Ataque à China
Ofensiva Japonesa
Guerra no Extremo Oriente
A expansão japonesa
Navegando pelas águas encrespadas do mar da China, no dia 27 de maio de 1905, a frota russa, do Almirante Rozhestvenski aproxima-se da ilha de Tsushima, situada no estreito que separa a península da Coréia das ilhas do Japão. Ali, pronta para o combate, está a esquadra do Vice-Almirante Togo. Às 13h45 os barcos russos e japoneses estabeleceram contato e dispararam as primeiras granadas. Assim começou uma batalha decisiva.
Manobrando habilmente, Togo coloca sob fogo de seus canhões o encouraçado Osliabia, capitânia da formação russa e, em uma hora, o põe fora de combate. O Surarov, navio insígnia de Rozhestvenski, não demora a ter a mesma sorte. Os russos, entretanto, não recuam e, novamente, tentam desesperadamente abrir caminho através da insuperável muralha de navios japoneses. A batalha ganha terrível violência. Em meio das gigantescas colunas de água que se levantaram, explodem milhares de granadas e as duas frotas travam duelo mortal. Cai a noite e Togo lança ao ataque seus velozes barcos torpedeiros. Ao despontar o dia, os encouraçados e cruzadores japoneses voltam, novamente, à luta e com seus poderosos canhões destroem o restante das naves russas. A vitória de Togo é total.
Com a batalha de Tsushima termina a guerra que, desde 1904, sustentam no território da Coréia e Manchúria russos e japoneses. Foi a primeira vez, na história moderna, que um povo de raça amarela consegue derrotar uma nação ocidental. O feito surpreendeu o mundo e marcou definitivamente a ascensão do Japão na categoria das grandes potências. A partir daquele momento, os japoneses empenham-se numa empresa imperialista, cujo objetivo final é a instauração de sua hegemonia no continente asiático. Valendo-se da rivalidade entre os países ocidentais, conseguem, paulatinamente, concretizar seus propósitos e se apossam da Coréia, da Manchúria e de quase toda a China.
A explosão da Segunda Guerra Mundial ofereceu ao Japão a oportunidade de empreender a aventura final. A França e a Holanda, derrotadas pelos alemães, não podem defender suas ricas colônias asiáticas. A Inglaterra, empenhada em luta de morte com a Alemanha, tampouco está em condições de enfrentar a agressão. Resta apenas um obstáculo: os Estados Unidos. Os dirigentes japoneses decidiram, então, jogar tudo por tudo, e lançam-se à luta.
Na manhã de 7 de dezembro de 1941, aviões da frota do Almirante Nagumo atacam de surpresa a base naval de Pearl Harbor. No mastro do porta-aviões Akagi, Nagumo iça o mesmo galhardete que, 36 anos antes, ostentou a nave capitânia do Vice-Almirante Togo, durante a batalha de Tsushima.
Começa a conquista
Em 1894, o Japão entrou em guerra com o Império Chinês e, mediante uma série de repetidas vitórias navais e terrestres, conseguiu apoderar-se da Coréia e de grande parte da Manchúria. O tratado de Simonoseki pôs fim ao conflito. A China reconheceu aquelas conquistas, além de ceder as ilhas de Formosa e dos Pescadores. Dessa maneira, os japoneses conseguiram estabelecer uma cabeça-de-ponte no continente asiático e bloquearam a expansão russa no Pacífico. A reação russa não se fez esperar.
Apoiado pela França e pela Alemanha, o governo czarista forçou o Japão a abandonar os territórios conquistados na Manchúria, os quais incluíam a estratégica base de Port Arthur. A Coréia, então, declarada independente, ficou de fato sob protetorado nipônico. Como retribuição ao seu apoio, a Rússia recebeu da China autorização para construir uma ferrovia através da Manchúria, destinada a fazer a ligação com o porto de Vladivostok.
A vitoriosa agressão japonesa à China criou condições para que as potências ocidentais se apressassem a imitar seu exemplo. Em 1897, a Alemanha, usando do pretexto do assassinato de dois missionários na província de Shantung, apossou-se do porto de Kiachow e obteve do governo chinês sua cessão por 99 anos. Pouco depois, os russos apoderam-se de Port Arthur, e os britânicos ocuparam o porto de Wei-Hai-Wei.
Assim, a China converteu-se, praticamente, em terra de ninguém. Seu povo, contudo, não se resignou a aceitar passivamente a espoliação e, em 1900, levantou-se em armas contra a penetração estrangeira. Este movimento, denominado rebelião do Boxers - integrado por tropas britânicas, alemães, japonesas, americanas, francesas, austríacas e italianas - que ocupou Pequim e, depois de sustentar sangrentos combates, resgatou numerosos europeus que havia sido sitiados na cidade por quase dois meses.
As potências que intervieram na luta contra os Boxers forçaram o governo imperial a permitir o estabelecimento de guarnições militares em Pequim e ao longo da ferrovia que une esta cidade ao porto de Tsientsin. Ao mesmo tempo, impuseram à China o pagamento de 350 milhões de dólares, como indenização. Por outro lado, a Rússia, no transcurso da campanha, ocupou toda a Manchúria e pressionou as autoridades chinesas para que outorgassem a cessão definitiva do citado território.
A expansão russa na Manchúria levou a Inglaterra, em 1902, a fazer um pacto com o Japão, pelo qual ambas as potências se comprometiam a proteger a “integridade territorial da China e da Coréia”. Paralelamente à referida aliança, os Estados Unidos realizaram ativas gestões para que os russos evacuassem o território manchu. Todas as negociações malograram. Em decorrência, o Japão resolveu recorrer às armas para concretizar definitivamente sua hegemonia na Manchúria e na Coréia. Na noite de 8 de fevereiro de 1904, uma esquadra japonesa atacou de surpresa Port Arthur, causando grandes baixas na frota russa ali ancorada.
No transcorrer da guerra, os japoneses conseguiram repetidas vitórias que culminaram com a conquista de Port Arthur, depois de um sítio de mais de seis meses de duração e o aniquilamento da esquadra russa na batalha de Tsushima. O czar, então, aceitou as mediações do Presidente Theodore Roosevelt e, a 23 de agosto de 1905, seus emissários firmaram o tratado de paz com os japoneses, na cidade americana de Portsmouth. Pelo tratado, a Rússia renunciava definitivamente a suas pretensões na Manchúria, cedia Port Arthur ao Japão e reconhecia a Coréia como zona de influência nipônica.
O Ocidente apóia a Japão
A Primeira Guerra Mundial assinalou um período de extraordinário desenvolvimento do poder japonês. As demandas de manufaturas dos mercados asiáticos e as grandes comparas de munições e navios mercantes efetuados pelos aliados contribuíram para converter o Japão rapidamente em uma das principais nações industrializadas do mundo. Também, em virtude da sua participação na guerra contra a Alemanha, os japoneses conseguiram distender suas possessões territoriais na China e no Pacífico, apoderando-se das colônias alemães daquelas regiões.
Em setembro de 1914, uma força japonesa de 30.000 soldados desembarcou na província chinesa de Shantung e, apoiada por pequeno contingente britânico, sitiou o porto de Tsingtao, onde os alemães haviam construído importante base naval. No mês de novembro, a guarnição se rendeu e os japoneses ficaram donos da praça. Tal ocupação deu lugar a inflamado conflito com a China.
Semanas depois da capitulação de Tsingtao, o Primeiro-Ministro do Japão, Okuma, resolveu obter o reconhecimento formal do governo chinês aos direitos do Japão sobre a praça conquistada. A 18 de janeiro de 1915, enviou às autoridades de Pequim - desde 1911, e com fundamento na revolução chefiada por Sun-Yat-sem, a China se transformara em república - um memorando contendo 21 exigências. As principais referiam-se a Shantung e à Manchúria. Pelo referido documento, a China devia aceitar a transferência, para o Japão de todas as possessões alemães em Shantung. Devia-se também estender o período de cessão da península de Kwangtung, onde se encontrava o Port Arthur, e dos direitos para a exploração de minérios, bem como a construção das vias férreas na Manchúria.
Quatro meses a China resistiu em acatar a imposição japonesa, apelando para todo tipo de manobra diplomática, enquanto o Japão aproveitou-se da demora para reforçar poderosamente suas tropas acantonadas em Shantung. Finalmente, a 25 de maio de 1915, e depois de receber um ultimato, o governo chinês assinou um tratado aceitando as reivindicações do Japão.
Simultaneamente, o governo de Tóquio, secretamente, empreendeu uma série de gestões junto às potências aliadas para obter compromisso formal de que, ao fim da guerra, apoiariam suas pretensões territoriais em Shantung e nas colônias alemães do Pacífico, ao norte da linha do Equador. A Inglaterra, a França, a Rússia e a Itália concordaram em dar aquela garantia.
Portanto, ao terminar a guerra, o Japão reclamou na conferência de paz em Paris o cumprimento do combinado. O representante chinês, todavia, objetou que se levasse em conta que o território de Shantung era parte integral da China e a ela devia ser reintegrado. A discussão prolongou-se por vários meses, sem que os chineses conseguissem fazer valer seus direitos.
A Inglaterra e a França estavam resolvidas a cumprir seus compromissos secretos e pressionaram o Presidente Woodrow Wilson para apoiar o acordo. Este, finalmente, consentiu na entrega, a fim de evitar uma crise entre seus aliados, a qual impediria a constituição da Sociedade das Nações. Sua decisão, contudo, provocou violentas críticas em seu país e foi um dos principais motivos que impulsionaram o Senado americano a não ratificar o ingresso dos Estados Unidos na referida organização internacional.
Anos de crises
Com a ocupação, pelo Japão, em 1914, das ilhas alemães do Pacífico - arquipélagos das Marshall, Marianas e Palaos - alterou-se por completo a posição de segurança estratégica das possessões americanas nas ilhas do Havaí, Wake, Guam e Filipinas. Por isso, as autoridades de Washington resolveram, terminado o conflito, destacar para o Pacífico uma frota de encouraçados, naves auxiliares, e reforçar as defesas de suas bases. Assim começou a disputa entre os Estados Unidos e o Japão naquele oceano.
A conferência celebrada em Washington em 1921/1922, por iniciativa do governo dos Estados Unidos, teve como objetivo frear a expansão japonesa na Ásia e no Pacífico. Para isso, os americanos conseguiram que a Inglaterra renunciasse a sua antiga aliança com o Japão e celebraram um acordo com os britânicos e japoneses, destinado a limitar a construção de navios de guerra. A proporção final estabelecida entre as frotas dos três países autorgou ao Japão força naval equivalente a três quintas partes das esquadras americana e inglesa.
Além disso, determinou-se suspender a construção de novas bases e fortificações nas possessões insulares do Pacífico. Os americanos, contudo, excetuaram dessas obrigações o arquipélago do Havaí, e os ingleses o porto de Cingapura. Estes dois pontos controlam, respectivamente, as saídas do tráfego marítimo japonês a este e oeste e foram posteriormente, transformados em poderosas bases navais e aéreas.
O Japão concordou em devolver Shantung à China, porém negou-se peremptoriamente restituir Port Arthur e as concessões ferroviárias na Manchúria. Finalmente, a 6 de fevereiro de 1922, firmou-se com os Estados Unidos, Inglaterra, França, China, Bélgica, Itália e Holanda um tratado pelo qual se comprometia a respeitar “a soberania, a independência e a integridade territorial e administrativa da China” e a “sustentar o princípio de igualdade de oportunidade de todas as nações para exercer a indústria e comércio em todo o território da China”. Este acordo eliminou a posição privilegiada dos japoneses conseguida na China em 1915, por suas famosas 21 demandas.
A reação dos núcleos militares e navais diante deste tratado, equivalente à renúncia do Japão a sua política de expansão, foi extremamente violenta e o Primeiro-Ministro Takahashi viu-se forçado a demitir-se. Começou, assim, o movimento de extremado nacionalismo, que não tardaria a adquirir rápido desenvolvimento.
A tremenda crise produzida em 1929 em todo o mundo, originada pela depressão econômica, teve catastróficos resultados no Japão. Inúmeras indústrias faliram e mais de 400.000 trabalhadores ficaram sem trabalho. Neste clima prosperou aceleradamente a difusão de ideologias direitistas inspiradas no fascismo, que atribuíram todos ao males aos políticos liberais e capitalistas à frente do governo. O exército, e principalmente a oficialidade jovem, converteu-se no maior baluarte do movimento.
A crise acentuou-se com a conferência celebrada em Londres em 1930, sobre o problema dos armamentos navais. O Japão pediu o estabelecimento de paridade entre sua frota e as dos Estados Unidos e Inglaterra, mas seu pedido foi negado. Esta “humilhação” desenvolveu uma nova onda de violência e aumentou o poderio dos nacionalistas. O Primeiro-Ministro Hamaguchi foi vítima de atentado e ficou gravemente ferido.
A ocupação da Manchúria
Em princípios de 1931, os dirigentes militares japoneses propiciaram a adoção de uma política forte na Manchúria, a fim de impedir a crescente influência do governo nacionalista chinês de Chiang Kai-shek sobre o referido território. A Manchúria era governada por um ditador local, o Marechal Chang Hsueh-Liang, que se declarara partidário entusiasta da política de reconstrução nacional posta em prática por Chiang Kai-shek. Portanto, para os militares japoneses seria necessário atuar rapidamente, a fim de frustrar a referida política.
Um incidente serviu de pretexto para desencadear a agressão. Na noite de 18 de setembro de 1931 uma bomba explodiu na linha ferroviária japonesa, que corre entre Port Arthur e a cidade de Mukdem, capital da Manchúria. Imediatamente, as forças japonesas encarregadas da custódia da ferrovia lançaram-se ao ataque e ocuparam as principais cidades ao sul da Manchúria. Sem esperar ordens do governo de Tóquio, o General Hayashi, chefe dos exércitos japoneses na Coréia, cruzou a fronteira e converteu o incidente em conflito de grande escala.
Sem demora, o governo chinês apelou para a Liga das Nações, porém esta limitou-se a pedir aos contendores a cessação da luta e enviou uma comissão para investigar. A China declarou o boicote na importação de mercadorias japonesas, medida que não tardou a provocar reação armada dos japoneses. Em 28 de janeiro de 1932, uma força naval comandada pelo Almirante Shirosawa desembarcou no porto de Xangai tropas de infantaria da marinha que atacaram a vizinha cidade de Chapei. Começou, assim, encarniçada e sangrenta luta em torno de Xangai, que se prolongou até o fim do mês de março. Finalmente, por mediação da Inglaterra, os japoneses foram induzidos ao armistício e reembarcaram suas tropas. Enquanto isso, na Manchúria, os japoneses apoderaram-se da cidade de Chinchow, onde o Marechal Chang Hsueh Ling instalara a sede de seu governo, depois da ocupação de Mukden. A submissão da Manchúria ficou, assim, praticamente assegurada. Em 18 de fevereiro de 1932, os japoneses proclamaram a independência da Manchúria e mais tarde a denominaram Manchukuo e a convertem num estado títere, governado pelo imperador Pu Yi, último monarca da China.
O êxito da agressão japonesa na Manchúria provocou uma crise na ordem internacional instaurada ao término da Primeira Guerra Mundial pela paz de Versalhes. A Liga das Nações, depois de longas discussões, resolveu exigir do Japão a evacuação do território manchu e negou-se a reconhecer o Estado de Manchukuo; todavia, não assumiu nenhuma medida prática para garantir o cumprimento dessas resoluções. Dessa maneira, o Japão abandonou a Liga das Nações em março de 1933 e prosseguiu sem mudar sua política agressiva. Este precedente não demoraria a ser imitado por Hitler e Mussolini.
Ataque à China
Na noite de 7 de julho de 1937, tropas japonesas travaram luta com soldados chineses na localidade de Lukochiao, nos subúrbios da cidade de Peiping. Tal incidente foi imediatamente aproveitado pelos dirigentes militares japoneses para levar adiante seus planos de conquista da China. Sem delongas, tropas da Manchúria e do Japão penetraram pelas províncias do norte da China e intimaram as autoridades locais a submeterem-se. A intimidação fracassou e deu origem ao imediato reinício das hostilidades. Em 30 de julho, forças japonesas ocuparam Peiping e prosseguiram seu avanço na direção sul.
Para enfrentar a agressão japonesa, Chiang Kai-shek dispunha de um exército numericamente superior, porém carente quase por completo de armas modernas e de uma indústria bélica capaz de abastecer as tropas empenhadas na luta. Sua força aérea dispunha de menos de 500 aviões, na sua maioria antiquados, modelos de fabricação russa e americana. Assim, o exército japonês, perfeitamente treinado e equipado com armas modernas e tanques, conseguiu levar de roldão as forças chinesas que tentaram conter sua penetração. A aviação japonesa, provida de aviões de fabricação recente, entre os quais se destacava o veloz caça Zero, conseguiu facilmente conquistar a supremacia aérea nos céus da China e submeteu suas cidades a devastadores bombardeios.
O conflito estendeu-se rapidamente para o sul. Em 13 de agosto, forças do exército, da marinha e da aviação japonesa atacaram o porto de Xangai, principal centro industrial e comercial da China. Durante três meses, os exércitos de Chiang Kai-shek ofereceram encarniçada resistência, mas, finalmente, tiveram que retirar-se e a cidade caiu nas mãos dos japoneses. Ambos os lados sofreram pesadas perdas na luta.
Conquistada Xangai, as forças encaminharam-se ao longo do rio Yangtze, na direção de Nanquim, sede do governo nacionalista, superando com suas unidades blindadas a resistência desesperada das tropas chinesas. Esquadrilhas de bombardeiros e caças japoneses apoiavam constantemente o avanço das forças de terra e submeteram Nanquim a violentos ataques. Em 13 de dezembro de 1937, a cidade foi conquistada. Chiang Kai-shek, entretanto, já havia transferido a sede de seu governo para Chungking, cidade situada no interior do país. Ali conseguiu manter-se rechaçando os ataques japoneses até o fim...
Defrontados com inesperada e inflamada resistência por parte dos chineses, os japoneses resolveram acelerar suas manobras, a fim de dar rápido término à guerra. O objetivo seguinte foi o nó ferroviário de Hankow, cuja posse permitiria cortar definitivamente as comunicações entre o norte e o sul da China. Utilizando-se de uma força de cerca de 12 divisões, em junho de 1938 iniciaram o ataque a Hankow, deslocando-se pelas duas margens do Yangtze. Uma poderosa flotilha entrou simultaneamente pelas águas do rio, a fim de apoiar a ofensiva.
O comando japonês lançou suas forças sobre Hankow, em manobra de pinça. Uma coluna avançou pelo sul, mas foi rechaçada pelos chineses, sofrendo pesadas perdas. Ao norte do Yangtze, outras duas colunas abriram passagem na direção da cidade, sustentando violentos combates. Finalmente, depois de quatro meses de luta incessante, as tropas conseguiram quebrar a resistência chinesa. A 25 de outubro Hankow foi ocupada pelos japoneses. Quatro dias antes, Cantão, importante porto do sul da China, também caíra e todo o litoral chinês foi ocupado pelos japoneses.
Essas vitórias, contudo, não causaram desânimo na vontade de Chiang Kai-shek no prosseguimento da luta até o fim. Seus exércitos, entrincheirados nas agrestes regiões do interior, impediram as tentativas dos japoneses de penetração até Chungking. Além do mais, nas zonas ocupadas organizaram-se aceleradamente forças de guerrilhas, cujos ininterruptos ataques forçaram os japoneses a dividir seus exércitos, para manter o controle dos territórios conquistados. Então, a guerra entrou numa fase de estacionamento. O Japão conseguira ocupar as principais cidades e portos da China, mas não pôde obter uma vitória definitiva...
Em 1937, ao dar-se o ataque japonês, o governo chinês apelara para a Liga das Nações em busca de auxílio. Entretanto, esta perdera toda a sua capacidade de ação e limitara-se a redigir uma simples resolução, condenando a agressão japonesa. No mês de outubro, o Presidente Roosevelt, na cidade de Chicago, pronunciou um enérgico discurso, em que anunciou a possibilidade de iniciar-se uma ação coletiva para deter a política imperialista do Japão. Suas palavras, porém, não encontraram eco na opinião pública e nos meios parlamentares, decididos a manter o país à margem de qualquer conflito bélico.
Por iniciativa da Inglaterra e aprovação do governo de Washington, os países que assinaram em 1922 o tratado que garantia a independência da China, reuniram-se, no mês de novembro de 1937, em Bruxelas, para estudar uma fórmula de pôr fim na guerra sino-japonesa. De antemão, porém, a conferência estava condenada ao fracasso. Nenhum dos países estava disposto a arriscar-se numa intervenção armada contra o Japão e, também, não desejavam pressionar o governo chinês a estabelecer um armistício, que permitisse aos japoneses conservar alguma parte dos territórios conquistados.
A reunião chegou ao fim, sem que se adotasse qualquer mediada efetiva. Desta forma, perdeu-se a última oportunidade de pôr um freio à política agressiva do Japão, que culminaria com a eclosão da guerra no Pacífico em 1941.
Os Estados Unidos enfrentam o Japão
Com a extensão das conquistas japonesas na China, a opinião pública americana tornou-se cada vez mais hostil à nação japonesa.
Os devastadores bombardeios realizados contra indefesas cidades chinesas causaram profunda impressão no povo americano.
No entanto, o governo do Presidente Roosevelt, no primeiro momento não tomou medidas concretas para conter a agressão japonesa. mas os fatos forçaram-no a sair no rastro das ambições japonesas. No dia 30 de março de 1940 Roosevelt autorizou o fornecimento de importantes créditos ao governo de Chiang Kai-shek e, seis meses depois, decretou a proibição de remessas de ferro e minério para o Japão. A crise foi aumentando. No dia 27 de setembro de 1940 o Japão firmou o pacto tripartite de aliança (Eixo Roma-Berlim-Tóquio). Este fato já não deixava dúvidas sobre as intenções japonesas. Em novembro de 1940, após ter sido reeleito pela terceira vez Presidente dos Estados Unidos, Roosevelt resolveu atuar com energia. No dia 30 desse mês anunciou que colocaria outros 100 milhões de dólares à disposição de Chiang Kai-shek e permitiu a remessa de aviões de caça para a China, juntamente com aviadores voluntários. A tensão aproximava-se, passo a passo, do seu desenlace.
Anexo
Túneis
Ao começarem as hostilidades entre China e o Japão, os aldeões chineses escavaram covas para evitar a perseguição dos japoneses e construíram porões sob suas casas. Os soldados japoneses logo descobriram seus esconderijos. Os chineses ajustaram-se à nova situação e conectaram entre si os porões das casas vizinhas, estabelecendo uma intrincada rede de túneis.
Também estes foram descobertos pelos japoneses, que os bloquearam e inundaram, obrigando, assim, os chineses a abandoná-los. Mas a paciência e o engenho do povo chinês não tinha limites.
Seu próximo passo foi conectar os túneis de uma aldeia a outra. Dessa maneira, foi construído um sistema de comunicações subterrâneas, estendendo-se ao longo de quilômetros. E ali, além do abrigo, encontraram os chineses meios de eliminar centenas de soldados japoneses. Com efeito, depois de permitir a entrada dos inimigos, os chineses fechavam as entradas e inundavam as galerias. Também, em alguns trechos, deixavam armadilhas que se fechavam atrás da colunas japonesas que se aventuravam nas profundidades. Outrossim, nas entradas faziam fogueiras, enchendo de fumaça as passagens e matavam os japoneses.
Em seguida, construíram túneis paralelos aos anteriores, com maior profundidade, onde alojavam centenas de aldeões. Depois, fizeram túneis paralelos e distanciados. Restava então só a tarefa de reconhecer também ao longe, o inimigo do amigo. Tal expediente foi simples. Bastava ver os pés. Um pé descalço ou calçado de sandália era um aldeão. Um pé calçado com bota significava soldado inimigo.
Por sua vez, os japoneses idealizaram mil e uma tramas para aniquilar os chineses ocultos nos túneis. Uma delas constituía em amarrar num porco um tubo de gás letal, molhando-o com combustível e deitando-lhe fogo. O porco, aterrorizado, corria pelo túnel. Os aldeões, porém, sanaram este perigo construindo fossas cheias de água, onde os porcos caíam.
A luta subterrânea foi terrível. Milhares de aldeões foram vítimas. Milhares de japoneses os seguiram pelo caminho da morte.
Refúgios
A cidade de Chungking foi permanentemente bombardeada e assim necessitou de grande quantidade de abrigos antiaéreos, construídos. Realmente nas colinas que a rodeavam. Não eram, precisamente, refúgios subterrâneos, mas túneis cavados nas ladeiras. Por sua localização elevada sobre o nível do terreno, as bocas de entrada estavam expostas às explosões de bombas. Assim, os túneis deviam ser perfurados atravessando toda a colina. Desse modo, a onda expansiva atravessava as duas bocas do refúgio, sem causar nenhum dano. Por outro lado, cada túnel escavado tinha a forma de um grande U, para reduzir a velocidade da onda. Caso contrário, seus ocupantes poderiam sofrer graves prejuízos.
Contudo, apesar de sua aparente segurança, os refúgios eram sumamente perigosos. As entradas eram muito pequenas (para reduzir a pressão do ar durante as explosões) e no caso de pânico eram facilmente bloqueáveis pelos que quisessem fugir dos túneis. Em muitas oportunidades, durante os bombardeios, tragédias similares produziram-se nos arredores de Chungking, provocando milhares de mortes. Sucedeu, neste caso, que ao se bloquearem as duas entradas, os que ainda se encontravam no interior do túnel pereciam por falta de ar.
Nos túneis instalavam-se bancos de madeira encostados às paredes. Lá se sentavam os habitantes de Chungking, durante o tempo em que duravam as incursões. Milhares de chineses ocupavam também o chão e qualquer outro lugar vago, aí permanecendo por 6, 7 ou 8 horas diárias.
Apesar de suas primitivas características, os túneis-refúgios contribuíram para salvar milhares de vidas. A cidade pôde, assim, resistir ao repetidos e devastadores ataques da aviação japonesa.
Não cederão...
Ao retirar-se o Japão da Liga das Nações, em 1933, depois da conquista da Manchúria, o embaixador americano em Tóquio, Joseph Grew, redigiu o seguinte relatório sobre a crítica situação:
1. Com a decisão do Gabinete japonês de afastar-se da Liga das Nações, o Japão tomou a atitude de liquidar seus laços mais importantes com o mundo exterior. Este passo representa uma derrota fundamental para os elementos moderados do país e a completa supremacia militar. Desde o começo da disputa sino-japonesa, cada atitude da Liga das nações foi aqui precedida ou sucedida por um fato consumado, de maneira que a separação entre o Japão e o Oeste e seu desprezo pela interferência ocidental em seus assuntos e naquilo que acreditam ser seus interesses vitais, podia ser claramente demonstrada. Eles não cederão à pressão moral ou de outra natureza, vinda do Oeste. A camarilha militar, e, como resultado da propaganda militar, o público, estão completamente preparados para combater antes de entregar-se. Na atualidade, o despreza moral do mundo é de uma eficácia insignificante para o Japão. Longe de servir para modificar a determinação dos japoneses só tenderia para fortalecê-la. Se o governo demonstrasse alguma inclinação para contemporizar ou transigir com a Liga das Nações, novos crimes, senão uma revolução interna, seriam o resultado quase seguro.
2. Esta atitude nacional está determinada por muitos fatores, dos quais são importantes os seguintes: (a) Os militares estão decididos a manter o seu prestígio e não permitir nenhuma interferência. (b) O elemento essencial para “salvar a cara” não permite dar um passo atrás. (c) A crença de que a Manchúria é o “salva-vida” do Japão foi cuidadosamente inculcada entre o povo. (d) As futuras dificuldades financeiras que se originarem por grandes desembolsos da campanha manchu, serão desatendidas por completo pelos militares, os quais, simplesmente, se recusam à sua competência. (e) Os japoneses são fundamentalmente incapazes de compreender o caráter sagrado das obrigações contratuais, quando tais obrigações são antagônicas ao que eles concebem ser seus próprios interesses.
3. Quanto à incursão de Jehol, tenho minhas razões para acreditar que os japoneses estão tomando especiais precauções, evitando cruzar a Grande Muralha apesar de que a campanha possa transformar-se em forma considerável mais custosa e difícil por causa dessa decisão. Pode ser imprudente, contudo, passar por alto o risco que os acontecimentos ou incidentes, agora imprevistos, podem levar à conquista de Peiping ou Tsientin, o que certamente, colocaria de imediato os interesses estrangeiros em direta oposição com o Japão. Este, seguramente, reagirá diante de qualquer altitude da Liga, no sentido de sanções ativas, mediante a rápida ocupação do Norte da China. Isto, na realidade, constitui o maior perigo latente para o futuro.
4. Por último, devemos levar em conta o fato de que um setor considerável do público e o exército japonês, influenciados por uma grande propaganda militar, acreditam que uma eventual guerra com os Estados Unidos ou com a Rússia, ou ambos, é inevitável. A máquina militar, já em alto grau de eficiência, está sendo constante e rapidamente reforçada, e sua arrogância e confiança em si mesma é completa. A Armada está, também, tomando um belicoso incremento. Com esta disposição do Exército, a Armada e o público, corre-se o risco de que qualquer incidente pode induzir o Japão a tomar atitudes radicais.
Minas
O povo chinês é velho aficionado dos fogos de artifício. Há centenas de anos atrás, as festas populares são realizadas com exibições pirotécnicas. O manejo dos explosivos, em resumo, não tem segredos para o chinês. Nada mais lógico, portanto, o seu emprego maciço na guerra contra os japoneses.
Todos os elementos ao alcance do povo são factíveis de converter-se em minas. Garrafas, louças, latas vazias, caixas de madeira e cem objetos mais converteram-se em perigosos artefatos recheados de explosivos e providos de uma simples mecha.
Começou-se minando os caminhos de acesso aos povoados. O objetivo era afastar os japoneses dos centros povoados, para evitar ataques à população civil chinesa. Depois, lentamente, foram surgindo novas técnicas e novas idéias e as minas começaram a ser usadas até sua aplicação converter-se em verdadeira arte.
Uma das mais comuns era enterrar grande número de minas dispersas em ampla zona, atravessando um caminho e, também, às margens dele. De cada mina parte uma comprida corda, que corre através de um conduto subterrâneo até o ponto onde se oculta o observador. Tão logo as tropas japonesas começam a atravessar aquela zona, o observador oculto puxa esta ou aquela corda, fazendo estalar as minas que ele decide.
Utilizam-se as minas em suas mais variadas variedades: minas que saltam, minas de tempo e minas invertidas. Esta última variedade consiste em uma mina abandonada pelo campo, como se fosse esquecida. Quando um japonês a toma, um pequeno recipiente contendo ácido sulfúrico, que se encontra no seu interior, entorna seu conteúdo e a mina explode. Tudo, desde uma cesta abandonada até uma coberta de automóvel, poderá ser uma mina.
Alarma antiaéreo
Chungking. Típica cidade chinesa, suas ruas são um fervedouro de gente, em confusa mistura de dialetos, roupas, costumes e reações. Centenas de ruelas sórdidas, povoadas por milhares de seres que parecem não alterar seus costumes diante da guerra, contornam o centro da cidade. Nos seus arredores, numerosas colinas se levantam, dominando os mais elevados tetos. É a elas que com freqüência, se dirigem os olhares de todos. Que há ali?
Chungking suporta continuamente os bombardeios da aviação japonesa. Como prevenir a população? Como organizar a defesa passiva? A velha capital carece de sirenes; as bombas não seriam ouvidas mais além do centro da cidade, tal o estrépito constante. As autoridades, então, com engenhosidade oriental, aperfeiçoaram um método que reúne a segurança, a precisão e o silêncio.
No cume das colinas erguem-se altos postes. São muito, dispostos em círculo nos arredores de Chungking. São vistos de qualquer ponto, desde o centro até aos subúrbios. Qual a sua utilidade?
Quando as autoridades chinesas tem conhecimento de que aviões japoneses partiram de suas bases, levantam uma grande bola vermelha no alto dos postes. Isto significa que devem começar a tomar precauções, mas com calma. Quando os japoneses estão aproximadamente a uma hora de vôo da capital, é içada a segunda bola vermelha. A partir desse momento, a população sabe o que deve fazer. Mediante este rudimentar, porém engenhoso sistema de alarme, os habitantes de Chungking puderam escapar do aniquilamento. Uma e outra vez, os japoneses atacaram a cidade com sua aviação, mas não conseguiram dobrar a vontade de resistência dos valorosos habitantes de Chungking.
Bombardeio em Chungking
A família avançava, lentamente, rua acima. Na frente, abrindo caminho, o pai, atrás dele, uma mulher jovem, a mãe, em seguida, os filhos pequenos e, por último, três ou quatro anciãos. Todos carregavam grandes embrulhos nas costas e até os menores arrastavam pesadas trouxas contendo roupas, panelas e outros objetos.
No fim da rua, pararam e se agruparam em torno do pai. Contemplaram silenciosamente um informe monte de madeiras queimadas e trapos de pano chamuscado. Era tudo o que restava do lar.
Não houve cenas desoladoras diante da catástrofe, nem gritos, nem prantos, nem gestos inabituais. Apenas olhavam entre si, entendendo-se sem palavras. Depois, aproximaram-se das ruínas, abrindo caminho até o centro dos despojos. Ali, depositaram os embrulhos no chão, acocorando-se ao redor. A mãe abriu uma pequena bolsa e retirou várias bolas pequenas, feitas com arroz amaçado e distribuiu-as uma a uma. O homem, os meninos e os velhos começaram a comer em silêncio.
Minutos depois, levantando-se, iniciaram a tarefa. Separando os restos, classificaram cuidadosamente os pedaços de madeiras e tecidos. Depois, com minuciosidade, começaram pela centésima vez, a erguer a vivenda. Assim, dia a dia, hora a hora, a população chinesa de Chungking afronta as conseqüências dos bombardeios japoneses.
Tudo começou a 7 de julho de 1937. Naquele dia, um incidente ocorreu nos arredores de Peiping, no qual intervieram tropas chinesas e japonesas, desencadeando uma longa guerra.
E desde então o povo das cidades chinesas espera, dia a dia, os bombardeios maciços dos japoneses. Porém, o fazem com estranha calma. Uma calma incompreensível para o temperamento europeu
Canhões de madeira
A artilharia chinesa, praticamente inexistente, recorreu a mil artifícios para poder combater o invasor. Um deles foi o canhão de madeira. Como seu nome diz, o canhão foi construído... de madeira.
A arma consiste num tronco de árvore descascado e polido de aproximadamente um metro de comprimento. No seu interior fazia-se um orifício de uns 10 cm. O tronco era reforçado na parte externa com cabos telefônicos, retirados das instalações que o inimigo colocava. A arma era carregada e disparada por um primitivo sistema que consistia em abastecê-la pela parte posterior com uma cera quantidade de pólvora e introduzir-lhe pela bica um projetil pesando uns 2 kg. Logicamente seu alcance de fogo era muito limitado, assim como sua precisão de tiro, mas cumpria seu principal objetivo. Realmente, os soldados japoneses chegaram a temer os canhões de madeira, que ocasionavam com seus disparos múltiplas dilacerações.
Ajuda americana à China
No dia 26 de julho de 1941, o governo americano tomou uma medida que significava o apoio sem vacilações nem dissimulações ao regime chinês que se defendia da agressão japonesa. Nesse dia, efetivamente, uma Missão Militar Americana foi estabelecida na China. Seu chefe era o General Magruder. Não significava, no entanto, que aquela fosse a primeira ajuda que, direta ou indiretamente os Estados Unidos prestavam à China. Com efeito, desde muito antes, no território chinês combatiam, junto com os efetivos de Chiang Kai-shek, os “Tigres Voadores”, de Chennault. Era um aviador americano nascido no Texas, em 1891, e incorporado às forças aéreas do exército americano em 1917. Entre 1925 e 1926 tinha sido comandante de um grupo no Havaí e realizado intensos estudos sobre as táticas aéreas e o emprego de tropas pára-quedistas. Ao se dar a invasão japonesa à China, Claire Lee Chennault, retirado do exército americano, ofereceu seus serviços a Chiang Kai-shek e formou, com pilotos voluntários, o grupo denominado “Tigres Voadores”. Com essa força defendeu, com êxito, a estrada da Birmânia das forças aéreas japonesas muito superiores em número. Em 1942 recebeu a nomeação de brigadeiro-general. Ficou, além disso, no comando das forças aéreas americanas na China e subiu, finalmente, em 1943, a general.
Em setembro de 1941, o governo chinês tinha a seu serviço 100 aviões Curtiss P-40, servidos por 100 pilotos americanos e 181 membros auxiliares.
Guerra no Extremo Oriente
A expansão japonesa
Navegando pelas águas encrespadas do mar da China, no dia 27 de maio de 1905, a frota russa, do Almirante Rozhestvenski aproxima-se da ilha de Tsushima, situada no estreito que separa a península da Coréia das ilhas do Japão. Ali, pronta para o combate, está a esquadra do Vice-Almirante Togo. Às 13h45 os barcos russos e japoneses estabeleceram contato e dispararam as primeiras granadas. Assim começou uma batalha decisiva.
Manobrando habilmente, Togo coloca sob fogo de seus canhões o encouraçado Osliabia, capitânia da formação russa e, em uma hora, o põe fora de combate. O Surarov, navio insígnia de Rozhestvenski, não demora a ter a mesma sorte. Os russos, entretanto, não recuam e, novamente, tentam desesperadamente abrir caminho através da insuperável muralha de navios japoneses. A batalha ganha terrível violência. Em meio das gigantescas colunas de água que se levantaram, explodem milhares de granadas e as duas frotas travam duelo mortal. Cai a noite e Togo lança ao ataque seus velozes barcos torpedeiros. Ao despontar o dia, os encouraçados e cruzadores japoneses voltam, novamente, à luta e com seus poderosos canhões destroem o restante das naves russas. A vitória de Togo é total.
Com a batalha de Tsushima termina a guerra que, desde 1904, sustentam no território da Coréia e Manchúria russos e japoneses. Foi a primeira vez, na história moderna, que um povo de raça amarela consegue derrotar uma nação ocidental. O feito surpreendeu o mundo e marcou definitivamente a ascensão do Japão na categoria das grandes potências. A partir daquele momento, os japoneses empenham-se numa empresa imperialista, cujo objetivo final é a instauração de sua hegemonia no continente asiático. Valendo-se da rivalidade entre os países ocidentais, conseguem, paulatinamente, concretizar seus propósitos e se apossam da Coréia, da Manchúria e de quase toda a China.
A explosão da Segunda Guerra Mundial ofereceu ao Japão a oportunidade de empreender a aventura final. A França e a Holanda, derrotadas pelos alemães, não podem defender suas ricas colônias asiáticas. A Inglaterra, empenhada em luta de morte com a Alemanha, tampouco está em condições de enfrentar a agressão. Resta apenas um obstáculo: os Estados Unidos. Os dirigentes japoneses decidiram, então, jogar tudo por tudo, e lançam-se à luta.
Na manhã de 7 de dezembro de 1941, aviões da frota do Almirante Nagumo atacam de surpresa a base naval de Pearl Harbor. No mastro do porta-aviões Akagi, Nagumo iça o mesmo galhardete que, 36 anos antes, ostentou a nave capitânia do Vice-Almirante Togo, durante a batalha de Tsushima.
Começa a conquista
Em 1894, o Japão entrou em guerra com o Império Chinês e, mediante uma série de repetidas vitórias navais e terrestres, conseguiu apoderar-se da Coréia e de grande parte da Manchúria. O tratado de Simonoseki pôs fim ao conflito. A China reconheceu aquelas conquistas, além de ceder as ilhas de Formosa e dos Pescadores. Dessa maneira, os japoneses conseguiram estabelecer uma cabeça-de-ponte no continente asiático e bloquearam a expansão russa no Pacífico. A reação russa não se fez esperar.
Apoiado pela França e pela Alemanha, o governo czarista forçou o Japão a abandonar os territórios conquistados na Manchúria, os quais incluíam a estratégica base de Port Arthur. A Coréia, então, declarada independente, ficou de fato sob protetorado nipônico. Como retribuição ao seu apoio, a Rússia recebeu da China autorização para construir uma ferrovia através da Manchúria, destinada a fazer a ligação com o porto de Vladivostok.
A vitoriosa agressão japonesa à China criou condições para que as potências ocidentais se apressassem a imitar seu exemplo. Em 1897, a Alemanha, usando do pretexto do assassinato de dois missionários na província de Shantung, apossou-se do porto de Kiachow e obteve do governo chinês sua cessão por 99 anos. Pouco depois, os russos apoderam-se de Port Arthur, e os britânicos ocuparam o porto de Wei-Hai-Wei.
Assim, a China converteu-se, praticamente, em terra de ninguém. Seu povo, contudo, não se resignou a aceitar passivamente a espoliação e, em 1900, levantou-se em armas contra a penetração estrangeira. Este movimento, denominado rebelião do Boxers - integrado por tropas britânicas, alemães, japonesas, americanas, francesas, austríacas e italianas - que ocupou Pequim e, depois de sustentar sangrentos combates, resgatou numerosos europeus que havia sido sitiados na cidade por quase dois meses.
As potências que intervieram na luta contra os Boxers forçaram o governo imperial a permitir o estabelecimento de guarnições militares em Pequim e ao longo da ferrovia que une esta cidade ao porto de Tsientsin. Ao mesmo tempo, impuseram à China o pagamento de 350 milhões de dólares, como indenização. Por outro lado, a Rússia, no transcurso da campanha, ocupou toda a Manchúria e pressionou as autoridades chinesas para que outorgassem a cessão definitiva do citado território.
A expansão russa na Manchúria levou a Inglaterra, em 1902, a fazer um pacto com o Japão, pelo qual ambas as potências se comprometiam a proteger a “integridade territorial da China e da Coréia”. Paralelamente à referida aliança, os Estados Unidos realizaram ativas gestões para que os russos evacuassem o território manchu. Todas as negociações malograram. Em decorrência, o Japão resolveu recorrer às armas para concretizar definitivamente sua hegemonia na Manchúria e na Coréia. Na noite de 8 de fevereiro de 1904, uma esquadra japonesa atacou de surpresa Port Arthur, causando grandes baixas na frota russa ali ancorada.
No transcorrer da guerra, os japoneses conseguiram repetidas vitórias que culminaram com a conquista de Port Arthur, depois de um sítio de mais de seis meses de duração e o aniquilamento da esquadra russa na batalha de Tsushima. O czar, então, aceitou as mediações do Presidente Theodore Roosevelt e, a 23 de agosto de 1905, seus emissários firmaram o tratado de paz com os japoneses, na cidade americana de Portsmouth. Pelo tratado, a Rússia renunciava definitivamente a suas pretensões na Manchúria, cedia Port Arthur ao Japão e reconhecia a Coréia como zona de influência nipônica.
O Ocidente apóia a Japão
A Primeira Guerra Mundial assinalou um período de extraordinário desenvolvimento do poder japonês. As demandas de manufaturas dos mercados asiáticos e as grandes comparas de munições e navios mercantes efetuados pelos aliados contribuíram para converter o Japão rapidamente em uma das principais nações industrializadas do mundo. Também, em virtude da sua participação na guerra contra a Alemanha, os japoneses conseguiram distender suas possessões territoriais na China e no Pacífico, apoderando-se das colônias alemães daquelas regiões.
Em setembro de 1914, uma força japonesa de 30.000 soldados desembarcou na província chinesa de Shantung e, apoiada por pequeno contingente britânico, sitiou o porto de Tsingtao, onde os alemães haviam construído importante base naval. No mês de novembro, a guarnição se rendeu e os japoneses ficaram donos da praça. Tal ocupação deu lugar a inflamado conflito com a China.
Semanas depois da capitulação de Tsingtao, o Primeiro-Ministro do Japão, Okuma, resolveu obter o reconhecimento formal do governo chinês aos direitos do Japão sobre a praça conquistada. A 18 de janeiro de 1915, enviou às autoridades de Pequim - desde 1911, e com fundamento na revolução chefiada por Sun-Yat-sem, a China se transformara em república - um memorando contendo 21 exigências. As principais referiam-se a Shantung e à Manchúria. Pelo referido documento, a China devia aceitar a transferência, para o Japão de todas as possessões alemães em Shantung. Devia-se também estender o período de cessão da península de Kwangtung, onde se encontrava o Port Arthur, e dos direitos para a exploração de minérios, bem como a construção das vias férreas na Manchúria.
Quatro meses a China resistiu em acatar a imposição japonesa, apelando para todo tipo de manobra diplomática, enquanto o Japão aproveitou-se da demora para reforçar poderosamente suas tropas acantonadas em Shantung. Finalmente, a 25 de maio de 1915, e depois de receber um ultimato, o governo chinês assinou um tratado aceitando as reivindicações do Japão.
Simultaneamente, o governo de Tóquio, secretamente, empreendeu uma série de gestões junto às potências aliadas para obter compromisso formal de que, ao fim da guerra, apoiariam suas pretensões territoriais em Shantung e nas colônias alemães do Pacífico, ao norte da linha do Equador. A Inglaterra, a França, a Rússia e a Itália concordaram em dar aquela garantia.
Portanto, ao terminar a guerra, o Japão reclamou na conferência de paz em Paris o cumprimento do combinado. O representante chinês, todavia, objetou que se levasse em conta que o território de Shantung era parte integral da China e a ela devia ser reintegrado. A discussão prolongou-se por vários meses, sem que os chineses conseguissem fazer valer seus direitos.
A Inglaterra e a França estavam resolvidas a cumprir seus compromissos secretos e pressionaram o Presidente Woodrow Wilson para apoiar o acordo. Este, finalmente, consentiu na entrega, a fim de evitar uma crise entre seus aliados, a qual impediria a constituição da Sociedade das Nações. Sua decisão, contudo, provocou violentas críticas em seu país e foi um dos principais motivos que impulsionaram o Senado americano a não ratificar o ingresso dos Estados Unidos na referida organização internacional.
Anos de crises
Com a ocupação, pelo Japão, em 1914, das ilhas alemães do Pacífico - arquipélagos das Marshall, Marianas e Palaos - alterou-se por completo a posição de segurança estratégica das possessões americanas nas ilhas do Havaí, Wake, Guam e Filipinas. Por isso, as autoridades de Washington resolveram, terminado o conflito, destacar para o Pacífico uma frota de encouraçados, naves auxiliares, e reforçar as defesas de suas bases. Assim começou a disputa entre os Estados Unidos e o Japão naquele oceano.
A conferência celebrada em Washington em 1921/1922, por iniciativa do governo dos Estados Unidos, teve como objetivo frear a expansão japonesa na Ásia e no Pacífico. Para isso, os americanos conseguiram que a Inglaterra renunciasse a sua antiga aliança com o Japão e celebraram um acordo com os britânicos e japoneses, destinado a limitar a construção de navios de guerra. A proporção final estabelecida entre as frotas dos três países autorgou ao Japão força naval equivalente a três quintas partes das esquadras americana e inglesa.
Além disso, determinou-se suspender a construção de novas bases e fortificações nas possessões insulares do Pacífico. Os americanos, contudo, excetuaram dessas obrigações o arquipélago do Havaí, e os ingleses o porto de Cingapura. Estes dois pontos controlam, respectivamente, as saídas do tráfego marítimo japonês a este e oeste e foram posteriormente, transformados em poderosas bases navais e aéreas.
O Japão concordou em devolver Shantung à China, porém negou-se peremptoriamente restituir Port Arthur e as concessões ferroviárias na Manchúria. Finalmente, a 6 de fevereiro de 1922, firmou-se com os Estados Unidos, Inglaterra, França, China, Bélgica, Itália e Holanda um tratado pelo qual se comprometia a respeitar “a soberania, a independência e a integridade territorial e administrativa da China” e a “sustentar o princípio de igualdade de oportunidade de todas as nações para exercer a indústria e comércio em todo o território da China”. Este acordo eliminou a posição privilegiada dos japoneses conseguida na China em 1915, por suas famosas 21 demandas.
A reação dos núcleos militares e navais diante deste tratado, equivalente à renúncia do Japão a sua política de expansão, foi extremamente violenta e o Primeiro-Ministro Takahashi viu-se forçado a demitir-se. Começou, assim, o movimento de extremado nacionalismo, que não tardaria a adquirir rápido desenvolvimento.
A tremenda crise produzida em 1929 em todo o mundo, originada pela depressão econômica, teve catastróficos resultados no Japão. Inúmeras indústrias faliram e mais de 400.000 trabalhadores ficaram sem trabalho. Neste clima prosperou aceleradamente a difusão de ideologias direitistas inspiradas no fascismo, que atribuíram todos ao males aos políticos liberais e capitalistas à frente do governo. O exército, e principalmente a oficialidade jovem, converteu-se no maior baluarte do movimento.
A crise acentuou-se com a conferência celebrada em Londres em 1930, sobre o problema dos armamentos navais. O Japão pediu o estabelecimento de paridade entre sua frota e as dos Estados Unidos e Inglaterra, mas seu pedido foi negado. Esta “humilhação” desenvolveu uma nova onda de violência e aumentou o poderio dos nacionalistas. O Primeiro-Ministro Hamaguchi foi vítima de atentado e ficou gravemente ferido.
A ocupação da Manchúria
Em princípios de 1931, os dirigentes militares japoneses propiciaram a adoção de uma política forte na Manchúria, a fim de impedir a crescente influência do governo nacionalista chinês de Chiang Kai-shek sobre o referido território. A Manchúria era governada por um ditador local, o Marechal Chang Hsueh-Liang, que se declarara partidário entusiasta da política de reconstrução nacional posta em prática por Chiang Kai-shek. Portanto, para os militares japoneses seria necessário atuar rapidamente, a fim de frustrar a referida política.
Um incidente serviu de pretexto para desencadear a agressão. Na noite de 18 de setembro de 1931 uma bomba explodiu na linha ferroviária japonesa, que corre entre Port Arthur e a cidade de Mukdem, capital da Manchúria. Imediatamente, as forças japonesas encarregadas da custódia da ferrovia lançaram-se ao ataque e ocuparam as principais cidades ao sul da Manchúria. Sem esperar ordens do governo de Tóquio, o General Hayashi, chefe dos exércitos japoneses na Coréia, cruzou a fronteira e converteu o incidente em conflito de grande escala.
Sem demora, o governo chinês apelou para a Liga das Nações, porém esta limitou-se a pedir aos contendores a cessação da luta e enviou uma comissão para investigar. A China declarou o boicote na importação de mercadorias japonesas, medida que não tardou a provocar reação armada dos japoneses. Em 28 de janeiro de 1932, uma força naval comandada pelo Almirante Shirosawa desembarcou no porto de Xangai tropas de infantaria da marinha que atacaram a vizinha cidade de Chapei. Começou, assim, encarniçada e sangrenta luta em torno de Xangai, que se prolongou até o fim do mês de março. Finalmente, por mediação da Inglaterra, os japoneses foram induzidos ao armistício e reembarcaram suas tropas. Enquanto isso, na Manchúria, os japoneses apoderaram-se da cidade de Chinchow, onde o Marechal Chang Hsueh Ling instalara a sede de seu governo, depois da ocupação de Mukden. A submissão da Manchúria ficou, assim, praticamente assegurada. Em 18 de fevereiro de 1932, os japoneses proclamaram a independência da Manchúria e mais tarde a denominaram Manchukuo e a convertem num estado títere, governado pelo imperador Pu Yi, último monarca da China.
O êxito da agressão japonesa na Manchúria provocou uma crise na ordem internacional instaurada ao término da Primeira Guerra Mundial pela paz de Versalhes. A Liga das Nações, depois de longas discussões, resolveu exigir do Japão a evacuação do território manchu e negou-se a reconhecer o Estado de Manchukuo; todavia, não assumiu nenhuma medida prática para garantir o cumprimento dessas resoluções. Dessa maneira, o Japão abandonou a Liga das Nações em março de 1933 e prosseguiu sem mudar sua política agressiva. Este precedente não demoraria a ser imitado por Hitler e Mussolini.
Ataque à China
Na noite de 7 de julho de 1937, tropas japonesas travaram luta com soldados chineses na localidade de Lukochiao, nos subúrbios da cidade de Peiping. Tal incidente foi imediatamente aproveitado pelos dirigentes militares japoneses para levar adiante seus planos de conquista da China. Sem delongas, tropas da Manchúria e do Japão penetraram pelas províncias do norte da China e intimaram as autoridades locais a submeterem-se. A intimidação fracassou e deu origem ao imediato reinício das hostilidades. Em 30 de julho, forças japonesas ocuparam Peiping e prosseguiram seu avanço na direção sul.
Para enfrentar a agressão japonesa, Chiang Kai-shek dispunha de um exército numericamente superior, porém carente quase por completo de armas modernas e de uma indústria bélica capaz de abastecer as tropas empenhadas na luta. Sua força aérea dispunha de menos de 500 aviões, na sua maioria antiquados, modelos de fabricação russa e americana. Assim, o exército japonês, perfeitamente treinado e equipado com armas modernas e tanques, conseguiu levar de roldão as forças chinesas que tentaram conter sua penetração. A aviação japonesa, provida de aviões de fabricação recente, entre os quais se destacava o veloz caça Zero, conseguiu facilmente conquistar a supremacia aérea nos céus da China e submeteu suas cidades a devastadores bombardeios.
O conflito estendeu-se rapidamente para o sul. Em 13 de agosto, forças do exército, da marinha e da aviação japonesa atacaram o porto de Xangai, principal centro industrial e comercial da China. Durante três meses, os exércitos de Chiang Kai-shek ofereceram encarniçada resistência, mas, finalmente, tiveram que retirar-se e a cidade caiu nas mãos dos japoneses. Ambos os lados sofreram pesadas perdas na luta.
Conquistada Xangai, as forças encaminharam-se ao longo do rio Yangtze, na direção de Nanquim, sede do governo nacionalista, superando com suas unidades blindadas a resistência desesperada das tropas chinesas. Esquadrilhas de bombardeiros e caças japoneses apoiavam constantemente o avanço das forças de terra e submeteram Nanquim a violentos ataques. Em 13 de dezembro de 1937, a cidade foi conquistada. Chiang Kai-shek, entretanto, já havia transferido a sede de seu governo para Chungking, cidade situada no interior do país. Ali conseguiu manter-se rechaçando os ataques japoneses até o fim...
Defrontados com inesperada e inflamada resistência por parte dos chineses, os japoneses resolveram acelerar suas manobras, a fim de dar rápido término à guerra. O objetivo seguinte foi o nó ferroviário de Hankow, cuja posse permitiria cortar definitivamente as comunicações entre o norte e o sul da China. Utilizando-se de uma força de cerca de 12 divisões, em junho de 1938 iniciaram o ataque a Hankow, deslocando-se pelas duas margens do Yangtze. Uma poderosa flotilha entrou simultaneamente pelas águas do rio, a fim de apoiar a ofensiva.
O comando japonês lançou suas forças sobre Hankow, em manobra de pinça. Uma coluna avançou pelo sul, mas foi rechaçada pelos chineses, sofrendo pesadas perdas. Ao norte do Yangtze, outras duas colunas abriram passagem na direção da cidade, sustentando violentos combates. Finalmente, depois de quatro meses de luta incessante, as tropas conseguiram quebrar a resistência chinesa. A 25 de outubro Hankow foi ocupada pelos japoneses. Quatro dias antes, Cantão, importante porto do sul da China, também caíra e todo o litoral chinês foi ocupado pelos japoneses.
Essas vitórias, contudo, não causaram desânimo na vontade de Chiang Kai-shek no prosseguimento da luta até o fim. Seus exércitos, entrincheirados nas agrestes regiões do interior, impediram as tentativas dos japoneses de penetração até Chungking. Além do mais, nas zonas ocupadas organizaram-se aceleradamente forças de guerrilhas, cujos ininterruptos ataques forçaram os japoneses a dividir seus exércitos, para manter o controle dos territórios conquistados. Então, a guerra entrou numa fase de estacionamento. O Japão conseguira ocupar as principais cidades e portos da China, mas não pôde obter uma vitória definitiva...
Em 1937, ao dar-se o ataque japonês, o governo chinês apelara para a Liga das Nações em busca de auxílio. Entretanto, esta perdera toda a sua capacidade de ação e limitara-se a redigir uma simples resolução, condenando a agressão japonesa. No mês de outubro, o Presidente Roosevelt, na cidade de Chicago, pronunciou um enérgico discurso, em que anunciou a possibilidade de iniciar-se uma ação coletiva para deter a política imperialista do Japão. Suas palavras, porém, não encontraram eco na opinião pública e nos meios parlamentares, decididos a manter o país à margem de qualquer conflito bélico.
Por iniciativa da Inglaterra e aprovação do governo de Washington, os países que assinaram em 1922 o tratado que garantia a independência da China, reuniram-se, no mês de novembro de 1937, em Bruxelas, para estudar uma fórmula de pôr fim na guerra sino-japonesa. De antemão, porém, a conferência estava condenada ao fracasso. Nenhum dos países estava disposto a arriscar-se numa intervenção armada contra o Japão e, também, não desejavam pressionar o governo chinês a estabelecer um armistício, que permitisse aos japoneses conservar alguma parte dos territórios conquistados.
A reunião chegou ao fim, sem que se adotasse qualquer mediada efetiva. Desta forma, perdeu-se a última oportunidade de pôr um freio à política agressiva do Japão, que culminaria com a eclosão da guerra no Pacífico em 1941.
Os Estados Unidos enfrentam o Japão
Com a extensão das conquistas japonesas na China, a opinião pública americana tornou-se cada vez mais hostil à nação japonesa.
Os devastadores bombardeios realizados contra indefesas cidades chinesas causaram profunda impressão no povo americano.
No entanto, o governo do Presidente Roosevelt, no primeiro momento não tomou medidas concretas para conter a agressão japonesa. mas os fatos forçaram-no a sair no rastro das ambições japonesas. No dia 30 de março de 1940 Roosevelt autorizou o fornecimento de importantes créditos ao governo de Chiang Kai-shek e, seis meses depois, decretou a proibição de remessas de ferro e minério para o Japão. A crise foi aumentando. No dia 27 de setembro de 1940 o Japão firmou o pacto tripartite de aliança (Eixo Roma-Berlim-Tóquio). Este fato já não deixava dúvidas sobre as intenções japonesas. Em novembro de 1940, após ter sido reeleito pela terceira vez Presidente dos Estados Unidos, Roosevelt resolveu atuar com energia. No dia 30 desse mês anunciou que colocaria outros 100 milhões de dólares à disposição de Chiang Kai-shek e permitiu a remessa de aviões de caça para a China, juntamente com aviadores voluntários. A tensão aproximava-se, passo a passo, do seu desenlace.
Anexo
Túneis
Ao começarem as hostilidades entre China e o Japão, os aldeões chineses escavaram covas para evitar a perseguição dos japoneses e construíram porões sob suas casas. Os soldados japoneses logo descobriram seus esconderijos. Os chineses ajustaram-se à nova situação e conectaram entre si os porões das casas vizinhas, estabelecendo uma intrincada rede de túneis.
Também estes foram descobertos pelos japoneses, que os bloquearam e inundaram, obrigando, assim, os chineses a abandoná-los. Mas a paciência e o engenho do povo chinês não tinha limites.
Seu próximo passo foi conectar os túneis de uma aldeia a outra. Dessa maneira, foi construído um sistema de comunicações subterrâneas, estendendo-se ao longo de quilômetros. E ali, além do abrigo, encontraram os chineses meios de eliminar centenas de soldados japoneses. Com efeito, depois de permitir a entrada dos inimigos, os chineses fechavam as entradas e inundavam as galerias. Também, em alguns trechos, deixavam armadilhas que se fechavam atrás da colunas japonesas que se aventuravam nas profundidades. Outrossim, nas entradas faziam fogueiras, enchendo de fumaça as passagens e matavam os japoneses.
Em seguida, construíram túneis paralelos aos anteriores, com maior profundidade, onde alojavam centenas de aldeões. Depois, fizeram túneis paralelos e distanciados. Restava então só a tarefa de reconhecer também ao longe, o inimigo do amigo. Tal expediente foi simples. Bastava ver os pés. Um pé descalço ou calçado de sandália era um aldeão. Um pé calçado com bota significava soldado inimigo.
Por sua vez, os japoneses idealizaram mil e uma tramas para aniquilar os chineses ocultos nos túneis. Uma delas constituía em amarrar num porco um tubo de gás letal, molhando-o com combustível e deitando-lhe fogo. O porco, aterrorizado, corria pelo túnel. Os aldeões, porém, sanaram este perigo construindo fossas cheias de água, onde os porcos caíam.
A luta subterrânea foi terrível. Milhares de aldeões foram vítimas. Milhares de japoneses os seguiram pelo caminho da morte.
Refúgios
A cidade de Chungking foi permanentemente bombardeada e assim necessitou de grande quantidade de abrigos antiaéreos, construídos. Realmente nas colinas que a rodeavam. Não eram, precisamente, refúgios subterrâneos, mas túneis cavados nas ladeiras. Por sua localização elevada sobre o nível do terreno, as bocas de entrada estavam expostas às explosões de bombas. Assim, os túneis deviam ser perfurados atravessando toda a colina. Desse modo, a onda expansiva atravessava as duas bocas do refúgio, sem causar nenhum dano. Por outro lado, cada túnel escavado tinha a forma de um grande U, para reduzir a velocidade da onda. Caso contrário, seus ocupantes poderiam sofrer graves prejuízos.
Contudo, apesar de sua aparente segurança, os refúgios eram sumamente perigosos. As entradas eram muito pequenas (para reduzir a pressão do ar durante as explosões) e no caso de pânico eram facilmente bloqueáveis pelos que quisessem fugir dos túneis. Em muitas oportunidades, durante os bombardeios, tragédias similares produziram-se nos arredores de Chungking, provocando milhares de mortes. Sucedeu, neste caso, que ao se bloquearem as duas entradas, os que ainda se encontravam no interior do túnel pereciam por falta de ar.
Nos túneis instalavam-se bancos de madeira encostados às paredes. Lá se sentavam os habitantes de Chungking, durante o tempo em que duravam as incursões. Milhares de chineses ocupavam também o chão e qualquer outro lugar vago, aí permanecendo por 6, 7 ou 8 horas diárias.
Apesar de suas primitivas características, os túneis-refúgios contribuíram para salvar milhares de vidas. A cidade pôde, assim, resistir ao repetidos e devastadores ataques da aviação japonesa.
Não cederão...
Ao retirar-se o Japão da Liga das Nações, em 1933, depois da conquista da Manchúria, o embaixador americano em Tóquio, Joseph Grew, redigiu o seguinte relatório sobre a crítica situação:
1. Com a decisão do Gabinete japonês de afastar-se da Liga das Nações, o Japão tomou a atitude de liquidar seus laços mais importantes com o mundo exterior. Este passo representa uma derrota fundamental para os elementos moderados do país e a completa supremacia militar. Desde o começo da disputa sino-japonesa, cada atitude da Liga das nações foi aqui precedida ou sucedida por um fato consumado, de maneira que a separação entre o Japão e o Oeste e seu desprezo pela interferência ocidental em seus assuntos e naquilo que acreditam ser seus interesses vitais, podia ser claramente demonstrada. Eles não cederão à pressão moral ou de outra natureza, vinda do Oeste. A camarilha militar, e, como resultado da propaganda militar, o público, estão completamente preparados para combater antes de entregar-se. Na atualidade, o despreza moral do mundo é de uma eficácia insignificante para o Japão. Longe de servir para modificar a determinação dos japoneses só tenderia para fortalecê-la. Se o governo demonstrasse alguma inclinação para contemporizar ou transigir com a Liga das Nações, novos crimes, senão uma revolução interna, seriam o resultado quase seguro.
2. Esta atitude nacional está determinada por muitos fatores, dos quais são importantes os seguintes: (a) Os militares estão decididos a manter o seu prestígio e não permitir nenhuma interferência. (b) O elemento essencial para “salvar a cara” não permite dar um passo atrás. (c) A crença de que a Manchúria é o “salva-vida” do Japão foi cuidadosamente inculcada entre o povo. (d) As futuras dificuldades financeiras que se originarem por grandes desembolsos da campanha manchu, serão desatendidas por completo pelos militares, os quais, simplesmente, se recusam à sua competência. (e) Os japoneses são fundamentalmente incapazes de compreender o caráter sagrado das obrigações contratuais, quando tais obrigações são antagônicas ao que eles concebem ser seus próprios interesses.
3. Quanto à incursão de Jehol, tenho minhas razões para acreditar que os japoneses estão tomando especiais precauções, evitando cruzar a Grande Muralha apesar de que a campanha possa transformar-se em forma considerável mais custosa e difícil por causa dessa decisão. Pode ser imprudente, contudo, passar por alto o risco que os acontecimentos ou incidentes, agora imprevistos, podem levar à conquista de Peiping ou Tsientin, o que certamente, colocaria de imediato os interesses estrangeiros em direta oposição com o Japão. Este, seguramente, reagirá diante de qualquer altitude da Liga, no sentido de sanções ativas, mediante a rápida ocupação do Norte da China. Isto, na realidade, constitui o maior perigo latente para o futuro.
4. Por último, devemos levar em conta o fato de que um setor considerável do público e o exército japonês, influenciados por uma grande propaganda militar, acreditam que uma eventual guerra com os Estados Unidos ou com a Rússia, ou ambos, é inevitável. A máquina militar, já em alto grau de eficiência, está sendo constante e rapidamente reforçada, e sua arrogância e confiança em si mesma é completa. A Armada está, também, tomando um belicoso incremento. Com esta disposição do Exército, a Armada e o público, corre-se o risco de que qualquer incidente pode induzir o Japão a tomar atitudes radicais.
Minas
O povo chinês é velho aficionado dos fogos de artifício. Há centenas de anos atrás, as festas populares são realizadas com exibições pirotécnicas. O manejo dos explosivos, em resumo, não tem segredos para o chinês. Nada mais lógico, portanto, o seu emprego maciço na guerra contra os japoneses.
Todos os elementos ao alcance do povo são factíveis de converter-se em minas. Garrafas, louças, latas vazias, caixas de madeira e cem objetos mais converteram-se em perigosos artefatos recheados de explosivos e providos de uma simples mecha.
Começou-se minando os caminhos de acesso aos povoados. O objetivo era afastar os japoneses dos centros povoados, para evitar ataques à população civil chinesa. Depois, lentamente, foram surgindo novas técnicas e novas idéias e as minas começaram a ser usadas até sua aplicação converter-se em verdadeira arte.
Uma das mais comuns era enterrar grande número de minas dispersas em ampla zona, atravessando um caminho e, também, às margens dele. De cada mina parte uma comprida corda, que corre através de um conduto subterrâneo até o ponto onde se oculta o observador. Tão logo as tropas japonesas começam a atravessar aquela zona, o observador oculto puxa esta ou aquela corda, fazendo estalar as minas que ele decide.
Utilizam-se as minas em suas mais variadas variedades: minas que saltam, minas de tempo e minas invertidas. Esta última variedade consiste em uma mina abandonada pelo campo, como se fosse esquecida. Quando um japonês a toma, um pequeno recipiente contendo ácido sulfúrico, que se encontra no seu interior, entorna seu conteúdo e a mina explode. Tudo, desde uma cesta abandonada até uma coberta de automóvel, poderá ser uma mina.
Alarma antiaéreo
Chungking. Típica cidade chinesa, suas ruas são um fervedouro de gente, em confusa mistura de dialetos, roupas, costumes e reações. Centenas de ruelas sórdidas, povoadas por milhares de seres que parecem não alterar seus costumes diante da guerra, contornam o centro da cidade. Nos seus arredores, numerosas colinas se levantam, dominando os mais elevados tetos. É a elas que com freqüência, se dirigem os olhares de todos. Que há ali?
Chungking suporta continuamente os bombardeios da aviação japonesa. Como prevenir a população? Como organizar a defesa passiva? A velha capital carece de sirenes; as bombas não seriam ouvidas mais além do centro da cidade, tal o estrépito constante. As autoridades, então, com engenhosidade oriental, aperfeiçoaram um método que reúne a segurança, a precisão e o silêncio.
No cume das colinas erguem-se altos postes. São muito, dispostos em círculo nos arredores de Chungking. São vistos de qualquer ponto, desde o centro até aos subúrbios. Qual a sua utilidade?
Quando as autoridades chinesas tem conhecimento de que aviões japoneses partiram de suas bases, levantam uma grande bola vermelha no alto dos postes. Isto significa que devem começar a tomar precauções, mas com calma. Quando os japoneses estão aproximadamente a uma hora de vôo da capital, é içada a segunda bola vermelha. A partir desse momento, a população sabe o que deve fazer. Mediante este rudimentar, porém engenhoso sistema de alarme, os habitantes de Chungking puderam escapar do aniquilamento. Uma e outra vez, os japoneses atacaram a cidade com sua aviação, mas não conseguiram dobrar a vontade de resistência dos valorosos habitantes de Chungking.
Bombardeio em Chungking
A família avançava, lentamente, rua acima. Na frente, abrindo caminho, o pai, atrás dele, uma mulher jovem, a mãe, em seguida, os filhos pequenos e, por último, três ou quatro anciãos. Todos carregavam grandes embrulhos nas costas e até os menores arrastavam pesadas trouxas contendo roupas, panelas e outros objetos.
No fim da rua, pararam e se agruparam em torno do pai. Contemplaram silenciosamente um informe monte de madeiras queimadas e trapos de pano chamuscado. Era tudo o que restava do lar.
Não houve cenas desoladoras diante da catástrofe, nem gritos, nem prantos, nem gestos inabituais. Apenas olhavam entre si, entendendo-se sem palavras. Depois, aproximaram-se das ruínas, abrindo caminho até o centro dos despojos. Ali, depositaram os embrulhos no chão, acocorando-se ao redor. A mãe abriu uma pequena bolsa e retirou várias bolas pequenas, feitas com arroz amaçado e distribuiu-as uma a uma. O homem, os meninos e os velhos começaram a comer em silêncio.
Minutos depois, levantando-se, iniciaram a tarefa. Separando os restos, classificaram cuidadosamente os pedaços de madeiras e tecidos. Depois, com minuciosidade, começaram pela centésima vez, a erguer a vivenda. Assim, dia a dia, hora a hora, a população chinesa de Chungking afronta as conseqüências dos bombardeios japoneses.
Tudo começou a 7 de julho de 1937. Naquele dia, um incidente ocorreu nos arredores de Peiping, no qual intervieram tropas chinesas e japonesas, desencadeando uma longa guerra.
E desde então o povo das cidades chinesas espera, dia a dia, os bombardeios maciços dos japoneses. Porém, o fazem com estranha calma. Uma calma incompreensível para o temperamento europeu
Canhões de madeira
A artilharia chinesa, praticamente inexistente, recorreu a mil artifícios para poder combater o invasor. Um deles foi o canhão de madeira. Como seu nome diz, o canhão foi construído... de madeira.
A arma consiste num tronco de árvore descascado e polido de aproximadamente um metro de comprimento. No seu interior fazia-se um orifício de uns 10 cm. O tronco era reforçado na parte externa com cabos telefônicos, retirados das instalações que o inimigo colocava. A arma era carregada e disparada por um primitivo sistema que consistia em abastecê-la pela parte posterior com uma cera quantidade de pólvora e introduzir-lhe pela bica um projetil pesando uns 2 kg. Logicamente seu alcance de fogo era muito limitado, assim como sua precisão de tiro, mas cumpria seu principal objetivo. Realmente, os soldados japoneses chegaram a temer os canhões de madeira, que ocasionavam com seus disparos múltiplas dilacerações.
Ajuda americana à China
No dia 26 de julho de 1941, o governo americano tomou uma medida que significava o apoio sem vacilações nem dissimulações ao regime chinês que se defendia da agressão japonesa. Nesse dia, efetivamente, uma Missão Militar Americana foi estabelecida na China. Seu chefe era o General Magruder. Não significava, no entanto, que aquela fosse a primeira ajuda que, direta ou indiretamente os Estados Unidos prestavam à China. Com efeito, desde muito antes, no território chinês combatiam, junto com os efetivos de Chiang Kai-shek, os “Tigres Voadores”, de Chennault. Era um aviador americano nascido no Texas, em 1891, e incorporado às forças aéreas do exército americano em 1917. Entre 1925 e 1926 tinha sido comandante de um grupo no Havaí e realizado intensos estudos sobre as táticas aéreas e o emprego de tropas pára-quedistas. Ao se dar a invasão japonesa à China, Claire Lee Chennault, retirado do exército americano, ofereceu seus serviços a Chiang Kai-shek e formou, com pilotos voluntários, o grupo denominado “Tigres Voadores”. Com essa força defendeu, com êxito, a estrada da Birmânia das forças aéreas japonesas muito superiores em número. Em 1942 recebeu a nomeação de brigadeiro-general. Ficou, além disso, no comando das forças aéreas americanas na China e subiu, finalmente, em 1943, a general.
Em setembro de 1941, o governo chinês tinha a seu serviço 100 aviões Curtiss P-40, servidos por 100 pilotos americanos e 181 membros auxiliares.
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