técnicos fabricaram falsas embarcações, cuja única finalidade era aparecer bem nas fotografias aéreas tomadas pelos aviões de reconhecimento inimigos. Além disso, durante os bombardeiros da costa do Canal, prévios à invasão, a aviação saturou as defesas alemães no Passo de Calais com grande intensidade.
"Ao idealizar o plano de despistamento da operação Overlord, somente esperávamos que nos proporcionasse um modesto atraso na ação do adversário, no máximo uma semana ou duas, para termos tempo de deixar em terra um número suficiente de divisões para garantir a segurança do desembarque na Normandia. Porém, tanta certeza adquiriu o inimigo acerca de nossas intenções, que em fins de junho ainda permanecia no Passo de Calais, convencido que havia sido mais raposa que nós. A medida que aprofundávamos a cabeça de praia, o inimigo foi despojando a península da Bretanha de todas suas tropas, exceto as da fortaleza, com o fim de escorar a frente da Normandia. Tirou as divisões que tinha no sul da França, apesar da crescente ameaça do plano Anvil; desfalcou suas unidades da Noruega e deixou a Dinamarca sem sua cota de tropas. E, apesar de tudo, 19 divisões continuavam esperando, inativas, nas barrancas do Passo de Calais... Ainda hoje não posso compreender porque o inimigo deu crédito durante tanto tempo a uma simulação tão transparente. Uma vez que havíamos desembarcado na Normandia, só um louco poderia acreditar que fôssemos capazes de reeditar, noutro local, um esforço tão gigantesco...".


Artilharia
Os pormenores de um combate são narrados por uma correspondente de guerra, assim:
"... O inconveniente das cercas de arbustos não era propriamente pelos arbustos em si, mas pelo fato de estarem plantados em altas paredes de terra que rodeavam cada parcela de terreno. Os homens tinham que avançar em fila indiana. Para atravessar uma cerca de arbustos, o infante tinha que subir uma das paredes de terra, exposto ao possível fogo de uma metralhadora ou tanque, antes que o homem atingisse o alto. Os tanques eram alvos fáceis nas estradas que estavam bem cobertas com o fogo dos canhões antitanque. Durante o mês de julho, o 743o Batalhão de Tanques teve 38 tanques fora de combate. Para avançar pelos atalhos, os tanques tinham que ir devagar, precedidos por tanques especiais, para abrir uma passagem através da barreira de terra, ou por soldados de infantaria, munidos de cargas explosivas. Este procedimento era mais seguro que o avanço pelas estradas, porém muito lento. As linhas em combate estavam freqüentemente tão próximas uma da outra que não podíamos empregar a artilharia sem risco, pois muitos projéteis teriam explodido sobre as nossas próprias tropas. Os observadores adiantados da artilharia e os oficiais de ligação tinham que permanecer junto às unidades adiantadas da infantaria para poder obter alguma observação terrestre e não teria havido nenhuma efetividade de fogo sobre alvos da retaguarda a não ser guiados pelos aviões de observação da artilharia. Sabia-se, de antemão, que entre os observadores adiantados e os oficiais de ligação ocorreriam tantas baixas como entre os chefes de companhia e pelotão, que tinham que se expor para manter-se em contato com suas tropas. O 197o Batalhão de Artilharia de Campanha sofreu as perdas mais graves: 15 mortos e 23 feridos durante o mês de julho. Essas baixas eram poucas comparadas com as perdas da infantaria, porém aqueles eram os homens mais úteis à artilharia: eram seus olhos."


Anticercas
O General Bradley, em suas Memórias, relata a forma como se solucionou o problema criado pela existência das grandes barreiras naturais de cercas vivas, que impediam o avanço das unidades aliadas: "Um sargento tanquista fabricou, com um pedaço de ferro velho, resto de um obstáculo antitanque colocado pelos alemães, um aparelho que, afinal, permitiria que nossos tanques superassem os obstáculos do bocage (região de sebes). "A invenção chegou na véspera do momento em que sua necessidade seria maior. As cercas espinhosas que haviam frustrado nosso avanço na Normandia se estendiam sobre toda a zona escolhida para o assalto e, mais além, ao longo do caminho do rompimento a ser feito. Para que o plano Cobra se desenvolvesse, era essencial que os blindados abrissem caminho, e que sua velocidade não fosse truncada pelo bocage. As tentativas anteriores de ultrapassar as cercas vivas haviam fracassado, pois os Shermans ficavam presos, com o fundo dos cascos apoiados sobre as crestas de terra endurecida que sustentavam os arbustos, em vez de atravessá-las. Ali ficavam, expondo ao fogo inimigo a débil parte inferior, enquanto seus canhões apontavam, inúteis, para o céu.
"Menos de uma semana antes de partir para o ataque, Gerow me chamou de manhã bem cedo e perguntou se eu podia me encontrar com ele na 2a Divisão. “Traga o seu chefe de Arsenais”, me disse, “temos algo que vai deixá-los boquiabertos”. Encontrei Gerow e vários membros do seu Estado Maior, agrupados em torno de um tanque leve ao qual fora soldada uma barra transversal de onde saíam quatro compridas pontas, semelhantes a presas de elefantes. O tanque retrocedeu para tomar distância e depois se lançou de frente sobre uma cerca viva, a uns 15 km por hora. Os "dentes" penetraram na sebe, mantendo o casco do tanque no nível do solo e, depois, abriu caminho, em meio a uma nuvem de pó. Um Sherman, equipado de igual maneira, repetiu a experiência. Também chocou-se contra o muro, e, em lugar de apontar sua proa para o céu, como de costume, passou através do obstáculo. Aquilo era tão absurdamente simples, que por mais de cinco semanas havia driblado todo um exército. O invento fôra idéia de Curtis G. Culin, de 29 anos, natural de Nova York.
"Imediatamente, foi ordenado a todas as unidades de arsenais que se pusessem a produzir esses aparelhos "anticêrcas-vivas" durante 24 horas por dia. O material para fabricar os "dentes" dos tanques foi proporcionado pelos obstáculos subaquáticos que Rommel havia distribuído nas praias. Um pouco depois, nessa mesma tarde, Medaris saltou em um avião, com destino à Inglaterra, e rebuscou todos os depósitos em busca de material. As 18 horas, as unidades que estavam na França descobriram que necessitariam de mais elementos para a soldagem autogênica, e às 20 h um avião já estava em vôo rumo à Inglaterra. Quando regressou, os caminhões estavam esperando ao lado da pista de aterragem, antes do desjejum da manhã seguinte. No espaço de uma semana, de cada cinco tanques, três estavam equipados com o mencionado aparelho. Pela invenção, o Comando do Corpo outorgou a Culin a Legião do Mérito. Quatro meses mais tarde, ele voltou para casa, em Nova York, depois de ter deixado uma perna no bosque de Huertgen."


Prisioneiros
No seu avanço, os Aliados fizeram grande quantidade de prisioneiros. Estes, de acordo com as normas habituais, foram concentrados em campos especialmente preparados para alojá-los. Os prisioneiros, segundo as palavras de um escritor inglês, correspondente de guerra, "eram de nacionalidades insólitas".
Os internados eram alojados em barracas de madeira, rodeadas por alambrados de arame farpado. De acordo com seu posto e nacionalidade, haviam sido divididos em cinco grupos principais: oficiais alemães, suboficiais alemães, soldados alemães, soldados russos, poloneses e checos, e por fim, trabalhadores da Organização Todt, civis; estes eram de diversas nacionalidades, mas em sua maioria, italianos e espanhóis.
Os campos de prisioneiros, nos primeiros tempos da campanha, estavam permanentemente rodeados de civis franceses que, freqüentemente, protagonizavam episódios que beiravam à violência. Era comum centenas de homens e mulheres se apinharem junto aos cercados, dispostos a insultar os internados que, freqüentemente, mal entendiam aqueles gritos. Por outro lado, muitos dos prisioneiros eram soldados que haviam sido incorporados à força e odiavam seus chefes com mais intensidade ainda que a população civil dos países conquistados.
As atitudes dos prisioneiros condiziam, em linhas gerais, com seus postos militares. Os oficiais alemães se mostravam silenciosos e reservados, falando somente entre si ou, incidentalmente, com os suboficiais. Como disse um correspondente britânico: "era óbvio que desejavam dar a impressão de dignidade, de indiferença, de fortaleza na derrota". Nas barracas dos soldados alemães, os homens se limitavam a descansar, indiferentes a tudo que se passava ao seu redor. O mesmo ocorria com os suboficiais. No setor dos soldados "alemães", não alemães, se agrupavam dezenas de homens de diferentes nacionalidades. Havia ali russos, poloneses, checos, italianos, iugoslavos e espanhóis. Muitos eram prisioneiros de guerra incorporados de bom grado ou à força às unidades da Wehrmacht. Outros eram civis surpreendidos pela guerra em regiões posteriormente ocupadas pelos exércitos alemães. Aí, entre a alternativa de perecer ou sofrer fome, haviam preferido incorporar-se voluntariamente às fileiras alemãs. Nos campos de concentração de prisioneiros alemães, também eram muitos os soldados incorporados à força que demonstravam aos oficiais germânicos o ódio que sentiam por eles. As vinganças pessoais chegaram a constituir um problema para os captores anglo-americanos, que tiveram que isolar os oficiais alemães, separando e vigiando estreitamente os comandantes.
Em linhas gerais, os oficiais alemães, e muitos dos soldados jovens, alguns deles quase adolescentes, mantinham uma atitude digna, orgulhosa, suportando o cativeiro da melhor maneira possível. Outros não ocultavam seu enorme cansaço e seu desejo de voltar à pátria, já fosse como triunfadores ou como vencidos.
Os prisioneiros jovens, extremamente jovens muitos deles, exibiam, em geral, uma atitude desafiante, compreensiva em adolescentes educados desde a infância para a guerra. Existia neles, mesmo na prisão, a convicção do triunfo final da Alemanha.


Combate Noturno
Uma testemunha da campanha que realizou na França a 30a Divisão de Infantaria americana relata assim um episódio ocorrido a 10 de julho de 1944, nas proximidades de Le Rocher:
"As tropas a pé que iam na frente, encontraram uma forte resistência em alguns lugares durante a sua penetração e estavam se entrincheirando quando chegou a coluna de veículos. Ambos os flancos estavam expostos. Tropas bloqueadoras de estradas foram enviadas com a informação de que os blindados do Comando "B" estavam operando nas proximidades de Hauts-Vents, para o sul. À 1h30m os oficiais da Cia. de Canhões e da Cia. Antitanque, que trabalhavam no batalhão, estavam em reunião com o Tenente-Coronel Paul W. McCollum, chefe do batalhão; nesse momento chegaram duas informações: a Cia. K falou por telefone, informando que um tanque lança-chamas a atacava e a um tanque próximo da D. 3 blindada. Ao mesmo tempo chegou um estafeta de uma das casamatas da estrada do leste; tanques e veículos blindados, seguidos, no mínimo, por 20 homens de infantaria, estavam avançando pelo caminho rumo ao posto de comando. De fato, dois tanques inimigos passaram pelo posto de comando momentos depois de se ter enviado ordem de alerta às companhias. Depois, se aproximou um terceiro tanque alemão em marcha cautelosa, seguido por outro e depois por outro e, finalmente, por um carro blindado. Um alemão ia de pé na torre aberta do tanque-guia, tratando de enviar uma mensagem. "E assim começaram os acontecimentos: um tenente americano correu para uma metralhadora montada em um jipe e abriu fogo. Alguém disparou uma bazuca e se preparou para efetuar um novo disparo. Dois oficiais começaram a arrojar granadas de mão na torre aberta e sobre a infantaria alemã acompanhante. O primeiro tanque explodiu e foi envolvido pelas chamas, enquanto sua tripulação pedia socorro aos gritos. Um alemão tratou de prevenir o segundo tanque, porém foi derrubado por uma rajada de balas. Um oficial americano tomou uma metralhadora leve, pondo o cinturão de munições sobre o ombro e se dirigiu ao terceiro tanque e ao auto-blindado. O tanque escapou, perdendo algumas das suas partes blindadas. O carro blindado ficou em chamas.
"Os dois oficiais visitantes correram em busca de suas armas; ambos, no entanto, foram feridos e aprisionados na violenta luta que se travou na obscuridade. Outro oficial, que comandava um pequeno grupo de municiamento, aproximou-se, na estrada, de um carro blindado, acreditando que ele era americano e recebeu uma descarga mortal. Os prisioneiros foram alinhados atrás do carro blindado, com a infantaria alemã acompanhante e, então, o veículo foi dirigido rumo ao posto de comando. Nunca chegou até lá. Num cruzamento da estrada, pouco antes do posto de comando, projéteis de calibre 50 e de duas bazucas o incendiaram. Pela manhã, o batalhão tinha 69 prisioneiros; o preço pago pelo inimigo em mortos e feridos, nunca pôde ser calculado exatamente. Os postos afastados informaram ter ouvido o ruído dos blindados que se perdia ao longe; evidentemente, esta fôra a ponta de lança de uma força maior. Um total de cinco tanques inimigos e quatro carros blindados foram destruídos na luta".


O Major Howie
18 de julho de 1944. As forças americanas convergem sobre a cidade de Saint Lo, convertida numa massa de ruínas pelo incessante bombardeio da artilharia e da aviação. A luta pela conquista dessa praça de guerra exigiu da 29a Divisão de Infantaria americana sangrentas baixas. Combatendo furiosamente, os alemães se mantiveram agarrados às posições até serem aniquilados. Finalmente, a batalha conclui. Os americanos já podem entrar em Saint Lo, pois os restos da guarnição inimiga bateram em retirada. No entanto, antes de penetrar nas ruas cobertas de escombros, o chefe da unidade de assalto emite aos seus homens uma insólita ordem:
"Tragam o corpo do Major Howie, e que encabece nossa entrada na cidade..."
Minutos mais tarde, um jipe, conduzindo o cadáver ensangüentado do major, entra em Saint Lo. Howie havia sido morto três dias antes, à frente dos seus homens, efetuando uma carga sobre as posições alemães que defendiam â cidade. Essa era a homenagem da divisão ao chefe tombado, o último tributo de honra a um soldado valente que, junto com outros 2.000 homens, havia sacrificado sua vida para garantir a conquista da localidade. A crônica oficial do exército americano relata assim a conclusão do episódio: "No momento em que a 29a Divisão abandonou Saint Lo, a 20 de julho, o corpo do Major Howie se convertera num símbolo... A força de assalto conduzira o cadáver envolto em uma bandeira, sobre um jipe, como uma insígnia de combate. Colocado sobre uma pilha de escombros diante da igreja de Saint Croix, o corpo do major se convertera no símbolo do sacrifício realizado. Quando os soldados da divisão retiraram o cadáver e abandonaram a cidade, o símbolo permaneceu em Saint Lo. A própria cidade, arrasada e deserta, passou a ser um monumento a, todos os que haviam sofrido e encontrado a morte na terrível batalha...


Bombardeio
Transcrevemos a crônica oficial da aviação americana do ataque aéreo realizado a 25 de julho de 1944, para garantir o avanço das forças do 1o Exército do General Bradley:
"Desde o primeiro ataque dos caça-bombardeiros, efetuado às 9 h 38 m, até o último dos ataques dos bombardeiros médios, efetuado às 12 h 23 m de 25 de julho, os planos foram cumpridos exatamente como exigiam os intrincados programas de distribuição de tempo, preparados para o caso. Os observadores, localizados nas praias cruzadas pelos bombardeiros, viam o céu literalmente repleto com as formações deles, e sentiam seus ouvidos ensurdecidos pelo contínuo rugir dos motores. 1.507 aparelhos quadrimotores B-17 e B-24 atacaram, lançando mais de 3.300 toneladas de bombas; mais de 380 bombardeiros bimotores médios arrojaram 137 toneladas de altos explosivos e mais de 4.000 bombas de fragmentação de 120 quilos; enquanto isso, 559 caça-bombardeiros lançavam 212 toneladas de bombas, além de uma quantidade considerável de tanques de napalm. A oposição aérea alemã foi desprezível: pequenas formações da Luftwaffe efetuaram passadas ineficazes contra dois dos quadrimotores e isso foi tudo. A perda de cinco bombardeiros pesados e de um médio deve ser atribuída integralmente ao fogo de terra. No transcurso dos seus velozes ataques contra as linhas de frente inimigas, os caça-bombardeiros não sofreram perdas... Havia-se previsto grandes erros no bombardeio, e os comandantes das forças terrestres e aéreas estavam perfeitamente a par dessa probabilidade que, no dia 25 de julho, se concretizou, e a um preço muito elevado. As 10 h 40 m já começaram a chegar informes ao quartel-general da aviação da Inglaterra, procedentes da França, e que falavam de bombardeios curtos, em zonas situadas tão à retaguarda que chegavam às posições da artilharia americana. Então, e apesar do avançado da hora, fizeram-se toda a classe de esforços para comunicar o erro às formações de quadrimotores que ainda não haviam bombardeado. Da mesma maneira, também os bimotores do 9o Comando de Bombardeio efetuaram bombardeio curto, lançando a carga de 42 aviões dentro de nossas próprias linhas, devido a uma identificação defeituosa do alvo. Todos os erros cometidos no ataque de 25 de julho foram classificados como erros pessoais das tripulações e, segundo se informou, seu preço chegou a 102 soldados do exército americano mortos, inclusive o Tenente-General Lesley MacNair, e 380 feridos...
O esforço realizado pela aviação a 25 de julho havia sido gigantesco, porém os resultados militares são medidos em função dos danos causados ao inimigo, e não na própria energia gasta. Os resultados do bombardeio aéreo não foram, de modo nenhum, os esperados pelos otimistas, porém, tanto amigos como inimigos concordaram em que esses resultados superaram os níveis normais. As baixas alemãs não foram muitas; em realidade, parecem poucas, tomando em consideração o peso do bombardeio aéreo, somado ao fogo preparatório da artilharia. Dois fatores explicam esse fato: o primeiro foi o emprego que os alemães faziam de profundas trincheiras e refúgios; o segundo consistiu no pedido dos chefes do exército americano de que se evitasse abrir demasiadas crateras, o que obrigou a utilização de uma alta porcentagem de bombas de fragmentação, juntamente com os projéteis de altos explosivos... A observação inimiga e a obtida por oficiais aliados, que posteriormente examinaram o campo de batalha, indicou que veículos motorizados de estrutura pouco resistente haviam sido despedaçados, e que os fragmentos de aço haviam rompido as lagartas dos veículos blindados; as armas que permaneceram intactas, ficavam inutilizadas depois de removido o barro e os escombros em que haviam sido mergulhadas...
Os interrogatórios dos prisioneiros de guerra demonstraram que a destruição em matéria de comunicações, assim como no moral da tropa, foi muito grande. Os danos causados ao sistema de comunicações tiveram um efeito tático imediato pois deixaram as unidades alemãs desligadas da retaguarda, e sem saber o que ocorria em seus flancos, no momento em que as nuvens de poeira, causadas pelas explosões, reduziam a observação visual. Quando os homens ficavam separados dos cabos, suboficiais e oficiais de suas unidades, escapavam a todo controle. Porém, acima de tudo, a destruição das comunicações deu origem a um sentimento de isolamento entre as unidades avançadas, que contribuiu para aumentar o choque nervoso produzido pelo bombardeio em si... Posteriormente, o Major-General Fritz Bayerlein, comandante da divisão "Panzer Lehr", comentaria dramaticamente as suas experiências nesse dia. Era um soldado veterano em lutas na frente, e suas declarações levam o selo da veracidade... Suas comunicações haviam ficado interrompidas no decurso dos primeiros ataques aéreos, e quando os quadrimotores americanos começaram a chegar, pouco depois das 10, partiu, na garupa de uma motocicleta, disposto a visitar seu posto de comando avançado. Ali observou as fases posteriores do bombardeio, de uma torre de pedra cujas paredes tinham dois metros de espessura e, o que pôde entrever do campo de batalha, mereceu dele a denominação de "Mondlandschaft" (paisagem lunar): a metade de suas três baterias de canhões de 88 mm estava inutilizada, e seus tanques avançados, afundados em crateras ou desmantelados por impactos indiretos... O único meio de comunicar-se com seus regimentos era por estafeta, e 70% dos seus homens estavam mortos, feridos, enlouquecidos ou aturdidos..."


Reforços alemães
As perdas aliadas, em fins do mês de julho de 1944, eram consideravelmente elevadas, em homens e materiais. Por sua vez, as baixas alemãs, nessa mesma época, alcançavam, segundo cálculos do 1o Exército dos Estados Unidos, uns 160.000 homens, cerca de 400 tanques e aproximadamente 2.500 veículos.
As reservas, na Wehrmacht, eram dia a dia menores em quantidade e qualidade. Com maior freqüência que nunca, os alemães lançavam ao combate seus "Kampfgruppen" (grupos de combate) improvisados. Essas unidades eram integradas por soldados de infantaria, condutores de veículos e membros de diferentes serviços, nem sempre bem armados e, freqüentemente, sem grande treinamento de combate. A substituição dos blindados destruídos ou avariados se realizava muito lentamente, sem compensar as perdas. Os depósitos de gasolina, na zona de combate, viam diminuir rapidamente suas reservas, sem que fosse possível repor o combustível utilizado. As munições eram severamente racionadas, limitando ainda mais a capacidade de luta dos soldados alemães, já reduzida ao mínimo.
As unidades alemães, no entanto, defendiam o terreno a elas confiado com grande tenacidade e habilidade, reagrupando constantemente suas tropas, para manter a frente intacta. A defesa era essencialmente linear e não disposta em profundidade. Somente uma divisão, a 2a Panzer SS “Das Reich”, não estava comprometida na frente do 1o Exército, ficando, portanto, disponível para um contra-ataque. Existiam, porém, reservas importantes a leste do Sena, onde o 15o Exército alemão esperava ainda uma nova invasão através do porto de Dunquerque. Também havia um certo número de divisões disseminadas pelo sul da França.
Porém, mesmo que tais tropas tivessem recebido ordens de transladar-se ao campo de batalha, sua chegada se daria com atraso em virtude das vias de comunicações destruídas e do ataque aéreo direto sobre as colunas em movimento. As tropas que fossem trazidas do sul, provavelmente, teriam que combater contra os maquis no meio do caminho.
Esta última possibilidade poderia significar perdas materiais e dias de atraso.

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